1.
Gn 1.26 – “Façamos o homem à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança”. Imagem,
termo reafirmado no verso 27. Cf. 9.6.
2.
Imagem e Semelhança perfazem o sentido abrangente
de Cognição,
no que concerne a “semelhança ou representação do objeto”? Ocorre, todavia, que
Deus é informe, é espírito, é infinito. Estes termos não
coadunam, por exemplo, com “imagem”, em que há delimitação.
3.
Comentário da Bíblia Shedd – “Imagem
de Deus significa ser dotado
das faculdades de raciocinar, de expressar emoções e de agir voluntariamente.
(...) capacidade que o homem tem de manter íntima comunhão com o seu Criador”. Amar (exemplo maior).
4.
Ressalta-se a natureza do homem, como sua
relação com Deus. Realce, ainda, para “a distinção fundamental entre o homem e
os animais”. Porém, há a ressalva de que “o homem não tem a mesma posição que
Deus, mas antes, depende d´Ele, e só existe por causa de Sua vontade”, (NCB,
Vol. II, p. 740). Acresce-se: “Por causa
do pecado de Adão essa imagem ficou desfocalizada, pelo que não é claramente
percebida em seus filhos” (Gn
5.3). À criação (Gn 2) segue-se a queda (Gn 3). E toda contraposição ao Criador
está aí delineada.
5.
Controvérsias:
a) Agnosticismo –
Gr. “a”
(não) e ginosko (conhecer) – termo cunhado por T. H. Huxley (1869),
para exprimir a ideia de “crença
suspensa”, refere qualquer proposição para a qual “não há provas
suficientes para ser crida”. Se não é possível provar a própria existência de
Deus, como arguir em favor da semelhança do homem com Ele?
b) Há monumentais
diferenças qualitativas entre Deus e o homem. A rigor, os atributos do
homem não se comparam com os atributos de Deus. Exemplos: Santidade, pureza, eternidade, amor, natureza, entre
outros.
c) A
essas diferenças, apõem-se certos argumentos com algum respaldo lógico, à
primeira vista. 1) Os Agnósticos não
negam evidências pró ou contra Deus. Contudo, afirmam que essas evidências “não são suficientes para provar ou negar a
existência de Deus”. 2)
O Positivismo lógico afirma não
haver provas positivas ou negativas – tudo está acima de nosso conhecimento,
que “só pode envolver coisas detectadas pela percepção
dos sentidos, e não possuímos órgãos capazes de detectar Deus”. 3) O Teísmo afirma que “o conhecimento de Deus é possível e que as
evidências são positivas. Deus existe”.
Ao Teísmo opõe-se o Deísmo, com sua
teoria de um “deus” deslembrado (letra e).
d) Já o
Gnosticismo (Gr. Gignoskein
“saber”) era seletivo em nominar seres humanos em três categorias: hílicos
(materialistas), sempre presos à matéria, sujeitos ao mal e às astúcias de
Satanás; psíquicos (meio-espirituais), sujeitos a uma redenção
inferior, por meio da fé; e pneumáticos (espirituais), dignos da
redenção completa, que consistia na reabsorção no ser divino. O hipercalvinismo
caiu nessa armadilha... Claro que há a contraposição de textos como 1Tm 2.1-5 à
heresia gnóstica de que considerável parcela dos homens não será salva.
e) O Deísmo
– há um ser supremo, mas desinteressado pela sua criação. Não interfere na
história humana. Não pune nem recompensa.
f)
O Docetismo – (ideias absorvidas pelos
gnósticos) – A palavra “docetismo” ou “docéticos”, derivada do termo grego dokéo,
significa “parecer”. A encarnação
foi apenas aparente, teatral, fantasmagórica. A ser real, o próprio Deus se corromperia na carne. O
contraditório aparece em textos como 1Jo 4.2,3 e Cl 2.9 – um
libelo contra o “baixo ponto de vista dos gnósticos sobre a ´natureza` de
Cristo”.
g) De acordo
com a teologia de Paulo, Cristo possui “toda a plenitude” de Deus – sua “pleroma”
(sf, neste caso). Para os gnósticos, o
“aeon”
(Espírito-Cristo) possuia apenas partículas dessa plenitude ou pleroma (a natureza de Deus e os seus
atributos).
