terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Você conhece alguém que precisa ir ao Deserto? (Ito Siqueira)


Normalmente quando ouvimos a palavra Deserto imediatamente nos remetemos a algo seco, sem vida, isolado de tudo e todos... um lugar de sofrimento.  Conforme está escrito em Lucas 4:1-2 “Jesus, pois, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e era levado pelo Espírito no deserto, durante quarenta dias, sendo tentado pelo Diabo. E naqueles dias não comeu coisa alguma e terminados eles, teve fome.”

Jesus, logo após ter sido batizado foi levado pelo Espírito ao Deserto. Às vezes pensamos no Deserto como um lugar onde temos que ir quando estamos com as “baterias descarregadas”, ou quando fazemos algo de errado e somos levados ao deserto como um castigo. Jesus foi conduzido ao Deserto pelo Espírito e a Palavra revela que ele estava cheio do Espírito.

O Deserto é um lugar onde buscamos ouvir os ensinamentos do Senhor, mesmo quando tudo vai bem. Muitas vezes pensamos que o Diabo vai nos tentar se não estivermos na Presença de Deus, se nos afastarmos dos Caminhos do Senhor. Na verdade quem está afastado do Senhor não faz parte das investidas do Diabo.

Quanto mais fortes e próximos da Santa Presença de Deus, maiores serão as tentativas do Diabo contra nossa vida. A maior prova disso foi a ação do Diabo em tentar induzir Jesus a cometer um pecado. O Diabo teve a petulância, a ousadia de provocar o próprio filho de Deus, porque não fará de tudo para nos afastar dos caminhos do Pai?

Quem de nós, tendo fome, e tendo poderes, não transformaria pedras em pães? Jesus resistiu. Mesmo quando estamos fortes no Senhor podemos apresentar fraquezas, e é justamente nessas fraquezas que o Diabo vai atacar. Quando nos fortalecemos espiritualmente pensamos que os ataques do inimigo virão nessa área, mas o Diabo é sutil e ataca em áreas que não estão relacionadas com a vida espiritual. 
Jesus teve fome, como todo ser humano, após 40 dias sem o alimento, o corpo solicitou reforço. Sentir fome é um estado que aproxima a pessoa de Jesus, a nós, meros mortais. Jesus veio ao mundo como homem, ser humano. A busca pelo fortalecimento no Deserto é a prova disso. Ele estava cheio do Espírito e foi fortalecer-se no Deserto, essa deve ser a nossa prática. Erramos por acharmos que estamos plenos, cheios do Espírito, que não precisamos entrar no Deserto.

O Deserto é um lugar de fortalecimento, saímos mais fortes do Deserto, mas podemos deixar brechas em áreas de nossas vidas e é nelas que o Diabo ataca. Pode ser uma doença na família, uma necessidade financeira, um sonho não realizado... qualquer coisa que desvie do foco da Vontade de Deus. Jesus estava se preparando no Deserto para iniciar seu ministério na terra, naquele momento as necessidades pessoais eram segundo plano. Apesar de Jesus ter saído com uma fraqueza do Deserto, Ele estava forte o suficiente para conviver com a fraqueza durante a sua tentação. O Deserto é um lugar de renovação das forças.

Para onde leva o Deserto? Encontro, esse deve ser o propósito do Deserto. No Deserto deve-se estar, sempre a sós, nunca sozinho. O objetivo no Deserto é estar na presença de Deus. Você conhece alguém que precisa ir ao Deserto? Espero que, nesse momento, você esteja de frente ao espelho e possa olhar nos seus próprios olhos e responda: EU!

Lembre-se de que, como afirma Paulo, “o poder se aperfeiçoa na fraqueza”, de tal forma que “quando sou fraco então é que sou forte (2Co 12:9 e10). Passe pelo Deserto e renove suas forças em Cristo.

Ito Siqueira

itosiqueira@hotmail.com

http://itonasmaosdedeus.blogspot.com.br/2015/11/voce-conhece-alguem-que-precisa-ir-ao.html 

domingo, 27 de dezembro de 2015

Áudio - Pr. Válter Sales: A vida passa


O QUE É BOM PARA O REINO (Pr. Sérgio Dusilek)


Tenho ficado surpreso com a miopia espiritual de “respeitados líderes”. Gente boa que prega a Palavra de Deus, mas que tem uma visão distorcida do que é Reino de Deus. Gente que mistura conceitos como instituição terrena e Reino. Gente que unifica coisas absolutamente distintas, que se tocam, mas que mantém sua singularidade. 

Pois é justamente na hora do flagrante, da exposição midiática  que essa miopia se manifesta. Segundo esses lideres bom para o Reino é que não aconteça nenhuma divulgação na imprensa das vísceras de comportamentos chocantes até mesmo para a sociedade secular. Bom para esse tipo de liderança é manter as coisas contidas do lado de dentro, como se alguém que fosse legitimamente do Reino pudesse aguentar conviver com algo tão mau cheiroso. É por isso que algumas igrejas (falo aqui como instituições) se tornaram “arcas de Noé” : as pessoas só ficam com o mau cheiro de dentro por causa do medo da morte que há do lado de fora. Ora, o que choca o mundo pervertido não deveria também causar espécie no ambiente sacro-santo da igreja? Por que então acobertar ou fingir que o problema não existe?

