sexta-feira, 19 de julho de 2013

LUZ NAS TREVAS



                                                                               “O Senhor, meu Deus, derrama luz
 nas minhas trevas” (Sl 18.28).


            Então não há trevas, pois que a elas se impõe a luz do Senhor. Mas a asseveração é de que há trevas, como há luz. As trevas, entretanto, não se fazem sobrepujança à divina luz. Aquelas turvam a vida; esta ilumina. Quem está na luz não anda em trevas e seus frutos podem ser vistos. Na linguagem poética de Davi, “Das trevas fez (Deus) um manto em que se ocultou; (...) escuridade de águas e espessas nuvens dos céus eram o seu pavilhão” (Sl 18.11). São utilitárias – isso não as qualifica –, apenas mostra que há algo maior: “Do resplendor que diante dele havia, as densas nuvens se desfizeram em granizo e brasas chamejantes” (12).
            Davi também declamou: “Fazes resplandecer a minha lâmpada; o Senhor, meu Deus, derrama luz nas minhas trevas” (28). Em circunstâncias tais e dessa monta, o que predomina mesmo é a luz. Tudo aponta para a bondade do Senhor em relação aos seus filhos. Davi descreve essa relação benfazeja e multíplice – “Para com o benigno, benigno de mostras; com o íntegro, também íntegro. Com o puro, puro te mostras; com o perverso, inflexível. Porque tu salvas o povo humilde, mas os olhos altivos, tu os abates” (25-27). Graça e Justiça se mesclam. Coerência!
            Dir-se-á que há entre o homem e o seu Deus uma relação de dependência e cumplicidade. Longe, contudo, muito longe!, de ser uma negociata, uma barganha. Um como “toma lá, dá cá”não faz uma política apreciável, nem uma teologia digna de ser assim chamada. A graça doadora de Deus é muito mais que donativos estanques ou ocasionais. A graça de Deus transcende a esses expedientes e não se imiscui em incoerentes convenções. Verdadeiramente, o que temos e o que somos constituem, já, um débito para com Deus.
            Mas, não ignoremos, numa palavra ou raciocínio rápido, a realidade das trevas. Elas aí estão, com reconhecida capacidade de opacificar a luz em nosso viver. Basta não olhar para a luz e as trevas logo se instalam em nossa vida, sorrateiras, insinuantes, sedutoras. O de que um filho de Deus precisa é andar na luz, de uma forma que equivalha a viver na luz. Então, o perigo se diluirá, porque as travas não podem com a luz.
            Luz nas trevas? Não. Apenas luz, porque as trevas já não são. Quem anda na luz não se confunde, não tropeça. Ao contrário daqueles que se põem num caminho em que nada veem ou o que veem não entendem, por pura ingenuidade. Não convém que assim ocorra. Um simples tropeço pode resultar numa queda fragorosa. Que fazer, afinal? Simplesmente andar na luz.

Recife, 19.07.2013
Válter Sales
           

segunda-feira, 15 de julho de 2013

ENCONTRO



                                Se te procuro onde não estás,
                            É porque caminho longe de Ti.
                            Se me dirijo para onde estás,
                            É porque me atrai o teu Espírito.


                                É desse encontro simbiótico,
                            De direção e de aspiração,
                            – de estar um ser noutro ser –,
                            Que nasce a comunhão
                            Para a qual nos chamaste.
                                              

                                                          
                                                       Recife, 15.07.2013
  Válter Sales

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

GUARDAR NO CORAÇÃO



Maria, porém, guardava todas estas palavras, 
meditando-as no coração” (Lc 2.19)

Expressões consagradíssimas, tomadas, por vezes, como “frases de efeito” (dentro ou fora do seu contexto) são repetidas à saciedade, de tempos em tempos, e em momentos estratégicos, desses que fazem a delícia da mídia e da parolagem de qualquer natureza. Pessoas e instituições são alvos prediletos. Aos seus agentes em quase nada interessam as consequências. O que está em jogo é a satisfação própria, sua insaciabilidade por lucro ou por fama.

           Maria, a bendita jovem esposa de José e mãe de Jesus, não escapou à sanha maledicente daqueles que esperavam a regada festa de casamento. Viu-se grávida, numa circunstância acima do natural... Viu-a, assim, o noivo/esposo; e não a quis infamar. Era homem justo e temente a Deus. Vivia de seu ofício de carpinteiro e dos seus sonhos. Não lhe restava tempo para a folgança da incivilidade. Sairia de cena de forma discreta.

            A acudi-los, Deus, por meio de anjos e de pastores(bons tempos aqueles, de anjos e pastores, instrumentos de Deus!) – “Alegra-te, muito favorecida! O Senhor é contigo” (Lc 1.28), foi a mensagem angelical a Maria. E mais: “Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus” (30). É obra de Deus pelo seu poderoso Espírito (35). E a José: “... não temas receber Maria, tua mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo” (Mt 1.20). Tudo transcorre em celeste evidência.

            Para gerar uma vida, bastaria o contato físico de um homem com uma mulher. Para gerar a vida eterna, a redenção da humanidade, necessário seria uma intervenção direta do próprio Deus. Não poderia ser de outra forma. Não está em nós, homens, a capacidade de restaurar a imagem e natureza de Deus, deformadas que foram pelo pecado instalado no coração humano. A redenção da humanidade é obra do Espírito Santo.

            Maria – observe-se a adversativa, “porém” –, guardava as palavras dos anjos e pastores “meditando-as no coração”. Não se impressionava com palpites e comentários maldosos. José, de igual modo. O que interessa a homens e mulheres de Deus é uma consciência refinada, aliada à sensibilidade de que foi Deus quem falou. Quando Deus fala, fala a quem Ele deseja revelar sua vontade. Se Ele utiliza instrumentos seus para esse fim, são estes inconfundíveis! É preciso, pois, manter conveniente reserva em relação a quem, de moto próprio, faz-se porta-voz do Altíssimo. Temos, saído do ventre de Maria e da semente do Espírito, Jesus, revelação plenado Pai. Jesus, o Cristo, Deus conosco.

                                                                                  Recife, 02.01.2013
                                                                                  Válter Sales