“Senhor, para quem iremos nós?
Tu tens as palavras da vida eterna”
(Jo 6.68)
A circunstância em que esse texto se produziu assinala uma hora de definição séria, destas que mudam completamente o sentido da vida. Foi um teste de veracidade para os apóstolos, tanto quanto para os discípulos que bateram em retirada. Jesus falava de sua identidade e das implicações em que desembocaria a disposição humana de segui-lo. Uns após outros, seus seguidores, ouvintes, começaram a abandoná-lo.
Ficaram os doze, decerto magnetizados pelo ensino do Mestre. Para os que fugiram, o discurso era duro, tal que ninguém poderia suportar. Para os que ficaram, o ensejo de uma identificação maior com o Filho de Deus. Parece ter causado espécie, mesmo àquele que é onisciente – “Quereis vós também retirar-vos?” (67). Pedro toma a palavra e profere uma frase que se tornou a base da genuína fé – “Para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna” (68).
O que estaria embutido nestas palavras do apóstolo? Entenda-se: não há outro para quem devamos ir. Esta afirmação da unicidade de Deus vem do Pentateuco, em Dt 6.4 – “Ouve, ó Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor”. Os apóstolos conheciam muito bem o Antigo Testamento. Não há outro Deus, como não há outro Cristo. Decerto Pedro raciocinava: se não pudéssemos seguir a ti, a quem haveríamos de seguir?
Há uma frase sequencial desse pensamento do Apóstolo: “Nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus” (69). Idêntica confissão aparece em Mt 16.16 – “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Esta, sim, é a chave de nossa inserção numa convivência muito mais profunda, verdadeira e transcendente com o nosso Deus. É como mergulhar na realidade do ser divino, como escreveu o Apóstolo Paulo, na carta aos Gálatas, 2.20 – “Não mais eu vivo, mas Cristo vive em mim”.
Pedro e seus companheiros optaram por ficar na companhia de Jesus. Fizeram a melhor escolha. Tomaram a decisão certa. No cumprimento de sua missão, todos eles necessitariam da presença encorajadora do Cristo. Aqui se desenha a mais grandiosa experiência da vida: quando se esvaírem os tempos e vier sua consumação, vendo a vida triunfal dos remidos, alguém indagará: “Quem são estes e de onde vieram?” a resposta vem de um anjo: “Estes alvejaram suas vestes no sangue do Cordeiro e são por ele apascentados” (Ap 7.13). “Tu tens as palavras da vida eterna”.
Recife, 17.11.2011
Válter Sales
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