Bom para o Reino é o que está ligado a Verdade, Luz e Justiça. O que é injusto, que fica velado por medo de “escândalo”, acaba segundo os critérios do próprio Reino, se tornando mais escandoloso ainda. Péssimo para o Reino é quando uma mentira passa a ser tolerada ou até mesmo veiculada para que haja  acobertamento do erro. O Novo Testamento mesmo assevera por diversas vezes (Mt.12, I Cor.4) que as coisas encobertas serão reveladas. No entendimento dos Inspirados autores, a Luz provoca manifestação e não ocultação. Significa dizer que a LUZ do Senhor não deve ficar escondida, sob as trevas (Mt.5:12; I Joao 1:5; Joao 9), até mesmo porque onde há trevas  não brilha a Luz do Senhor. A Luz do Senhor não pode ser contida.

Outro erro que se comete, em nome do que é bom para o Reino relaciona-se a uma confusão conceitual.  O escândalo não é a exposição. Ele ocorre, isso sim, antes da mostra pública. Escândalo  é algo triste, mas inevitável segundo o próprio Jesus (Mt.18.7). Por isso é que a falta de exposição de um escândalo não faz com que ele deixe de existir. Pelo contrário! Pode ser que ele persista e que o motivo do erro ganhe novos contornos e alcance novas vítimas. É duro dizer e constatar, mas alguns problemas só são resolvidos quando as vísceras ficam à mostra. Algumas mentes perniciosas, alguns indivíduos perversos só param uma vez descobertos e expostos. Só buscam ajuda, tratamento e correção uma vez que são indiscutivelmente pegos. Nesse sentido a exposição faz bem ao Reino de Deus pois joga LUZ sobre o pecado.

Postulo aqui, portanto, que não é a ausência de mídia numa situação que traz benefício. A grande mídia do  mundo antigo, a Palavra de Deus, sempre expôs os erros dos grandes heróis da fé. Verdade é que temos de lutar para viver de modo correto, sem provocar escândalo, conquanto saibamos que eles virão. E quando vierem, se tiverem de ser expostos, que sejam. Se esse é o tratamento de Deus para uma situação, que receba toda a dose do céu. O medo que temos de ter não é da imprensa; nosso pavor deve ser do pecado, do erro. Alias John Wesley já dizia que se dessem a ele 100 pessoas que não temessem nada mais que o pecado e que não amassem nada mais a Palavra de Deus, que ele mudaria o mundo. 

Bom para o Reino, enfim, é tudo aquilo que tem a ver com o caráter de Deus. Esconder, ocultar o pecado (pessoal ou alheio – Sl.51; I Cor.5) nada tem a ver com Jesus. Ele tratou de pecadores. Ele os curou e salvou. Leia os evangelhos e veja como a Graça de Deus se manifestou na vida das pessoas. Mas aos hipócritas (gente que camuflava os seus erros) nada pôde fazer. Por isso, não tenha medo de imprensa meu caro líder. Deixe rolar, se tiver que aparecer. Tenha, isso sim, pavor de deixar viver a Verdade, a Justiça e a Luz do Reino. Bom para o Reino é viver o caráter de Cristo.

Abração,

Pr.Sergio Dusilek


Filed under: Liderança,Teologia — sdusilek @ 11:46 am  19/10/2010

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sábado, 19 de dezembro de 2015

Marchem!




                                                                       Por que clamas a mim? Ordena aos filhos
                                                                       de Israel que marchem. (Êx 14.15).

           
Uma súplica num momento grave, seguida de uma resposta precisa – o afã  divino para a nossa vida –, numa circunstância difícil, dessas para as quais só Deus tem a solução. A exortação é seguida de uma promessa do Divino: “O Senhor guerreará por vós. Por isso, acalmai-vos” (14). Interessante a versão bíblica King James, de 1611, tradução atualizada em 2002, que grafa: “Por que clamas por mim? Dize aos filhos de Israel que marchem avante!”. Lembra-me minha mãe, D. Maria Siqueira, uma senhora simples e de porte grave, do alto de seus 92 anos, que costumava dizer: “Meu filho, pra frente é que se anda!”.  Na BKJ, o verso 14 traz um significativo acréscimo: “... acalmai-vos e ficai calados!”. Em nossa relação com o Absoluto, parece claro que o silêncio é melhor indicador de boa postura que uma falação desenfreada, por vezes inconsequente. Da sabedoria de Salomão inferimos que “há tempo de ficar calado e tempo de falar” (Ec 3.7). Enquanto Deus peleja por nós, é tempo de ficar calado. Tempo de ouvir. A voz do Senhor é poderosa, cheia de majestade, diz o belo Salmo 29, verso 4, da lavra do mavioso cantor Davi. Ouvi-la sempre é o que devemos fazer, sob sua égide e em plena sintonia com Ele, para que a comunicação se faça de todo e em tudo.

A passagem pelo Mar Vermelho é a travessia da condição de uma escravidão quadricentenária para uma nova condição, não só de liberdade, mas de uma existência nova, com implicações e exigências bem peculiares a um filho de Deus, que deve saber onde deverá pôr o pé. Não é natural pensar-se numa relação especial com Deus sem uma travessia radical na vida. Israel migrou de uma civilização bem sólida e antiga para uma experiência no deserto. Deserto de tudo, menos da liderança de Moisés e da presença de Deus. Tudo é novo! Há um ineditismo por vezes chocante e desafiador. Não há habitação, nem pão, nem água e, para alguns, nem mesmo sepulturas que acomodassem sua perspectiva de morte iminente.

