quinta-feira, 13 de outubro de 2011

“ONDE ESTÃO OS NOVE?”


                                                                                   “Não eram dez os que foram curados?
                                                                                   Onde estão os nove?” (Lc 17.17)


          Trata-se de uma pergunta reivindicatória de Jesus a dez leprosos que receberam a bênção da cura. Clamaram por compaixão – “Jesus, Mestre, compadece-te de nós!” (13). Jesus os mandou aos sacerdotes. Enquanto iam foram corados. Apenas um deles voltou e prostrou-se aos pés do Senhor, com o rosto em terra, num gesto inconfundível de gratidão.

          É aí que surge a pergunta – “Onde estão os nove?”. Impressiona que é  esmagadora maioria: nove de dez. Não voltam, agradecidos. Que está por trás desse indiferentismo? A resposta só pode ser esta: Ingratidão. Nenhum outro fato registrado nos Evangelhos retrata a ingratidão humana com maior realismo. Sabe-se, ainda, que nenhum outro ser do mundo criado tem mais larga dependência do outro que o ser humano. No entanto, é este o mais ingrato de todos os seres.

          Satisfeitas as nossas necessidades, esquecemos o benfeitor. Filhos são ingratos com os seus pais. Estudantes, com os seus mestres. Cada um com o seu semelhante, de quem recebeu, um dia, algum benefício. E assim se distende a esteira daqueles que esqueceram a virtude da gratidão, que já foi chamada de “virtude peregrina”. Belo exemplo temos no Salmista Davi – “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nem um só de seus benefícios” (Sl 103.2).

          Mas, outra vez, “onde estão os nove?”, é a pergunta que desaponta o Filho de Deus. Os nove andam por aí, transitam com certa desenvoltura, decerto mais preocupados com o bem recebido que com o benfeitor. Os nove estão nos lares, estão nas igrejas, estão nas instituições, estão nas inter-relações. A gratidão aponta para um Deus amoroso, pleno de misericórdia. Um “Pai, que está nos céus, e dará boas coisas aos que lhe pedirem” (Mt 7.11).

          Que ironia! Aquele que voltou para agradecer era um samaritano, considerado raça inferior pelos judeus. Todos se apresentaram aos sacerdotes, que declaravam a purificação. É o ritual de que fala Lv 14.1-32. Em ir, os leprosos demonstravam fé. Fé vem sempre antes. A gratidão vem depois. Fé sem gratidão é imperfeita.

          Que restou, enfim? Restou a misericórdia. Esta não tem fim.        

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