A escritora Henrietta Mears afirma, em seus estudos sobre os profetas, que “a Igreja não está de modo algum incluída nas profecias. Ela é o mistério que Deus guardou até o momento em que desejou fosse revelado”. Diz ainda: “Os profetas falam exclusivamente do ministério terreno de Cristo, nada dizem dos ‘chamados para fora’ (ecclésia). A Igreja foi anunciada pelo próprio Jesus (Mt 16.18)”.
Como mistério revelado no tempo de Deus, lê-se de Paulo, em Ef 3.3, 11, 12 – “... segundo uma revelação, me foi dado conhecer o mistério, conforme escrevi há pouco, resumidamente, (1.9, 10) segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus nosso Senhor, pelo qual temos ousadia e acesso com confiança, mediante a fé nele”.
Pomo-nos ante algumas indagações, como: é esta Igreja, a que somos, o mistério guardado por Deus durante tantos séculos? Sem dissimulação: é esta, a Igreja que eu sou, o mistério de Deus? Pode parecer-nos difícil tal concepção. É verdadeira, contudo.
Nossas dificuldades residem em nossas dúvidas pessoais. Somos forçados a aceitar que a Igreja de Deus, edificada em/por Cristo, contra a qual as portas do inferno não hão de prevalecer, é constituída de gente..., gente como nós, com as vulnerabilidades próprias de seres humanos em formação – a Igreja é o povo de Deus em peregrinação; temos nós, sempre, a nossa Canaã...
O mistério é uma Igreja composta de gente feliz e gente amargurada; gente solidária e gente ensimesmada; gente que cresce e gente que estagna ou encolhe; gente que ama e gente que aborrece; gente que se inclina para ajudar e gente que passa de largo; gente simples e gente soberba; gente humilde e gente enfatuada; gente compreensiva e gente intolerante; gente fiel e gente infiel; gente convicta e gente convencida; gente que ora (comunhão) e gente que apenas busca favores (egoísta); gente que compartilha sua fé em Cristo e gente que se confina em sua forma de crer e de ser; gente que inspira e gente que escandaliza; gente que impulsiona a Igreja e gente que a emperra. Gente tanta, com esses antagonismos. O mistério é esse misto – ser e não ser. É a incongruência do ainda não ser. Mas se Deus permitiu uma tal composição, é porque Ele tem graça suficiente para todos.
Nada inusitado, este era o perfil do grupo apostólico. Pedro, ultrarradical; João e Tiago, grosseiros no falar; Natanael, preconceituoso; Tomé, incrédulo; Judas Iscariotes, bom, nem precisa falar!... O fascinante da Palavra é-o, primeiro, para a própria Igreja nascente. Todos eles, menos Judas, foram transformados. Tornaram-se exemplos vivos do amor do Cristo do Evangelho. O “mistério” cumpre plenamente seu propósito guardado durante séculos no coração de Deus.
Nada melhor que a Igreja de Cristo para transformar o mundo! É só compenetrar-se de seu caráter e propósito, os mesmos revelados por Deus, na plenitude dos tempos, e encarnados por Cristo Jesus nosso Senhor.
Cada Igreja de Jesus Cristo deve sentir-se desafiada a não desanimar, mas a assumir seu perfil traçado e nela impregnado pela Sagrada Palavra, plantada como semente bendita em seu coração. Opor-se tenazmente ao ainda não ser e aferrar-se com igual tenacidade ao ser de fato Igreja de Jesus Cristo, “gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Ef 5.27). À Igreja compete anunciar ao mundo o Mistério que estava guardado no coração do Pai, revelado no Filho, “... no fim dos tempos, por amor de vós” (1 Pe 1.20b).
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