segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

PARA ESTAR DIANTE DE DEUS


“Entra no teu quarto, fecha
a porta, fica ali, em secreto
com o teu Pai” (Mt 6.6)


            Recolher-se e estar com Deus, em desimpedida comunhão, eis aí uma das dificuldades próprias destes dias agitados que vivemos, na luta por sobrevivência ou por afirmação. Para estarmos reservadamente em comunhão com o Senhor Supremo de nossa vida, precisamos de recolhimento até o nível de uma unidade interior. Jesus ensina: “Entra no teu quarto, fecha a porta e permanece ali, em secreto, com o teu Pai, que vê em secreto. Ele te recompensará”.
            Além deste ensino do Divino Mestre, há orientações de homens de Deus  experimentados na arte do recolhimento espiritual. “A ideia é deixar todas as distrações que se revitalizam, até estarmos realmente presentes onde estamos”, diz Richard Foster, em Santuário da Alma. Sugere ainda que se deve ancorar a alma numa breve frase das Escrituras Sagradas. Nossa fixação numa passagem bíblica ou na presença real de Cristo ajuda-nos no desejado recolhimento.
            Evelyn Underhill sugere que se mantenham em mente nomes ou atributos de Deus, uma passagem bíblica ou um momento da vida de Cristo, até que esses elementos ocupem todo o nosso campo mental. Em face de um turbilhão interior que nos assalta e nos controla, há que se tomar consciência da Presença de Deus no recinto onde estamos e submeter a Ele frustrações ou distrações que nos desviem do foco. Ele nos vai recolhendo e nos vai libertando, para “uma rendição voluntária, um ´autoabandono à Providência divina`”, na frase lúcida de Jean-Pierre de Caussade.
            E Richard Foster arremata: “Exatamente porque o Senhor está presente conosco, podemos relaxar e deixar de pensar em qualquer coisa, pois na  Presença divina nada de fato interessa, nada tem importância, a não ser ocupar- nos com Deus. Deixamos que distrações e frustrações interiores derretam como a neve ao sol. Deixamos que Deus acalme as tempestades enfurecidas do nosso interior. Deixamos que o grande silêncio de Deus aquiete nosso coração ruidoso”.
            Para estar diante de Deus, é imprescindível buscá-lo – “Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração” (Jr 29.13). Para estar diante de Deus, necessário é confiar-lhe a vida – Ele é o Senhor. Não há outro, até porque ninguém pode servir, de uma vez, a dois senhores, ensina Jesus, em Mt 6.24. Corre-se o risco de se devotar a um e desprezar o outro. Para se chegar a Deus há somente um caminho – Jesus Cristo: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6).


                                                                                  Recife, 19.12.2011
                                                                                      Válter Sales

“E O VENTO CESSOU”



“Subiu para o barco para estar com eles, e o vento cessou. Ficaram entre si atônitos”  (Mc 6.51)


