segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A PARÁBOLA DO OLEITO

A PARÁBOLA DO OLEIRO

                                                                  “Não poderei eu fazer de vós como fez
                                                                                  este oleiro, ó casa de Israel?” (Jr 18.6)


            Cuido que parábolas na Bíblia não sejam uma especificidade do Novo Testamento. Não ouso transgredir gênero literário. Atenho-me, tão somente, ao seu conteúdo. O texto de Jr 18.1-6 dá-nos um registro realista de um oleiro com as mãos no barro e o barro em suas mãos. Enquanto moldava um vaso, este se quebrou em suas mãos. É o retrato de uma nação, de um povo, formado por barro inferior e vasos facilmente quebráveis. Somos nós, humanos, cuja soberba por vezes empana nossa realidade.

            O oleiro não desiste. “Ele estava entregue à sua obra” (3). O vaso se quebrou, estragou-se, mas do mesmo barro ele fez outro vaso, “segundo lhe pareceu bem” (4). Até aí temos a figura de um artista do barro, da cerâmica, arte hoje, como desde a Alta Antiguidade, decantada como expressão cultural. Não é, contudo, daquilo que um homem pode fazer, que Deus está falando ao Profeta Jeremias. Ele quer falar de Si mesmo, do que Ele faz com a sua graça – vidas quebradas, estragadas, são refeitas pelas mãos do Supremo Artífice.

            Então vem o verso 6 – “Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro?”.
É certo que Deus faz! Ele restaura vidas que se destruíram na escravidão do  pecado. Ele redime o espírito machucado pelas muitas contradições da existência humana. Ele enxuga lágrimas de desespero que deslizam, trêmulas e incontidas, pela nossa face. Ele preenche o vazio existencial de vidas já sem rumo, que não veem senão o fundo do poço e um fim trágico. Ele põe esperança onde o desespero predomina e constrói caminhos a serem trilhados pela fé.

            Há dois ângulos de serviço na parábola do oleiro. Há a modelagem porque o oleiro cria, como Deus nos criou. Mas veio a queda (Gn 3), e o que era muito bom, tornou-se tragédia. Entretanto, o divino oleiro não fechou o seu ateliê. Continuou sua obra sobre as mesmas rodas. A olaria continuou aberta. Então vem a remodelagem. É Deus refazendo nossas vidas. É Deus resgatando-nos em Cristo Jesus. No Antigo Testamento Deus cria. No Novo Testamento Jesus recria – “Se alguém está em Cristo, nova criatura é (literalmente, nova criação), as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2Co 5.17).

            Há um propósito especial do Divino Oleiro em relação a nós: é restaurar a relação entre Deus e o homem. Há sempre algo novo que Deus pode fazer por nós e em nós. Todas as áreas da vida podem ser restauradas. Das relações, dos negócios, das emoções, da vocação, da família, do caráter cristão, enfim. Deus tem direito sobre esse barro, que somos nós (Rm 9.21). O objetivo último é a sua glória (1Cr 29.11). Chegar a esse patamar é glória também nossa.

            Está quebrada a sua vida? Não se desespere: tudo pode ser refeito quando nos quebramos nas mãos de Deus. Ele quer fazer de cada ser humano um vaso novo. É como expressar seu amor por nós.
                                                                                          Recife, 31.10.2011
                                                                                               Válter Sales

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