Para Deus, entretanto, e que se tornou real na peregrinação israelita, o inédito não é desprovido do novo; nem na perspectiva do Eterno há novo e velho: tudo se faz um presente eterno. O tudo é o sempre. O pão vem do céu. A água brota de uma rocha.  O deserto é pleno de tudo. Dele brota e nele se nutre a esperança. O deserto traduz a presença de Deus. O deserto é a voz providencial do Todo-Poderoso.

Prefigurações indesconfiáveis! O pão, mais que o maná que perecia ao final do dia, é eterno – “Eu sou o pão da vida; quem vem a mim jamais terá fome...”      (Jo 6.35). Há notável alcance nas palavras do Cristo. Ao tempo em que fala de pão, fala igualmente de água – “... e quem crê em mim jamais terá sede”. Há um todo embutido na pessoa de Jesus e em suas palavras – pão e água se complementam, pois que são a mesma vida. Bem asseverou o Apóstolo Paulo, em Cl 3.11, ressalvando-se os desvios interpretativos, que “Cristo é tudo em todos”. Em Cristo todas as barreiras são vencidas. As águas de Meribá, em Refidim, conquanto jorrassem de forma abundante e sempre, seriam nada mais que matéria líquida; mas seriam, também, eloquente figura daquele que disse: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é o que te diz: Dá-me um pouco de água, tu lhe pedirias e ele te daria água viva (...) Quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede (...) ela se tornará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna” (Jo 4.10, 14).

E a rocha? Esta é Cristo mesmo, simbolicamente Cristo, mais que aquele bloco sólido do deserto, sujeito a mutações naturais e ao peso irrefragável do tempo a impor-lhe alterações e, até, a extinção. Feri-la, como o fez o indignado Moisés, equivale a ferir a face do Cristo de Deus, como (e quão grave é isso!), no deserto, as tábuas da Lei, arremessadas sobre o bezerro de ouro, podem indicar que a Lei fora, antes, quebrada no coração do povo. O Cordeiro de Deus seria demolido na ignominiosa cruz, aos olhos de seus algozes. Mas só a essa percepção. Não como projeto eterno do Senhor e aos olhos da genuína fé. Cristo, a Rocha, é eterno.

As tempestades do deserto são avassaladoras, no deserto; não em nossa vida, que, por vezes, assume perfis desérticos. No deserto, Deus estava com o povo. Na vida, Deus está conosco. O deserto não é desesperador quando sabemos que Deus está conosco. Nem ainda as turbulências da saída do Egito, as idas e vindas faraônicas, a confrontação tenebrosa com o mar e as incertezas do porvir. Deus fende o mar e abre caminho por um deserto desconhecido. Marchar é a ordem – “Por que clamas a mim? Ordena aos israelitas que marchem”. Vão em frente!     Eu estou no comando. Isso basta! Não há de haver temor num espaço de todo ocupado pela fé.

O deserto é confiável. A caminhada é segura. O destino está traçado. Que o povo vá, que a vida vá, que a fé se imponha, como “garantia do que se espera e prova do que não se vê” (Hb 11.1), mas garantia e prova!

Portanto, “aquietai-vos e sabei que eu sou Deus” (Sl 46.10). Ou no marcante testemunho do patriarca Jó, ao pedir perdão a Deus por sua tibiezas (Jó 42.2 BKJ) – “Sei que podes realizar tudo quanto desejares; absolutamente nenhuma das tuas ideias e vontades serão frustradas!”.

“Aquietai-vos...” – marchar pelo deserto é ocupar-se da vida.


                                   Recife, 19 de Dezembro de 2015
Pastor Válter Sales

Texto dedicado ao meu genro, Ito. Natal de 2015.

domingo, 29 de novembro de 2015

Audio - Pr. Válter Sales: A Graça em pedaços


Depender do Senhor (Ito Siqueira)



Falar sobre depender do Senhor é algo que ficou corriqueiro. Muitas vezes falamos sobre a dependência como se ela, de fato, fizesse parte do nosso cotidianos. Mas o fato é que não vivenciamos a prática do que é não ter a capacidade de realizar e, efetivamente, vivenciar a dependência.

Gosto dessa figura da criança que pula nos braços do pai. Isso é o verdadeiro exemplo de confiança. O filho confia plenamente que o pai jamais deixará que ele caia. Assim somos nós no que diz respeito a dependência em Deus, temos que pular sem nos preocupar com as consequências, a Ele pertence nosso futuro. Mas depender não é ficar de braços cruzados, depender é agir dentro da Vontade de Deus.

Nesta semana pude experimentar algo surpreendentemente novo em minha vida. Pela primeira vez fiz uma cirurgia e recebi uma anestesia raquiana. Minhas pernas paralisaram e ficaram sob o efeito da medicação. Tentei diversas vezes movimentar os meus dedos do pé mas os mesmos não respondiam ao meu comando. Não ter o domínio sobre o corpo me fez perceber o que, realmente, é depender. Naquele momento eu dependia dos médicos e de sua equipe para poder me conduzir de um lado para outro, eu não tinha o comando e estava na total dependência.

