sábado, 1 de outubro de 2011

QUE DEUS POSSA...



          Em nossa natural inclinação para analisar o sentido das palavras, ordinariamente detemo-nos em expressões de cunho religioso, na pregação, nas orações, nos cânticos. Termos por si mesmos completos, plenos de significação, são postos sob o crivo das probabilidades. Por igual, expressões concretas, já realizadas através de Cristo, recebem tratamento de algo ainda por acontecer. Um exemplo: “Dá-nos tua graça...” – mas o cristão já a tem! Precisa, apenas, dela revestir-se. E aí, o papel não é mais de Deus, é do homem. Deus fez sua parte. Sua obra se fez de modo completo, em Cristo.
          Que Deus possa...” – é uma forma subjuntiva: Que eu possa, que tu possas, que ele possa. É o presente do subjuntivo. A palavra “subjuntivo” significa “subordinado”. Denota anseio, desejo, suposição... São processos hipotéticos.            Refere alguém que se subordina a uma possibilidade, que não tem a capacidade em si mesmo. É o nosso caso, como seres humanos, que não temos em nós mesmos poder algum, mas dependemos inteiramente do poder de Deus.
          Ora, dizer isto em relação a Deus é aventar a hipótese de que Deus “porventura” seja capaz de fazer isto ou aquilo... Todos sabemos que Deus é o Senhor, que Ele é o Todo-poderoso, que ninguém no Universo sequer se aproxima dEle (veja-se Is 40.12-31). Então, dizer “que Deus possa” não é o melhor modo de referir sua supremacia sobre todas as realidades do Universo.
          A oração cristã exalta a soberania do Senhor, afirma sua grandeza e seu poder – “Tu podes”, “Tu sabes todas as coisas”, “Tudo podes, se tudo queres...”       É assim que termina a oração-modelo ensinada por Jesus Cristo: “... por que teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre” (Mt 6.13b), mesmo que esta frase possa ter sido uma adição posterior. Quem ora se subordina ao Senhor.
          Uma possibilidade, grave, em nossas orações, é o risco de pormos Deus no nível da nossa consciência ou da nossa percepção das coisas com que sonhamos na vida. A Bíblia ensina que nossas mentes são limitadas, enquanto Deus é infinito. Mesmo nossas orações são reorientadas pelo Espírito Santo, pois não sabemos orar, como convém, denuncia Paulo, em Rm 8.26. Amontoado de palavras não é garantia de eficácia na oração, adverte Jesus (Mt 6.7).
          Um exemplo magnífico de oração profunda, não atrelada a palavras, é o de Ana, mãe de Samuel (1 Sm 1.13). Orava no coração, na alma, acima da tibieza das expressões humanas.
          Ao orarmos, afirmemos, convictamente, a grandeza do Senhor, a sua realeza.
          Orar é entregar-se por inteiro ao Senhorio Divino. Dispor-lhe a própria oração.
          Não há melhor forma de reconhecer o que Ele verdadeiramente é.


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