            Há ventos convulsivos no Mar da Galiléia. E se há convulsão no mar, há perigo para os pescadores, ainda que acostumados a essas intempéries, porque era do mar que tiravam sua mantença. Portanto, viviam no mar como viviam em casa. Transparece dessa convivência certa naturalidade. Ondas vão e vêm, e eles estão lá, como se fossem senhores de qualquer situação.
            Jesus vem de mais um milagre – a primeira multiplicação de pães e peixes. Já uma multidão ficara perplexa, e alimentada de pães e peixes. Então compeliu seus discípulos a embarcar para o outro lado e chegar à cidade de Betsaida. Queria nutri-los de fé. Isola-se um pouco para orar, até ao cair da tarde. Já enegrecido o tempo pela noite que se impõe, os discípulos estão em alto-mar. Jesus, sozinho, ainda em terra. Vendo que os discípulos se debatiam com os ventos contrários, vai-lhes ao encontro, andando sobre o mar. É mais uma demonstração de poder.
            Viram-no os discípulos, como se fosse um fantasma. “Mas logo lhes falou e disse: Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais” (50). O evangelista Marcos nos diz que eles ficaram atônitos e gritaram. É meio patético o efeito da falta de fé. O verso 52 nos informa que os discípulos, seguidores de Jesus, “não haviam compreendido o milagre dos pães; antes o seu coração estava endurecido”. É o produto natural do não crer.
            Este é um retrato de nossa vida. Também nós, hoje, somos, por vezes, faltos de fé, embora costumemos afirmar que cremos em Deus. O verdadeiro teste ocorre quando a nossa fé é posta a prova. É aí que demonstramos o que Deus, de fato, representa em nossa vida. Os discípulos de Jesus revelaram certa fragilidade. Costumavam dizer: “nós cremos”. Mas, na hora de provar sua fé, relutavam em fazê-lo.
            Há ventos impetuosos no mar de nossa vida... Tantas vezes e vezes sem conta. Fantasmas costumam assediar-nos. Nessas circunstâncias, embora nos consideremos homens e mulheres de fé, vêm à tona nossas fraquezas – somos muito vulneráveis! O mar se agiganta em ondas tenebrosas, e o frágil barquinho de nossa segurança parece soçobrar... Que fazer? É deixar Jesus, o Filho Eterno de Deus, entrar no barco de nossa vida. Aí dele ouviremos: “Tende bom ânimo. Sou eu. Não temais!” O vendaval vai cessar!
                                  

Recife, 19.12.2011
                                                                                       Válter Sales

POR QUE DEUS NÃO NOS RESPONDE?

                                                                        
                                                                “... vosso Pai sabe o de que tendes
                                                                      necessidade, antes que lho peçais
                                                                     (Mt 6.8).

            A pergunta – por que Deus não nos responde? –, não está bem colocada.  É certo que Deus responde as nossas orações. Ocorre, porém, que Deus responde como Deus, de conformidade com o seu caráter bondoso, de acordo com a sua onisciência – “Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais”. Em Mt 7.7, Jesus decreta: pedi, buscai e batei, de forma persistente, é o espírito do texto. Se Jesus falou, resta-nos obedecer. É uma questão de fé, que melhor se traduz em obediência.
            Na sequência – verso 8 –, Jesus declara que aquele que pede recebe;       o que busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á. Deus nos responde, por sua amizade e paternidade. Ele é nosso Pai e se faz nosso amigo. Essa amizade é graça plena! Nós, pecadores, não temos tal mérito, mas, pela sua infinita graça, Ele nos ouve e nos responde. Um Pai assim, tão amorável, jamais negaria boas dádivas aos seus filhos. Devemos, portanto, orar sem cessar.
            É verdade, no âmbito da oração mais sincera e mais profunda, que Deus nos atende. Ele considera as nossas orações. Se você tem dúvida, comece, hoje mesmo, uma vida de oração objetiva e disciplinada. Então saberá. “Se você não obtém tudo o que pede, é porque o Salvador pretende dar-lhe algo melhor”, compreende Arival Casimiro. O salmista escreveu: “Bendito seja Deus, que não me rejeita a oração, nem aparta de mim a sua graça” (Sl 66.20).
            Curvamo-nos diante do Pai Eterno, e só diante dele! Ele nos criou, nos sustenta, nos conhece desde o mais profundo de nossa alma. Ele é Deus de amor e Pai de amor. Ele “dará boas coisas aos que lhe pedirem”, disse Jesus, em Mt 7.11. Não há razão para temer sua resposta. O argumento de Jesus é que, se um pai humano sabe o que é melhor para seus filhos, como o não saberia o Pai celeste?
            Hoje, nosso desejo é que Deus levante homens e mulheres que façam da oração uma devoção. Que orem incessantemente por um despertamento espiritual no Brasil e no mundo, nas pessoas e nas igrejas. Quem sabe, uma nova reforma, que nos leve de volta à Bíblia como Palavra de Deus aos homens; a uma fé, pura e verdadeira, em Jesus Cristo – Caminho único para Deus Pai; à graça excelsa, penhor divino para a salvação de todo aquele que crê no Filho de Deus e a Ele entrega a vida, de forma completa e definitiva.
            Aí Deus nos ouvirá!
                                                                                   Recife, 13.12.2011
                                                                                       Válter Sales

