sábado, 1 de outubro de 2011

DE QUE LADO O SINO SOA?


Soa de todos os lados, e soa alto, de modo que muitos podem ouvi-lo à distância. Soa alto e muito, porque é vazio... O muito e o alto não são credenciais, podem ser parolagem ou sonidos incertos. Numa temática glossolálica, Paulo indicou que com sonidos incertos ninguém se prepara para a batalha (1Co 14.8).
            O mestre Afonso Arinos de Melo Franco deixou-nos O Som do Outro Sino - Um Breviário Liberal, obra magnífica em que aludiu a temas políticos e jurídicos, ambos de sua especialidade. Num momento de euforia no Congresso Nacional, deleitava-se com os “novos” ou velhos, imaturos. Interrogado sobre essa ocasional efusão divertia-se, com um discreto sorriso de fina ironia: “Isto é bom, é um exercício de retórica...
            Numa como paráfrase a esse notável pensador brasileiro, aqui dizemos que “quando não existe correspondência entre a ação de um homem e sua fala, a obra retórica não vai além da vida do seu protagonista”. É fácil perceber tal desencontro na retórica salvacionista ou redentorista de uma enorme gama de predicadores atuais. Há o vazio das palavras e da vida. Há o vazio do sino...
            Eurico Ferri, citado por Evandro Lins e Silva, in A Defesa Tem a Palavra, ensina que para dar eficácia à expressão, “mais que exercícios e regras acadêmicas importa o saber, ter na cabeça idéias e, por conseguinte, coisas que dizer: eis aqui o primeiro grande segredo da eloqüência”. Não basta a fluência, a animação diante da platéia; é necessário saber o que dizer.
            Um dado alarmante colhido de uma conferência recente: ”Só 5% de nossa história está sob a égide da cultura”. Preocupa, constrange e humilha. Faz-nos “massa ignara”, de que fomos, aliás, os evangélicos, acusados recentemente por uma jornalista passional e desinformada. A resposta que lhe foi dada consistiu mais de malcriações; não indicou quem de fato somos.
            Há sonidos incertos para ouvintes incertos do que querem. Acríticos, ouvem e se deixam influenciar. De todos os lados, por escassez de posicionamento. Quem não sabe o que quer, acaba abraçando o que não sabe. A esperteza em todos os campos ganha campo no vazio das mentes, na paixão religiosa dos que se deixam insuflar.
            Como reverter essa demanda? Entendemos que há apenas um caminho: o estudo. É preciso conhecer Deus-em-Cristo por meio de Sua Palavra. Boa exortação vem do tempo dos profetas – “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor” (Os 6.3a). Paulo, amante dos livros, não fez por menos: “Persiste em ler” ou “Aplica-te à leitura” (1Tm 4.13). E Jesus: “Errais não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt 22.29). O descaminho resulta do desconhecimento.
            Se o sino soa do lado em que estamos, aí se tem por possível a tomada de consciência.
            Nada mais desejável.

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