sábado, 1 de outubro de 2011

FAZER BEM PARA TER SEMPRE



          Lembro um velho mestre (enquanto escrevo celebra-se o dia do professor) dos nossos bons tempos de seminário. Professor de muitas coisas, muitas lições de vida; às vezes, “professor de entusiasmo”, como se catalogava Olavo Bilac, famoso poeta parnasiano. Pastor, escritor, poliglota, hebraísta, missiólogo, historiador, “homileta” (especialista em homilética) – uma enciclopédia ambulante, destas em que se pode consultar sobre quase tudo...
          Dizer-lhe o nome traz melancolia, pela forma inusitada como terminou seus dias. Contraditoriamente (sempre fez, e bem, o que fez), terminou dependente, esquecido, num como ostracismo que nos constrange e nos envergonha. Omito-lhe o nome, pois. Não vem a propósito dizê-lo. Basta a lição. O mestre não faz questão de aparecer; ele se embute nos discípulos. Pensou tanto nos outros que esqueceu de si; apenas deu-se, e dele se esqueceram...
          Porque referi-lo aqui? Por uma razão simples: numa de suas memoráveis aulas ensinou que seus alunos deveriam preparar da melhor forma possível cada sermão, porque, entre outras coisas, tê-los-iam de boa qualidade em qualquer ocasião. Pessoalmente, não consegui pôr em prática esta lição. Fluem-me sempre novas idéias a partir de um mesmo texto, sempre que o consulto. A Bíblia é inesgotável! – “Ó profundidade das riquezas..., sabedoria..., ciência..., juízos insondáveis, caminhos inescrutáveis...” (Rm 11.33-35).
          A lição, contudo, ficou-me: fazer bem para ter sempre. Ótima indicação de conduta, para quem tem compromisso ético com o todo da vida. Ademais, quem se preocupa em fazer sempre o melhor nunca terá de que se arrepender. Os relapsos, entretanto, decerto ficarão, ao longo da caminhada da vida, encobertos na poeira de sua inferior construção.
          A rigor, o tempo não passa para o que tem valor permanente. O tempo que se  realiza ou em que se constrói, não é o tempo que passa... Isto talvez explique a atualidade do tempo que passou. Vemo-lo passar na cronologia; todavia, não no sentido que dele carregamos, como subsídio para o hoje e para o sempre.
          O que se faz bem permanece, seu valor subsiste diante do que se faz para simples e ocasional consumo. Os modismos passam com as estações..., com o carreirismo de ocasião a que muitos “líderes” se apegam, até por uma questão de sobrevivência, quando não de esperteza.
          Fazer bem para ter sempre? Já não pensamos em posse; então, fazer bem para ser sempre. Aí é que podemos enveredar pelo caminho dos valores cristãos. Estes hão de permanecer, como para mim e entre nós permanecem as lições do velho e inesquecível mestre.
Está fazendo falta!

Nenhum comentário:

Postar um comentário