quinta-feira, 13 de outubro de 2011

EXPERIÊNCIA DE HABACUQUE

EXPERIÊNCIA DE HABACUQUE
SOB INVASÃO DOS CALDEUS
E EM TEMPO DE CRISE NO CAMPO




Ainda que a  figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco e nos currais não haja gado, todavia eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação. O Senhor é a minha fortaleza, e faz os meus pés como os da corça, e me faz andar altaneiramente.
    (Hc 3.17-19)




          Bem haja quem se aperceba de parábolas no Antigo Testamento. Figuras da vida campestre, situações corriqueiras da experiência rural, vicissitudes dessa vida pacata da solidão no campo ou do frenético dia a dia das cidades, fazem um elenco encantador, nesse compasso de espera, de quem olha a figueira e nela não vê frutos (figos); não vê na oliveira – Ah, nas oliveiras!... –, seu fruto-verdade (azeitona); recolhem-se os campos de sua produção (trigo); ovelhas arrebatadas do seu aprisco (não há carne) e os currais vazios de gado (não há leite).
          A diversidade..., Adversidades!...
          O inimigo audacioso, caldeu, caudaloso... – o assédio do mau, este, sim, arrebatador, porque põe fim às últimas possibilidades.
          Ah, nem tudo, porém, nessa condição transitória do humano, traduz uma fatalidade existencial, mas tudo se funde numa perspectiva nova. É transitório o que nos remete ao Absoluto.
          Há um silêncio no campo, silêncio do nada, que é nada, que diz nada, silêncio que somos nós, desapontados, entrelaçados com o já-não, o ainda-não, o talvez-não – intervalo de meditação e busca de quem duvida, mas que é petição de mais certeza. É um fim que traz o domínio do novo.

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          Ah, nessas horas de aparente desmazelo, tem-se o melhor ensejo de um olhar reflexo, olhar de ver o que-como-quem somos, e reafirmar-nos como filhos de Deus, e é isso que, de fato, somos. Aleluia! Cada vez que somos nós mesmos, nos reafirmamos no melhor que temos, ainda que não haja fruto na vide, verdade na oliveira, produção no campo, ovelhas no aprisco e gado no curral.
          Ainda que..., “todavia eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação”. Desespero, inconformismo? Não. Fé!
          Quem há que padeça, a quem Ele não socorra?, mas quem há que se arrogue autossuficiência, que não se finde no próprio desapontamento?
          Quem há que sobreleve o próprio eu e não se imiscua na própria finidade?, mas quem há que ouse ancorar-se no Altíssimo, que não descanse à sombra do Onipotente?
          Quem há que nesta vida fugaz não haja exclamado, doendo, ante o  irremediável?, mas quem há que não se recrudesça na esperança dessa dialética do humano com o Divino – “Ainda que...”; “Todavia eu...”?
          Afinal, “O Senhor Deus é a minha fortaleza, e faz os meus pés como os da corça, e me faz andar altaneiramente”.
          Desespero? Não. Fé!
          Deus está conosco –
·       Não temeremos o mal (Sl 23).
·       Ainda que tudo se transtorne (Sl 46).
·       Mesmo no abandono dos pais (Sl 27).
·       Mesmo que os céus se pejem de nuvens e se turvem todos os horizontes.
·       Mesmo que a solidão atrofie e desumanize.
Ele é a porta que se abre, e tudo novamente se descortina antes os olhos, e
tudo novamente se exalçará.
          Agora, passadas que são naturais intercorrências deste humano existir – passadas ou passantes –, podemos subir com Deus e com o profeta aos lugares altos, onde o inimigo não chega e o ar é mais puro. São  os  lugares  altos,  de  visão
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mais ampla – ver o mais que o Senhor nos dá. Lá só é possível chegar pela fé, sublime fé só adquirida a um alto preço. “As paisagens mais elevadas esperam pelos que desejam escalar o cume das montanhas”.
          O profeta descobriu que o Deus de Israel não é apático, estático, deslembrado. Ele nos leva a culminâncias em Jesus Cristo. E não é esta a graça divina metaforizada nos ditos do profeta? Se o Senhor chega antes, resulta que nenhum de nossos passos será inseguro. Se vacilam os nossos pés, é porque caminhamos para baixo. Se se firmam, é porque vamos com Ele para o alto.
          Sob esta ótica, “Ainda que...”, “Todavia...”, podemos exultar: Deus é a nossa salvação – aqui, e até lá.

         
         
                                       

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