“VAI E NÃO PEQUES MAIS”


                                                                           “Ficou só Jesus e a mulher no
                                                                                               meio onde estava” (J0 8.9)


            Um dos textos bíblicos mais expressivos da graça redentora de Jesus  Cristo é este de João, capítulo 8, versos de 1 a 11. Não nos importa a observação de que não consta nos manuscritos mais aceitos. Restaurar vidas miseravelmente destroçadas é o que Jesus Cristo faz todos os dias. No caso aqui, trata-se de uma mulher, infeliz, explorada por homens indignos, no corpo e na alma...
            Atrevidamente, em sua sanha hipócrita, eles citaram a lei de Moisés (5). Citaram-na de modo incompleto. Em Lv 20.10 lê-se: “Se um homem adulterar com a mulher do seu próximo, será morto o adúltero e a adúltera”. É a quebra de um princípio – o da pureza da vida, das atitudes nas relações interpessoais, haja ou não haja um enlace oficial. É o ultraje da dignidade de um ser humano do sexo feminino. Jesus não titubeou: “Aquele que estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire uma pedra” (7).
            O relato prossegue com uma subtileza fenomenal – “Ficou só Jesus, e a mulher ali em pé” (9). O libelo acusatório já não há. A sentença de morte diluiu-se na ausência de moral dos acusadores. Foram saindo, um após outro, sob o impacto da Palavra do Cristo. Primeiro os mais velhos, talvez com a consciência mais carregada de pecados que os mais novos. Todos se foram. Ficaram, frente a frente, o pecado e a graça, a pecadora e o Redentor.
            Esse é o grande momento na vida daquela espoliada criatura humana.      O encontro de um pecador com Jesus é a hora de Deus! É o Filho de Deus quem fala: “Mulher, onde estão os teus acusadores? Ninguém de condenou?” (10). “Ninguém, Senhor”, ela respondeu. “Nem eu também te condeno...” (11). Cumprem-se, nesse episódio, alguns textos da Sagrada Escritura, como Jo 3.17 – o Filho de Deus não veio para julgar, mas para salvar. Cf. Jo 12.47 e Rm 8.1 – “Agora, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”.
            Só Jesus ficou com a mulher. Foi o suficiente. Ficou a graça, que é maior que os nossos pecados. Ficou o amor, que cobre uma multidão de pecados. Restou a maravilhosa restauração de um ser humano que se lança aos pés do Senhor. Agora, depois do encontro com Jesus, é nova vida, não há mais o horror da humilhação, o escárnio em público, a exposição da vergonha praticada às sombras, porque não resiste à luz. A vida é restaurada. Há um novo dia, dia de esperança, dia de redenção, de novo sentido existencial – “Vai e não peques mais”. Ficou Jesus, e Jesus é Salvação.


                                                                                  Recife, 08.12.2011
                                                                                       Válter Sales

ORAÇÃO – CANAL DA GRAÇA


     “Deus vem e fala   Sua  Palavra  nos
      surpreende no pecado,  nos  encontra
      no desespero, nos invade por meio da
      graça” (Eugene H. Peterson)