Creio que é isso que o Senhor espera de nós. O verso 2 do livro de Salmos em seu capítulo 127 nos ensina que Deus dá aos "seus amados enquanto dormem". O texto diz assim "Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de dores, pois ele supre aos seus amados enquanto dormem"

Também temos João 15:5c "... sem mim nada podeis fazer". O que somos sem a misericórdia do Senhor? Nada!!! Temos que entender nossa dependência plena e total a Deus. Tentar fazer com nossas próprias forças é perda de tempo. Quanto mais aprendemos a depender, mais estaremos na verdadeira Vontade do Senhor. E sempre, a Seu tempo, Seus planos serão realizados. Depender dEle nos permite fazer parte desses planos.

Em II Coríntios 3:5 a Palavra do Senhor nos revela que "não que possamos reivindicar qualquer coisa com base em nossos próprios méritos, mas a nossa capacidade vem de Deus". Isso é muito profundo, mas é a realidade. Nada somos sem o Senhor. Nós dependemos dEle. As vezes pensamos que somos isso ou aquilo melhor que os outros, "mas a nossa capacidade vem de Deus" como vimos na afirmação de Paulo aos Coríntios.
Finalmente, no livro dos sábios, em Provérbios 3:5 as escrituras nos ensina: "Confia no Senhor de todo o seu coração e não te estribes no teu próprio entendimento". Estribes até parece uma palavra de difícil entendimento, mas ao selar um cavalo o apoio do cavaleiro são os estribos, o sentido aqui é o mesmo... não se apoie, não se sustente, não confie em seu próprio entendimento. Nossa confiança tem que estar no Senhor.

Do dia que soube que estava com leucemia até hoje, e espero que perdure para sempre, tenho aprendido que não há outra forma de viver senão na dependência do Senhor. Nada somos ou podemos por nós mesmos. De nada adianta fazer planos se esses não estiverem em consonância com a verdadeira Vontade do Senhor.

Deus continue abençoando sua vida

Nas mãos de Deus

Ito Siqueira

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sexta-feira, 27 de novembro de 2015

A Despedida de Jesus – Convite à Missão (Pr. Sérgio Dusilek)

A despedida de Jesus (Mt.28) é marcada por um certeza acalentadora (Ele estará conosco todos os dias), uma constatação avassaladora (toda autoridade foi dada a Ele) e um desafio monumental – fazer discípulos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

É justamente no fazer discípulos que a igreja mais peca! Fato é que não é necessário ter igrejas para que haja discípulos. Para que haja discípulos é preciso ter o Mestre. E no caso do cristianismo, outros discípulos que, de tão próximos do Senhor Jesus, queiram replicar seu modo de vida fazendo novos discípulos. Igrejas são importantes para o cuidado e até certo ponto, permanência dos seguidores (se bem que nos dias atuais elas tem mais tirado do que atraído discípulos).

Discipulado vem não só pela instrução, mas sobretudo pelo padrão, tipo, modelo a ser seguido. Um discípulo reproduz o que seu mestre é. Para tanto, é preciso que ele conviva com ele.

Pois numa sociedade de consumo como a nossa que transfere para Deus esse mesmo tipo de relacionamento (o de consumo), está cada vez mais difícil ver gente conectado ao convite de Jesus. Todos querem o bem estar espiritual e acham que isso se encontra em concreto, fachada, pintura, ar condicionado, enfim, em estrutura. Contudo esquecem que o verdadeiro bem estar no serviço a Deus vem do prazer de ver alguém ser regenerado por Cristo, de ter alguém rumo a perdição sendo transformado por Jesus, de ver gente crescendo na compreensão e vivência da Graça de Deus!

É por isso que para muitos seria um escandâlo hoje pensar em abandonar uma estrutura confortável para apoiar um trabalho menos confortável. Fazer como Paulo fez: largar a Igreja de Antioquia para trás (At.13) e sair para plantar novas igrejas, formar novos discípulos, isso continua sendo para poucos. Interessante que em uma de suas viagens, tencionando ir para a Ásia (At.16.6), Deus dá a ele uma visão: e essa visão fala de alguém pedindo para que pregasse o evangelho na Macedônia (At.16.9). Mal sabia o apóstolo que como fruto de sua obediência a visão, e não teimosia a ela, ele iria ser usado para plantar a igreja de Filipos, a que mais alegrava seu coração. É… a vida com Deus é assim… coisas que não pensamos, nem imaginamos estão reservadas para gente que obedece…

Essa visão era fruto de gente que buscava ao Senhor com seu coração, mas que ainda tateava o escuro para encontra-lo (At.16.14). Lídia adorava a Deus. E o Senhor sabia que ela o fazia de modo inadequado, conquanto fosse com o coração. Por isso o Senhor enviou Paulo e ela foi batizada, porque o Espírito agiu no seu entendimento, uma vez que seu coração estava pronto para o Evangelho.

Como falamos no início, a despedida de Jesus foi um convite à Missão. Não a uma “congregação” mas a um desafio maior de fazer discípulos. E isso cabe a todos nós que cremos no Senhor.
Obedecendo a essa visão é que Deus nos guiou para a área do RIO2 (Abelardo Bueno). Isso porque ela representa hoje um grande deserto espiritual sem igrejas presentes para proclamação do Evangelho. Lá o Senhor vem acrescentando gente que tem sido salva e gente que precisa de restauração. Tem também levado gente com coração pronto para ministrar ao Senhor. “Paulos” dos nossos dias.

Há porém ainda muitas Lídias naquela área. Gente que busca a Deus com coração sincero, ainda que não sabendo bem como, nem “onde” faze-lo. Também há muitos poucos “apóstolos” por ali. Por isso quero estender a você o convite da parte de Deus (a visão do Senhor para você é a visão desse texto no seu computador) para passar a nossa “Macedônia” e ajudar-nos a fazer discípulos. Faça parte do cumprimento da Missão de Jesus, e desfrute da maior alegria que é fazer discípulos.