A maioria dos gnósticos aceitava alguma forma de docetismo,
isto é, o conceito de que Cristo não foi um homem real, que sua vida humana foi
apenas um papel teatral, que sua morte e sofrimentos foram aparentes, e não
reais, e que o verdadeiro Cristo é uma personalidade angelical. Contra essas
crenças é que foi escrita a primeira epístola de João, denunciando àqueles que
não aceitavam a humanidade autêntica de Jesus Cristo. “Nisto reconheceis o
Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é
de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus, não procede de Deus; pelo
contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que
vem, e presentemente já está no mundo... aquele que confessa o Filho, tem
igualmente o Pai” (1Jo 4.2,3 e 2.23). (Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia, Vol.
2, p. 921).
6. Deus-Cristo-Jesus-Homem
a) O
texto de Mt 11.28-30 é emblemático, nesta discussão, ao lado da encantadora
teologia de João, 1.1,14; 10.22ss. O “Vinde
a mim” enquadra-se na categoria do “Eu
e o Pai somos um”. Aos que quedavam-se, inquietos, sob enorme desapontamento
por não saber como encontrar Deus, Cristo se apresenta.
b) Uma
oportuna asseveração ali se fez. Diante de argumentos gnósticos de que Deus e o
homem não podem encontrar-se, por suas diferenças qualitativas, Jesus Cristo se
apresenta com uma clareza que não deixa dúvida: – “Como Deus e o homem não podem encontrar-se? Eu sou
Deus e sou homem. Em mim encontram-se as duas naturezas”.
c) A
promessa de restauração da natureza caída, pela desobediência humana, aparece no mesmo relato da queda (Gn
3.15). Toda ação do Criador divino, no desdobrar-se da História Sagrada, converge
para esse alvo: a restauração do homem.
E toda ela aponta para Cristo.
d) O
Novo Testamento enfoca, sobretudo, a teologia do Apóstolo Paulo – Correlação, Conformidade – com o Cristo-Imagem.
a) O
vocábulo usado no N.T. é eikõn = “semelhança derivada”.
b) Em
vários lugares a palavra é usada em sentido teológico, aludindo à “revelação
proporcionada por meio de Jesus Cristo, ´a imagem do Deus invisível`” (2Co 4.4;
Cl 1.15; sobre a renovação do homem conforme à imagem de Cristo (Rm 8.29) por
meio da regeneração para a vida inteira (2Co 3.18; Co 3.10); e sobre a
glorificação por meio da ressurreição, que é a coroa desse processo de renovação
(1Co 15.49; cf. Fp 3.21)” – (NDB, Vol II, p. 740).
c) Vê-se
claramente na doutrina paulina o propósito de restaurar a “imagem”, numa
“semelhança” de estilo de vida, isto é, a vida humana, agora restaurada,
assemelhando-se à vida do Cristo (recomenda Paulo, em 1Co 11.1) pela imitação. Esse
deve ser o propósito mais elevado da encarnação. O homem não pode, por
si próprio, chegar a Deus (Karl Barth diria: “Não há caminho do homem para Deus, há somente
caminho de Deus para o homem”); Deus, então, se faz “caminho”,
em Jesus (Jo 14.6).
d) Por “caminho”,
aqui, deve-se entender, mais que uma “vereda”, um posicionamento de nossa vida em relação ao
modelo Jesus Cristo. Modo de caminhar é, portanto, modo
de ser.
e) Restauração, da
imagem, é palavra-chave, em Paulo e em Cristo.
A UNIÃO MÍSTICA DO CRENTE
COM CRISTO
(IMAGO
DEI, de Paulo Anglada. Knox Publicações, 2013. Pgs. 259ss)
1) A
união com Cristo é obra do Espírito Santo e está implícita em expressões como: em
Cristo, no Amado, nele, no qual, todas com referência a
Cristo (Ef 1.3ss).
2) Quanto
à natureza dessa união: “Não é uma união
de essência, como entre as pessoas da Trindade. Não é uma união de
personalidades; não há confusão entre a nossa pessoa e a pessoa de Cristo. Por
outro lado, também não é mera união de pensamentos, sentimentos e propósitos,
como entre membros de uma sociedade. É, sim, uma união espiritual, vital,
mística (naturalmente incompreensível, mas revelada na Bíblia), orgânica,
fundamental, indissolúvel, pessoal e tranformadora”.
3) A
união com Cristo é definida por esse autor como obra salvífica que Deus
determinou na eternidade, que é realizada por Cristo e é implementada pelo
Espírito Santo, que é o elo dessa união.
4) Nesse
processo, “os gerenerados e convertidos
são espiritual, vital, misteriosa e indissoluvelmente unidos a Cristo e,
consequentemente, com os demais membros do seu corpo, com os quais compartilham
os sofrimentos, a morte, a ressurreição, a glória e a vida espiritual em Cristo”.
