Passados quatro séculos, ou um pouco mais, de silêncio profético, ressoa a voz de João Batista, o anunciador, no cálido deserto da Judéia, a proclamar mensagem de arrependimento, porque o reino de Deus se estabelecera em Jesus Cristo (Mt 3.1-3). Dizia ele: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas”. Ou: “Preparem o caminho para o Senhor passar! Abram estradas retas para ele!” (BLH).
João, o evangelista, registra a palavra corajosa do precursor, quando inquirido por autoridades eclesiásticas de Jerusalém – “Quem és tu?” – e ele respondeu: “Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor” (Jo 1.23).
Voz clamando no deserto..., não um deserto geográfico, mas um deserto de esperança, de sensibilidade espiritual, deserto de fé, mesmo em meio a muita religiosidade. Custou-lhe a cabeça, mas a voz ressoou! É, pois, coragem, estoicismo de alguém que não tem receio de perder a vida. Convicção que não comporta medo.
É a voz da independência de tradições, caprichos, presunções humanas, ranços. É a voz da submissão a quem dita o modus vivendi e modus faciendi (viver e agir) nas lides ministeriais. É a voz de alguém que não sobrepõe suas ideias ou sentimentos à voz de comando daquele que pode, sabe e quer todas as coisas. Há um paralelo em Paulo: “Eu não fui desobediente à visão celestial” (At 26.19).
“Eu sou a voz”. É voz e é atitude de quem reconhece, com humildade, a hora de sair de cena, ao apontar para aquele que tira o pecado do mundo – Jesus, o Filho de Deus.
A voz se espraia pelo deserto como o grão de trigo se espalha pelos campos e pelas colinas e, agora, em forma de pão do céu, reúne e nutre, no reino do Eterno, “toda a igreja das extremidades da terra”.
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