            Tem-se confundido oração com a prática de dizer coisas a Deus. Parece-nos haver certa intenção de Jesus em corrigir esse equívoco, em Mt 6.8 –          “...Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais”. Ora, se Deus sabe, e quem o afirma é Jesus Cristo, podemos descansar em seu conhecimento, sua boa vontade e sua provisão. Eugene Peterson, depois de afirmar que Deus nos surpreende por sua palavra, diz-nos também que “o essencial na oração não é o fato de aprendermos a nos expressar, mas de aprendermos a responder a Deus”.
            Temos aqui um revolucionário conceito de oração: responder a Deus. Responder, por que na oração Ele nos revela sua vontade. Oração é comunhão a esse nível. Como dizem os psicólogos da religião, “um cristão amadurecido ora não para pedir alguma coisa, mas para comungar com Deus”. Portanto, não seja a hora da oração uma experiência sofrida, mas alegre comunhão com o Deus de infinita bondade. É comprovar em nosso viver o que Ele realmente é. É deixar Deus revelar-se.
            Enquanto nutrimos nossa ansiedade, interferimos na ação divina, dentro do tempo e das condições por Deus estabelecidas. Deus não trabalha com medidas humanas, nem se confina ao espaço que criamos para as circunstâncias da vida. Quanto tempo queremos dar a Deus para que Ele resolva as nossas questões, por vezes as mais comezinhas? Exemplo: algo que nós mesmos deveríamos resolver, mas atribuímos a Deus, como se fôssemos gestores seus. Resultado: Deus não o faz porque é tarefa nossa, e nós não o fazemos porque abrimos mão de um dever nosso. Fere-se o princípio da fé genuína e coerente, e sucumbimos no desapontamento.
            Podemos pecar indicando caminhos a Deus. Na verdade, o que temos de fazer é seguir o Caminho, que é Jesus Cristo, o Emanuel – Deus conosco. Para conformar nossa vida com Deus é preciso passar por Jesus, seu Filho Eterno. Paulo afirma que Jesus é o único mediador entre Deus e os homens (1Tm 2.5).   E o próprio Jesus declara: “Eu sou o caminho..., ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6).
            A fé que se nutre na oração vai repercutir no dia a dia, na vida prática, nos afazeres ordinários. Quando nos firmamos em genuína fé, “Deus vem e fala – Sua Palavra nos surpreende no pecado, nos encontra no desespero, nos invade por meio da graça”.

                                                                                  Recife, 07.12.2011
    Válter Sales

“PERSEVERAI NA ORAÇÃO”


 
“Alegrai-vos  na  esperança,  sede
pacientes na tribulação, perseverai
na oração” (Rm 12.12).

            Dos três enfoques, elegemos, nesta reflexão, o terceiro, até por entender que a oração é o alicerce e o poder sustentador de todos os valores e de todas as virtudes da vida cristã. A falta de oração constitui-se a maior lacuna na vida de um cristão. É como se recusar a estar, reverente e genuflexo, diante do Senhor Todo-Poderoso. É como dizer: “Não tenho fé”, pois “a fé deve ser praticada pela oração, a fim de se manter viva” (Leonard Ravenhill). Não é por acaso que Deus mesmo se admira de não haver quem ore (Is 59.16).
            Samuel Chadwick escreveu: “Não há nada mais poderoso que a oração perseverante – como a de Abraão pleiteando por Sodoma; como Jacó lutando no silêncio da noite; como Moisés permanecendo na brecha; como Ana, embriagada de tristeza; como Davi com o coração quebrantado pelo arrependimento e pela dor; como Jesus suando sangue. Acrescente a essa relação, a partir dos registros da história da Igreja, sua própria observação e experiência pessoal, e sempre haverá o custo da paixão até o sangue. Essa é a oração eficaz que transforma mortais comuns em homens de poder. Essa é a oração que traz o poder, que traz o fogo, que traz a chuva. Ela traz vida, ela traz a presença de Deus”.
            A oração é a via relacional mais efetiva e mais eficaz para conhecermos Deus, pois não apenas nos permite falar sobre Ele e seus atributos, mas, sobretudo, falar com Ele, numa relação de amigos, sem reservas; um falar face a face, sem obstáculos, sem circunlóquios (rodeios), sem cerimônia e sem formalismos.
            Só mesmo Deus sabe por que nos submete a esperas que parecem não ter fim, a lágrimas incontidas, a humilhações e afrontas. No seu fim, tudo traz à tona o valor da persistência ante a face soberana do Altíssimo. E tudo fica esclarecido. Quando controlamos nossa agenda pelo calendário de Deus, as coisas acontecem como e quando devem acontecer. Serão atos de Deus e atos de Deus nos abençoam e nos plenificam.
            Se nos faltam ânimo e vigor para orar; se o nosso coração está desmotivado, já não arde; se a nossa alma perdeu a sensibilidade e a nossa mente perdeu a percepção de que Deus é presença certa em nossa vida, se o buscamos – “Buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração” (Jr 29.13) –, talvez tenhamos perdido o rumo, e precisamos suplicar: “Senhor, ensina-nos a orar”. Ele, outra vez, nos abrirá o caminho.
           