Deus o abençoe!

Pr.Sergio Dusilek

Filed under: Liderança — sdusilek @ 2:51 pm 23/03/2011

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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

O USO DA VOZ NA PREGAÇÃO



Uma palavra introdutória vem-nos de Alves Mendes, orador sacro português, que aqui se põe em destaque:
A oratória é a mais típica e a mais gráfica manifestação da arte, porque é a arte da palavra.
A palavra é a vestidura do pensamento, é a forma da ideia, é a nítida voz da natureza e do espírito, é tão leve como o ar e tão irisada como a mariposa, é transparente como a gaze e tão sonora como o bronze. A palavra cicia como a aura e troa como o canhão, murmura como o arroio e ruge como a tormenta, prende como o imã e fulmina como o raio, corta como a espada e contunde como a clava, fotografa como o sol e acadinha como o fogo, ostenta a majestade da arquitetura, o matiz da pintura, a melodia da música, o ritmo da poesia, e que por seus rendilhados e riquezas, por suas graças e opulências, aclama a oratória, rainha das artes, e o orador – rei dos artistas! (Citado por Polito. Adaptado).

A seguir, algumas considerações sobre o uso da voz, seus efeitos e suas consequências, tanto para o próprio orador como para seus ouvintes.

1. A voz é um elemento de suma importância para o pregador, como, de resto, para qualquer orador. É instrumento por excelência da comunicação.

2. Uma boa impostação da voz favorece à saúde vocal do orador bem como à saúde auditiva dos ouvintes. Quando agride, também se agride.

3. A maneira agradável de falar ou de usar a voz pode conquistar ou desvanecer os ouvintes.

4. “A oratória é a rainha das artes, e o orador – rei dos artistas” (Alves Mendes). Contudo, a glória do pregador está na majestada da pregação.

5. Uma velha assertiva diz: “Os poetas nascem, e os oradores se fazem”.

6. Ao falar em público, deve o orador preocupar-se com o uso da voz. Há dois elementos muito importantes nesta consideração: o volume, que está relacionado com a intensidade, leva o orador a forçar a voz; e a tonalidade, que está relacionada com o tom vocal que se usa – mais agudo ou mais grave. Quando o volume é mais intenso, a tonalidade se torna mais aguda. “Usar um grande volume de voz é perigoso e desgastante”, mormente se não houver habilidade ou treinamento para fazê-lo. Manter sempre a mesma intensidade vocal é desconfortável.

7. Diz-se que oradores com voz mais aguda ou com maior número de vibrações, como acontece com cantores, no caso, tenores e sopranos, são, por isto, mais interessantes – atraem mais a atenção dos ouvintes. São mais dramáticos. Tudo depende de como colocar a voz, da expressão que se lhe dê no calor da oração ou numa ênfase proposital, estando o orador aquecido ou tomado de legítima emoção. Nada artificial, por favor!

8. Hoje existem, a acudir os oradores frente a plateias numerosas ou grandes congregações, microfones de alta qualidade e tamanho cada vez menor. Isso ajuda o pregador ou orador, até em sua discrição. Seu uso, entretanto, pode favorecer ou compromoter o discurso. O uso incorreto ou inadequado de um microfone em muito prejudica a fala, produzindo incômoda reverberação no ambiente sem tratamento acústico e irritando os ouvidos.

9. Bons microfones existem, como os das marcas Shure (o mais usado), AKG, Electro voice, Leson, entre outros, muito sensíveis, e alguns que são específicos para instrumentos. Esse equipamento projeta a voz do orador e o poupa de desgaste e sério comprometimento de suas pregas vocais. Quando usamos um microfone, não precisamos usar mais de 50% do nosso volume vocal. Deve-se evitar intensidade vocal desnecessária.

10. Reinaldo Polito, em seu livro Como Falar, afirma que “a voz determina a personalidade de quem fala” (p. 56). Assim, nossa voz denuncia se estamos alegres, tristes, apressados, seguros etc. A voz identifica esses comportamentos ou estados de espírito. Qualquer problema de ordem física ou emocional será imediatamente revelado através da voz.

11. Alguns fatores ou elementos ligados à voz entram nessa consideração:
a) A respiração. Quem fala de forma ofegante, tropeça nas palavras. Uma fala “trepidante” não é muito agradável de se ouvir. É como gagueira... Respirar bem é o primeiro cuidado que se deve ter para que a voz adquira a qualidade desejada. A gesticulação deve ser coerente com o que o pregador está falando. É um importante acessório à palavra.

b) A dicção. Boa diccão, boa pronúncia dos sons das palavras. Não deve haver negligência neste particular. Nem todos os que estão numa congregação têm ouvidos educados ou percepção aguda para entender o que não se fala. As palavras são formadas por sílabas ou fonemas. Todos devem ser pronunciados. Eco não substitui pronúncia...

c) A velocidade. Um bom orador não age como um locutor esportivo. Boas ideias não dependem tanto da quantidade de palavras, mas de sua colocação adequada e sentido preciso. Dizer bem não é dizer muito. É dizer certo. A assimilação do que o orador diz depende de algum tempo para se pensar. Alguns ouvintes, menos; outros, mais. É bom lembrar-se de que uma fala rápida não oferece muito campo para deduções... Falar bem requer que se comuniquem ideias completas. Também para isto contribui um espírito estável. A velocidade da fala depende tanto do orador como do assunto que ele esteja expondo. Passa por sua capacidade de respiração, da emoção, da clareza da pronúncia e da mensagem transmitida, assevera Polito.