5) Anglada
cita Morton H. Smith em sua Systematic
Theology, que observa: “De alguma
maneira misteriosa que ultrapassa o nosso entendimento e a nossa capacidade
para demonstrar, Cristo habita nos crentes e os crentes em Cristo... há uma
qualidade misteriosa de relacionamento que transcende qualquer mera união de
sentimento, convicção ou propósito, colocando os crentes em Cristo e Cristo nos
crentes”. A “expressa imagem do Deus
invisível” habita no crente.
6) Há
dois aspectos: um legal, que envolve
a cumplicidade da morte e da vida (Adão e Cristo – 1Co 15.21,22; Rm 5.17-21); e
um espiritual, que refere a
habitação do Espírito Santo no crente (1Co 12.12, 13). Também os textos de 1Co
6.15, 17, 19 e 1Jo 3.24; 4.13.
7) Esse
fundamento é ilustrado com algumas metáforas, como: as pedras ou tijolos de uma casa; uma árvore e seus ramos; a cabeça e
os membros de um corpo; um marido e sua esposa; o Pai e o Filho (na
condição de Mediador).
O HOMEM NO ESTADO DE GRAÇA
(Restauração
da IMAGO DEI – Pgs. 279ss)
1. Paulo
Anglada começa este tópico com uma declaração conclusiva: “Assim como a queda
afetou toda a imago Dei no homem em
estado de pecado, assim também a regeneração se reflete de forma integral,
restaurando-a progressivamente no homem em estado de graça”. Cita Thomas
Boston, que afirma ser a regeneração “uma transformação universal”, em que todas
as coisas se fazem novas (2Co 5.17). Acresce que se trata de “um abençoado fermento, que leveda a massa
inteira... o pecado original infecta o homem inteiro, e a graça regeneradora,
que é a cura, vai até onde vai a enfermidade”.
2. A
restauração da imagem de Deus não é restabelecida no homem de maneira
imediata nem absoluta. Ocorrerá, plena, na ressurreição do corpo. Nesta
vida, a restauração da imago Dei “é
apenas uma transformação imperfeita”. Não há um aspecto da vida perfeitamente renovado. Essa renovação “é
progressiva e real, no que diz respeito a todos os aspectos: ontológico, moral
e funcional”.
3. O
que acontece no homem? Todas as áreas foram afetadas pelo pecado. Igualmente,
todas as áreas são restauradas pela regeneração, conversão e santificação.
Seu aperfeiçoamento se dará na glorificação.
4. A
restauração da imago Dei – como se
manifesta no novo homem:
1) Imago Dei
Ontológica:
– Imaterial: na mente (razão, sentimentos e vontade), no
coração e
na consciência.
– Material: no corpo.
2) Imago Dei
Espiritual e Moral: piedade e integridade.
3) Imago Dei
Funcional:
– Na família
– Na igreja
– Na sociedade
– Na criação.
5. Passagens
bíblicas relacionadas ao assunto: Rm 8.29; 2Co 3.18; Cl 3.9, 10; Ef 4.22-24. Na imitação de
Cristo (Ef 5.1; 1Co 11.1). No amor abnegado (Ef 5.2). Na humildade e obediência
à vontade de Deus (Fp 2.5-9). Vale dizer que, nesse processo, toda ação é do
Espírito Santo. O homem é passivo. Sua atividade se dá na conversão e na
santificação, que ocorre na imitação de Cristo.
6. O
autor, Paulo Anglada, fecha estas considerações apontando para a natureza
escatológica da imago Dei – “ela só
se consumará no estado de glória quando, refeitos à imagem de Cristo, teremos
um corpo semelhante ao seu corpo glorioso e refletiremos a sua glória. O
contraste é entre a nossa manifesta e presente condição decaída, em Adão, e a
nossa condição escatológica gloriosa, em Cristo, ainda por ser manifestada, por
ocasião da sua segunda vinda”. p. 282
7. Champlin
– “à nossa imagem” – Os animais
foram criados “conforme a sua espécie”. O homem foi criado “conforme a espécie
de Deus” (sua natureza). Isto envolve a participação humana na natureza divina.
A imagem (heb. Selem) alude à imagem mental, moral e espiritual
de Deus. Atributos divinos, como veracidade, sabedoria, amor,
santidade e justiça serão compartilhados pelos salvos, de forma
particial, mas real. (O Antigo Testamento Interpretado.
Vol. 1, pgs. 15, 16)
Obs.: Anotações feitas pelo Pr. Válter Sales.
Adaptações para estudo em sala de aula.
Recife,
19.11.2015
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