                                                                                  Recife, 28.11.2011
                                                                                       Válter Sales
                                                          

NEGUE-SE A SI MESMO

“NEGUE-SE A SI MESMO”

                                                                  “Se alguém quer vir após mim, a si
                                                                                  mesmo se negue, dia a dia tome a                                                                                          sua cruz e siga-me” (Lc 9.23).
            Negar-se não é aniquilar-se, destruir-se, findar-se, consumir-se, dar cabo de si. Não, o ensino de Jesus, nessa passagem, não tem caráter negativo. Não é uma ação que alguém sofre, numa passividade mórbida, de alguém que jamais se afirmou na vida. O ensino de Jesus tem caráter ativo. Leva a uma decisão corajosa de seguir os passos do Senhor, custe quanto custar.
Jesus jamais se escondeu numa dissimulação, mas revelou claramente que seu destino seria a cruz. Segui-lo pode custar a própria vida, mas é perdendo-a que se consegue salvá-la. Perde-se a vida para o mundo e seus valores corrompidos; perde-se a vida para a ilusão das vaidades, para o orgulho enganador, para a soberba que, não raro, desemboca em desilusão; perde-se para o pecado e se reconquista para a redenção em Cristo Jesus. Perde-se para ganhar.
            Dallas Willard, pastor batista norte-americano, faz uma realista avaliação do cristianismo dos dias atuais. Diz ele, em seu livro O Espírito das Disciplinas, p. 13:
            “Atualmente multidões estão se voltando para Cristo em todas as partes do mundo. Como seria insuportavelmente trágico, porém, se os milhões da Ásia, América do Sul e África fossem levados a crer que o melhor que podemos esperar do Caminho de Cristo é o nível de cristianismo visível hoje na Europa e América do Norte (um nível que nos deixa cambaleando no limiar da destruição mundial). (...) estamos numa época de heróis espirituais – um tempo para que homens e mulheres sejam heroicos na fé, no caráter espiritual e no poder. O maior perigo para a Igreja cristã atualmente é o barateamento de sua mensagem”.
            Lúcida e corajosa é essa posição. Somos desafiados a abraçar um cristianismo de elevada têmpera. Negar-se é assumir posição destemida ao lado de Cristo, porque é tomar a cruz, é imitá-lo na vida, dia a dia, é segui-lo, é cumprir seus propósitos nesta vida e neste mundo, é ser missão em nome do Filho de Deus, que deu a vida para salvar a todos os que dele se aproximam pela fé.
            Isso pode custar o conforto de nossas catedrais, para ser sinal visível da presença e atuação de Cristo no mundo. Mas se isso é seguir a Cristo, valerá a pena. É o custo da redenção humana.
                                                          
                                                                                  Recife, 18.11.2011                       
                                                                               Válter Sales