Vejamos estes exemplos:
1) Na frase: Passou rápido como a luz (fala mais rápida).
2) Na frase: Desceu lentamente como as sombras da noite (fala mais lenta).

d) A expressividade da fala. Há sílabas que são mais importantes dentro de uma palavra. O que é tônico, é tônico; não é átono. No primeiro caso há acentuação na sílaba tônica. No segundo, não. Há palavras oxítonas – sabiá; paroxítonas – sabia; e proparoxítonas – sábia. Se não se acentua bem a pronúncia, o sentido da palavra poderá ser outro.

e) A intensidade. Há de haver vigilância neste particular. Não faz sentido de uma palavra. O que é tônico, é tônico; não é átono. No primeiro caso há acentuação na sílaba tônica. No segundo, não. Há palavras oxítonas – sabiá; paroxítonas – sabia; e proparoxítonas – sábia. Se não se acentua bem a pronúncia, o sentido da palavra poderá ser outro. e nem é elegante falar aos “berros” a uma pequena congregação, nem aos sussurros para uma multidão. Ninguém impressiona, se diante de um pequeno grupo de pessoas, troveja (um trovão); ou soa alto como dobram os sinos, por sinal, vazios... “Se falarmos com voz defeituosa, a mensagem chegará distorcida aos nossos ouvintes” (Polito).

12. Algo que precisa ser bem tratado são as emoções do pregador ou orador. Deixar-se dominar pela ansiedade, seguramente compromete a qualidade do seu desempenho. A ansiedade não é um mal em si. É até sinal de normalidade... Mas, a depender do indivíduo, é evidência de insegurança, por falta de adequado preparo. O estilo de vida que hoje se vive nos grandes centros, as múltiplas atividades do pastoreio e a segurança do pregador, pela consciência tranquila de que se preparou de forma séria, ajudá-lo-ão de forma definitiva, quando se levantar para falar a uma congregação do Senhor. Calmo, sereno, seguro, maduro – ele sabe o que tem de fazer. Para esse momento ele se preparou, em oração, estudo, concentração e, ademais, sabendo ser adequada aos seus ouvintes a mensagem que lhes preparou. Feliz é o pregador que não se reprova naquilo que diz ao seu rebanho. “Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova” (Rm 14.22). O ideal é que como pregadores não sejamos nós mesmos reprovados naquilo que ensinamos.

Recife, 23.11.2013

Válter Sales


Fontes: POLITO, Reinaldo. Como Falar. São Paulo: Saraiva, 1991. 209 p.

             __________  Gestos & Postura para falar melhor. Ilustrado. São Paulo: Saraiva, 1993. 200 p.

             Artigo: “O esquecido microfone”, de Noélio Duarte (origem desconhecida)

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

IMAGO DEI – O homem à imagem de Deus




1.    Gn 1.26 – “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”. Imagem, termo reafirmado no verso 27. Cf. 9.6.

2.    Imagem e Semelhança perfazem o sentido abrangente de Cognição, no que concerne a “semelhança ou representação do objeto”? Ocorre, todavia, que Deus é informe, é espírito, é infinito. Estes termos não coadunam, por exemplo, com “imagem”, em que há delimitação.

3.    Comentário da Bíblia Shedd – “Imagem de Deus significa ser dotado das faculdades de raciocinar, de expressar emoções e de agir voluntariamente. (...) capacidade que o homem tem de manter íntima comunhão com o seu Criador”. Amar (exemplo maior).

4.    Ressalta-se a natureza do homem, como sua relação com Deus. Realce, ainda, para “a distinção fundamental entre o homem e os animais”. Porém, há a ressalva de que “o homem não tem a mesma posição que Deus, mas antes, depende d´Ele, e só existe por causa de Sua vontade”, (NCB, Vol. II, p. 740). Acresce-se: “Por causa do pecado de Adão essa imagem ficou desfocalizada, pelo que não é claramente percebida em seus filhos      (Gn 5.3). À criação (Gn 2) segue-se a queda (Gn 3). E toda contraposição ao Criador está aí delineada.

5.    Controvérsias:

a)    Agnosticismo – Gr. “a” (não) e ginosko (conhecer) – termo cunhado por T. H. Huxley (1869), para exprimir a ideia de “crença suspensa”, refere qualquer proposição para a qual “não há provas suficientes para ser crida”. Se não é possível provar a própria existência de Deus, como arguir em favor da semelhança do homem com Ele?

b)    monumentais diferenças qualitativas entre Deus e o homem. A rigor, os atributos do homem não se comparam com os atributos de Deus. Exemplos: Santidade, pureza, eternidade, amor, natureza, entre outros.


c)    A essas diferenças, apõem-se certos argumentos com algum respaldo lógico, à primeira vista. 1) Os Agnósticos não negam evidências pró ou contra Deus. Contudo, afirmam que essas evidências não são suficientes para provar ou negar a existência de Deus. 2) O Positivismo lógico afirma não haver provas positivas ou negativas – tudo está acima de nosso conhecimento, que só pode envolver coisas detectadas pela percepção dos sentidos, e não possuímos órgãos capazes de detectar Deus. 3) O Teísmo afirma que “o conhecimento de Deus é possível e que as evidências são positivas. Deus existe”. Ao Teísmo opõe-se o Deísmo, com sua teoria de um “deus” deslembrado (letra e).

