quinta-feira, 13 de outubro de 2011

REFLEXÃO A PARTIR DO SALMO 88


1.     O Salmo 88 é o mais triste dentre os Salmos do Saltério.

2.     Há uma descrição de calamidades com que o salmista se defronta (1-9).               É precedida de uma prece tocante ao Senhor (1,2), já uma afirmação de fé.
a)    A alma do salmista está farta de males (3).
b)    Sua vida está beirando a morte (4).
c)     Homem sem força, contado entre os mortos, vida deslembrada porque já não “existia”...; arremessada aos lugares tenebrosos, os abismos impenetráveis (4-6).
d)    Sob o peso da ira divina. A sensação é a de ser abatido por ondas imensas, gigantescas, invencíveis (7).
e)    Sensação de isolamento; feito objeto de abominação para seus conhecidos; como numa prisão indevassável, sem chance de sair (8)
f)      Olhos desfalecidos pela aflição, mesmo em meio a clamores diários e mãos levantadas ao Senhor (9).

3.     A situação de crise representa uma ameaça à vida do salmista (10-13). Suscita sérias dúvidas em sua mente.
a)    Há, porventura, prodígios aos mortos, ou louvor nos lábios dos finados; porventura se levantarão para louvar? (10).
b)    Faz sentido falar-se de bondade na sepultura ou fidelidade nos abismos? Outra forma de questionar: misericórdia e socorro, se já não há vida? (11). Era assim, num estado de prostração irreversível e absoluta, que o salmista jazia.
c)     Há possibilidade de manifestação de maravilhas em densas trevas, e justiça, numa terra onde predominava o esquecimento? (12).
d)    O salmista recobra a consciência e se antecipa a cada manhã, clamando ao Senhor (13). Há sempre uma via de esperança para quem confia no Senhor (Cf. Hb 11.1).

4.     O salmista expressa sua consternação frente aos acontecimentos de sua existência (14-18).
a)    Consterna a sensação de rejeição da alma pelo Senhor; o não ver o rosto santo (14). Estado de alma conturbado por esse sentimento.
b)    Intensa aflição parece levá-lo ao fim (...), e isto vem de longe, desde moço, como se já não recordasse as bênçãos do passado... Desorientado, vê tudo como pesado terror (15).
c)     Sente-se finado sob as iras e os terrores do Senhor, que o rodeiam como águas contínuas, circundantes (16, 17).
d)    Novamente a figura da solidão – tudo parece imergir em densas trevas (18). É como que privado de uma visão clara de vida e de mundo...
2

REFLEXÕES
1.     A vida, por vezes, parece precipitar-nos num abismo profundo, e já não há mais cânticos alegres em nossos lábios, exultação em nossa alma        (Ver Salmo 137).
2.     As calamidades que desfilam, sobranceiras, ante os nossos olhos e, hoje, parecem tornar-se uma rotina, geram desapontamentos em nossa alma, trazendo a sensação de que tudo acabou: a alegria virou tristeza, a luz se fez trevas, as companhias se foram, a paz converteu-se em aflição, a esperança diluiu-se, a vida descambou na morte.
3.     Mais que essas diluições existenciais; mais que a sensação niilista (espírito destrutivo em relação ao mundo e a si próprio) de que somos tomados; mais que a degeneração de sonhos, aspirações, coragem para utilizar a vontade como garantia de uma conduta coerente com a elevação do espírito, o refinamento do espírito; pesa sobre nós, humanos, pequenos, a sensação de abandono pelo próprio Deus – o Deus da nossa vida!
4.     É aí que, muitas vezes, falar-se de grandeza, de elevação espiritual, de paz, harmonia, benquerença, de decência e honradez, parece não fazer sentido. Esses desapontamentos afetaram o rei Davi, derramados que foram, por exemplo, nos Salmos 37 e 73, e igualmente nos afetam, a nós, hoje, que vivemos as circunstâncias e as vicissitudes naturais da vida. Similitudes humanas perpassam todas as gerações.
5.     Somos igualmente afetados pelo simples fato de sermos humanos. “Eu sou homem e nada do que é humano me é indiferente” (“Homo sum, et nihil humani a me alienum puto”) – Terêncio, poeta latino. 
6.     Mas mesmo neste Salmo 88 – um extravasamento de queixumes, de lamúrias –, do mais recôndito da alma crente, deixa-se escapar um fio de esperança.
·       Verso 1 – “Ó Senhor, Deus da minha salvação, dia e noite clamo diante
                 de ti”. Enquanto pudermos afirmar que o Senhor é o Deus da
                 nossa  salvação,  afirmar-se-á  a  salvação,  porque  Deus   é
                 imutável.
·       Verso 2 –  “Chegue  à tua  presença  a  minha  oração...”   Também   se
                 afirma que Deus se inclina para nos ouvir   é  um  gesto  de  
                 sua misericórdia.
·       Verso 9 –  Mesmo em  meio  a  circunstâncias  adversas,    sempre  a
                 possibilidade de clamores  diários  e  levantamento  de  mãos
                 perante o Senhor.
·       Verso 13 – “Mas eu, Senhor, clamo a ti por socorro, e antemanhã    se 
                  antecipa diante de ti a minha oração”.
3
7.     Nada há neste mundo, e nesta vida, que nos possa separar do amor de Deus, afirma, enfático, o Apóstolo Paulo (Rm 8.31-39).
8.     Outro salmista, Davi (Salmo 139) – numa solene e eloquente alusão à inseparabilidade de Deus do seu povo:

·       Verso 1 – Ele nos sonda e nos conhece.
·       Verso 2 – Ele vê quando nos assentamos e nos levantamos (segue  os
                nossos movimentos) e de longe penetra o nosso pensamento.
·       Verso 3 – Esquadrinha (vê) o nosso deitar, nosso levantar e conhece os
                nossos caminhos.
·       Verso 4 – Conhece as nossas palavras, antes mesmo de serem por nós
·                       articuladas.
·       Verso 5 – Cerca-nos por inteiro e nos cobre com sua mão.
·       Versos 7-12 – Contempla-nos onde estivermos.
·       Versos 15, 16 – Viu-nos quando nem éramos... (informes).
·       Versos 23, 24 – Uma oração que todos deveríamos sempre fazer:

Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração,                                                prova-me e conhece os meus pensamentos;                                                         vê se há em mim algum caminho mau                                                                     e guia-me pelo caminho eterno.


          É absolutamente certo que com esses recursos todas as tensões da vida podem ser satisfatoriamente superadas.

A minha graça te basta...” (2Co 12.9a)

Nenhum comentário:

Postar um comentário