A MAIOR DESCOBERTA DE MOISÉS

A MAIOR DESCOBERTA DE MOISÉS

            Moisés viveu três períodos bem distintos de quarenta anos. Os primeiros quarenta foram vividos inicialmente na companhia de sua mãe, Joquebede, mulher de inelutável grandeza, porque de rara humildade e profunda esperança. A mãe de Moisés foi uma dessas figuras humanas que se tornam canal natural da graça libertadora do Senhor, Sábio e Poderoso. Depois, já desmamado, Moisés foi entregue à filha de Faraó, que o criaria como filho, identidade que ele rejeitou, já adulto e especialmente dotado de um elevado senso de justiça.
            Os segundos quarenta anos foram vividos nos desertos de Midiã, na companhia sacerdotal de Jetro ou Reuel. Aí, toda cultura politeísta se diluiu numa consciência apurada na fé monoteísta. Moisés aprendeu a cultuar ao Deus único e verdadeiro. Nesse segundo período ele construiu seu lar e ouviu o chamado de Deus para voltar ao Egito, de onde fugira, e libertar os filhos de Israel.
            Os terceiros quarenta anos foram de saída do Egito e peregrinação pelo deserto até Canaã. Se Deus não tivesse introduzido o seu povo na Terra Prometida, agora pelas mãos de Josué, a grande vitória teria sido de Faraó e do Egito, é o que depreendemos de Dt 9.28 – “Para que o povo da terra donde nos tiraste não diga: Não tendo podido o Senhor introduzi-los na terra de que lhes tinha falado e porque os aborrecia, os tirou para matá-los no deserto”.
            Três períodos bem distintos, cada qual com suas importantes marcas.       O pregador inglês Frederick Meyer, citado por Elben César, faz um resumo do pensamento de Moisés nesses três períodos de sua vida: “Nos primeiros quarenta anos, Moisés pensava que era tudo; nos segundos quarenta anos, dizia que não era coisa alguma; nos últimos quarenta anos, Moisés descobriu que Deus era tudo”.
            O momento culminante de nossa vida ocorre quando fazemos essa descoberta. É a única possibilidade que um ser humano tem de se agigantar.      O grande momento da vida é aquele em que nós nos libertamos de nossa autossuficiência e nos ancoramos na suficiência de Deus, como o Apóstolo Paulo, em 2Co 3.5 – “Não que por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus”.
            Descobrir Deus, real como é – eis a grande descoberta que qualquer ser humano pode fazer! Deus não se esconde de nós.

Recife, 18.11.2011  
               Válter Sales


                                           

A FÉ VÊ ANTES

A FÉ VÊ ANTES

        “Ora, a fé é a certeza das coisas que
        se esperam, a convicção de fatos
        que se não veem” (Hb 11.1)


            A verdadeira fé nos encoraja a lançar a semente antes que chegue o inverno, na certeza de que o inverno virá, a semente vai germinar, vai brotar, vai produzir e nos vai alimentar. Fé é evidência, por antecipação. A fé traz à realidade o que existe apenas em perspectiva.

            Pela fé entrego minha causa a Deus e não me preocupo com o tempo, porque eu sei que Deus trabalha no tempo por Ele determinado, do qual é Senhor absoluto. Entrego, simplesmente entrego, espero nele e descanso. É assim que o salmista Davi nos orienta: “Descansa no Senhor e espera nele” (Sl 37.7). Em nossa teologia afirmamos que Deus é capaz de fazer tudo que pedirmos, mas é a nossa fé, a verdadeira fé, a genuína fé, que poderá concretizá-lo.

            Em 1978, precisamente no dia 4 de Julho, embarcámos num avião e rumámos à cidade de São Paulo, para submeter nossa filha, Neyla, a uma delicada cirurgia do coração. A previsão médica era que ela certamente não sairia com vida do centro cirúrgico. E voámos com essa perspectiva terrível. Era o dia do seu segundo aniversário. Uma dúvida atroz se instalou em nossa mente e coração: comprar ou não comprar sua passagem de volta.

            – Compro ou não compro?, perguntei a minha esposa. Seguiram-se alguns segundos de silêncio. Então Aidênia, com resolução e voz firme falou: Compre!   A passagem foi comprada e 58 dias depois nossa filha retornava conosco, totalmente curada. Nenhuma intercorrência! Deus é perfeito no que faz!