d)    Já o Gnosticismo (Gr. Gignoskein “saber”) era seletivo em nominar seres humanos em três categorias: hílicos (materialistas), sempre presos à matéria, sujeitos ao mal e às astúcias de Satanás; psíquicos  (meio-espirituais), sujeitos a uma redenção inferior, por meio da fé; e pneumáticos (espirituais), dignos da redenção completa, que consistia na reabsorção no ser divino. O hipercalvinismo caiu nessa armadilha... Claro que há a contraposição de textos como 1Tm 2.1-5 à heresia gnóstica de que considerável parcela dos homens não será salva.

e)    O Deísmo – há um ser supremo, mas desinteressado pela sua criação. Não interfere na história humana. Não pune nem recompensa.

f)        O Docetismo – (ideias absorvidas pelos gnósticos) – A palavra “docetismo” ou “docéticos”, derivada do termo grego dokéo, significa “parecer”. A encarnação foi apenas aparente, teatral, fantasmagórica.  A ser real, o próprio Deus se corromperia na carne. O contraditório aparece em textos como 1Jo 4.2,3 e Cl 2.9 – um libelo contra o “baixo ponto de vista dos gnósticos sobre a ´natureza` de Cristo”.

g)    De acordo com a teologia de Paulo, Cristo possui “toda a plenitude” de Deus – sua “pleroma” (sf, neste caso). Para os gnósticos, o “aeon” (Espírito-Cristo) possuia apenas partículas dessa plenitude ou pleroma (a natureza de Deus e os seus atributos).

A maioria dos gnósticos aceitava alguma forma de docetismo, isto é, o conceito de que Cristo não foi um homem real, que sua vida humana foi apenas um papel teatral, que sua morte e sofrimentos foram aparentes, e não reais, e que o verdadeiro Cristo é uma personalidade angelical. Contra essas crenças é que foi escrita a primeira epístola de João, denunciando àqueles que não aceitavam a humanidade autêntica de Jesus Cristo. “Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus, não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem, e presentemente já está no mundo... aquele que confessa o Filho, tem igualmente o Pai” (1Jo 4.2,3 e 2.23). (Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia, Vol. 2, p. 921).

6.     Deus-Cristo-Jesus-Homem

a)    O texto de Mt 11.28-30 é emblemático, nesta discussão, ao lado da encantadora teologia de João, 1.1,14; 10.22ss. O “Vinde a mim” enquadra-se na categoria do “Eu e o Pai somos um”. Aos que quedavam-se, inquietos, sob enorme desapontamento por não saber como encontrar Deus, Cristo se apresenta.

b)    Uma oportuna asseveração ali se fez. Diante de argumentos gnósticos de que Deus e o homem não podem encontrar-se, por suas diferenças qualitativas, Jesus Cristo se apresenta com uma clareza que não deixa dúvida: – “Como Deus e o homem não podem encontrar-se? Eu sou Deus e sou homem. Em mim encontram-se as duas naturezas”.

c)    A promessa de restauração da natureza caída, pela desobediência  humana, aparece no mesmo relato da queda (Gn 3.15). Toda ação do Criador divino, no desdobrar-se da História Sagrada, converge para esse alvo: a restauração do homem. E toda ela aponta para Cristo.

d)    O Novo Testamento enfoca, sobretudo, a teologia do Apóstolo Paulo – Correlação, Conformidade – com o Cristo-Imagem.

a)    O vocábulo usado no N.T. é eikõn = “semelhança derivada”.
b)    Em vários lugares a palavra é usada em sentido teológico, aludindo à “revelação proporcionada por meio de Jesus Cristo, ´a imagem do Deus invisível`” (2Co 4.4; Cl 1.15; sobre a renovação do homem conforme à imagem de Cristo (Rm 8.29) por meio da regeneração para a vida inteira (2Co 3.18; Co 3.10); e sobre a glorificação por meio da ressurreição, que é a coroa desse processo de renovação (1Co 15.49; cf. Fp 3.21)” – (NDB, Vol II, p. 740).
c)    Vê-se claramente na doutrina paulina o propósito de restaurar a “imagem”, numa “semelhança” de estilo de vida, isto é, a vida humana, agora restaurada, assemelhando-se à vida do Cristo (recomenda Paulo, em 1Co 11.1) pela imitação. Esse deve ser o propósito mais elevado da encarnação. O homem não pode, por si próprio, chegar a Deus (Karl Barth diria: “Não há caminho do homem para Deus, há somente caminho de Deus para o homem”); Deus, então, se faz “caminho”, em Jesus (Jo 14.6).
d)    Por “caminho”, aqui, deve-se entender, mais que uma “vereda”, um posicionamento de nossa vida em relação ao modelo Jesus Cristo. Modo de caminhar é, portanto, modo de ser.
e)    Restauração, da imagem, é palavra-chave, em Paulo e em Cristo.

A UNIÃO MÍSTICA DO CRENTE COM CRISTO
(IMAGO DEI, de Paulo Anglada. Knox Publicações, 2013. Pgs. 259ss)


1)    A união com Cristo é obra do Espírito Santo e está implícita em expressões como: em Cristo, no Amado, nele, no qual, todas com referência a Cristo (Ef 1.3ss).

2)    Quanto à natureza dessa união: “Não é uma união de essência, como entre as pessoas da Trindade. Não é uma união de personalidades; não há confusão entre a nossa pessoa e a pessoa de Cristo. Por outro lado, também não é mera união de pensamentos, sentimentos e propósitos, como entre membros de uma sociedade. É, sim, uma união espiritual, vital, mística (naturalmente incompreensível, mas revelada na Bíblia), orgânica, fundamental, indissolúvel, pessoal e tranformadora”.

3)    A união com Cristo é definida por esse autor como obra salvífica que Deus determinou na eternidade, que é realizada por Cristo e é implementada pelo Espírito Santo, que é o elo dessa união.

4)    Nesse processo, “os gerenerados e convertidos são espiritual, vital, misteriosa e indissoluvelmente unidos a Cristo e, consequentemente, com os demais membros do seu corpo, com os quais compartilham os sofrimentos, a morte, a ressurreição, a glória e a vida espiritual em Cristo”.

5)    Anglada cita Morton H. Smith em sua Systematic Theology, que observa: “De alguma maneira misteriosa que ultrapassa o nosso entendimento e a nossa capacidade para demonstrar, Cristo habita nos crentes e os crentes em Cristo... há uma qualidade misteriosa de relacionamento que transcende qualquer mera união de sentimento, convicção ou propósito, colocando os crentes em Cristo e Cristo nos crentes”. A “expressa imagem do Deus invisível” habita no crente.

6)    Há dois aspectos: um legal, que envolve a cumplicidade da morte e da vida (Adão e Cristo – 1Co 15.21,22; Rm 5.17-21); e um espiritual, que refere a habitação do Espírito Santo no crente (1Co 12.12, 13). Também os textos de 1Co 6.15, 17, 19 e 1Jo 3.24; 4.13.

7)    Esse fundamento é ilustrado com algumas metáforas, como: as pedras ou tijolos de uma casa; uma árvore e seus ramos; a cabeça e os membros de um corpo; um marido e sua esposa; o Pai e o Filho (na condição de Mediador).

O HOMEM NO ESTADO DE GRAÇA
(Restauração da IMAGO DEI – Pgs. 279ss)

1.    Paulo Anglada começa este tópico com uma declaração conclusiva: “Assim como a queda afetou toda a imago Dei no homem em estado de pecado, assim também a regeneração se reflete de forma integral, restaurando-a progressivamente no homem em estado de graça”. Cita Thomas Boston, que afirma ser a regeneração “uma transformação universal”, em que todas as coisas se fazem novas (2Co 5.17). Acresce que se trata de “um abençoado fermento, que leveda a massa inteira... o pecado original infecta o homem inteiro, e a graça regeneradora, que é a cura, vai até onde vai a enfermidade”.

2.    A restauração da imagem de Deus não é restabelecida no homem de maneira imediata nem absoluta. Ocorrerá, plena, na ressurreição do corpo. Nesta vida, a restauração da imago Dei “é apenas uma transformação imperfeita”. Não há um aspecto da vida perfeitamente renovado. Essa renovação “é progressiva e real, no que diz respeito a todos os aspectos: ontológico, moral e funcional”.

3.    O que acontece no homem? Todas as áreas foram afetadas pelo pecado. Igualmente, todas as áreas são restauradas pela regeneração, conversão e santificação. Seu aperfeiçoamento se dará na glorificação.

4.    A restauração da imago Dei – como se manifesta no novo homem:

1)    Imago Dei Ontológica:
– Imaterial: na mente (razão, sentimentos e vontade), no coração e   
   na consciência.
– Material: no corpo.
2)    Imago Dei Espiritual e Moral: piedade e integridade.
3)    Imago Dei Funcional:
– Na família
– Na igreja
– Na sociedade
– Na criação.

5.    Passagens bíblicas relacionadas ao assunto: Rm 8.29; 2Co 3.18;        Cl 3.9, 10; Ef 4.22-24. Na imitação de Cristo (Ef 5.1; 1Co 11.1). No amor abnegado (Ef 5.2). Na humildade e obediência à vontade de Deus (Fp 2.5-9). Vale dizer que, nesse processo, toda ação é do Espírito Santo. O homem é passivo. Sua atividade se dá na conversão e na santificação, que ocorre na imitação de Cristo.

6.    O autor, Paulo Anglada, fecha estas considerações apontando para a natureza escatológica da imago Dei – “ela só se consumará no estado de glória quando, refeitos à imagem de Cristo, teremos um corpo semelhante ao seu corpo glorioso e refletiremos a sua glória. O contraste é entre a nossa manifesta e presente condição decaída, em Adão, e a nossa condição escatológica gloriosa, em Cristo, ainda por ser manifestada, por ocasião da sua segunda vinda”. p. 282

7.    Champlin – “à nossa imagem” – Os animais foram criados “conforme a sua espécie”. O homem foi criado “conforme a espécie de Deus” (sua natureza). Isto envolve a participação humana na natureza divina. A imagem (heb. Selem) alude à imagem mental, moral e espiritual de Deus. Atributos divinos, como veracidade, sabedoria, amor, santidade e justiça serão compartilhados pelos salvos, de forma particial, mas real. (O Antigo Testamento Interpretado. Vol. 1, pgs. 15, 16)



                                               Obs.: Anotações feitas pelo Pr. Válter Sales.
                                                       Adaptações para estudo em sala de aula. 
                                              

                                                                 Recife, 19.11.2015