            “Compre!” Isto é fé em termos bíblicos. A fé honra a Deus e Deus honra a fé. Vai com ela até aonde ela nos leva. Mas, para que isso aconteça, há algo muito sério que precisa ser levado em conta. Dois fatores essenciais: 1) Como está nosso relacionamento com Deus? Fora de sintonia, a comunicação é prejudicada por ruídos... Para obtermos os inesgotáveis favores de Deus é necessário que nossa vida seja marcada por seu caráter (ver Is 52.11). 2) Deus não tem compromisso com o que está fora de sua vontade. Motivações impuras e corações impuros não atraem seus recursos. Deus não age fora de sua natureza. Cabe aqui citar 1Jo 5.14 – “Se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve”. Do contrário, não. Deus é fiel aos seus princípios.

            Somente uma fé desenvolvida e praticada nesse patamar é capaz de ver antes e agradar a Deus, é o que nos ensina Hb 11.6.       

Recife, 27.11.2011                        
     Válter Sales         

PERSEVERAI NA ORAÇÃO

“PERSEVERAI NA ORAÇÃO”

“Alegrai-vos  na  esperança,  sede
pacientes na tribulação, perseverai
na oração” (Rm 12.12).

            Dos três enfoques, elegemos, nesta reflexão, o terceiro, até por entender que a oração é o alicerce e o poder sustentador de todos os valores e de todas as virtudes da vida cristã. A falta de oração constitui-se a maior lacuna na vida de um cristão. É como se recusar a estar, reverente e genuflexo, diante do Senhor Todo-Poderoso. É como dizer: “Não tenho fé”, pois “a fé deve ser praticada pela oração, a fim de se manter viva” (Leonard Ravenhill). Não é por acaso que Deus mesmo se admira de não haver quem ore (Is 59.16).
            Samuel Chadwick escreveu: “Não há nada mais poderoso que a oração perseverante – como a de Abraão pleiteando por Sodoma; como Jacó lutando no silêncio da noite; como Moisés permanecendo na brecha; como Ana, embriagada de tristeza; como Davi com o coração quebrantado pelo arrependimento e pela dor; como Jesus suando sangue. Acrescente a essa relação, a partir dos registros da história da Igreja, sua própria observação e experiência pessoal, e sempre haverá o custo da paixão até o sangue. Essa é a oração eficaz que transforma mortais comuns em homens de poder. Essa é a oração que traz o poder, que traz o fogo, que traz a chuva. Ela traz vida, ela traz a presença de Deus”.
            A oração é a via relacional mais efetiva e mais eficaz para conhecermos Deus, pois não apenas nos permite falar sobre Ele e seus atributos, mas, sobretudo, falar com Ele, numa relação de amigos, sem reservas; um falar face a face, sem obstáculos, sem circunlóquios (rodeios), sem cerimônia e sem formalismos.
            Só mesmo Deus sabe por que nos submete a esperas que parecem não ter fim, a lágrimas incontidas, a humilhações e afrontas. No seu fim, tudo traz à tona o valor da persistência ante a face soberana do Altíssimo. E tudo fica esclarecido. Quando controlamos nossa agenda pelo calendário de Deus, as coisas acontecem como e quando devem acontecer. Serão atos de Deus e atos de Deus nos abençoam e nos plenificam.
            Se nos faltam ânimo e vigor para orar; se o nosso coração está desmotivado, já não arde; se a nossa alma perdeu a sensibilidade e a nossa mente perdeu a percepção de que Deus é presença certa em nossa vida, se o buscamos – “Buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração” (Jr 29.13) –, talvez tenhamos perdido o rumo, e precisamos suplicar: “Senhor, ensina-nos a orar”. Ele, outra vez, nos abrirá o caminho.
           
                                                                                  Recife, 28.11.2011
                                                                                       Válter Sales

A PEDRA REMOVIDA

A PEDRA REMOVIDA

                                                                                  “Não tenhais medo. Buscais a Jesus.
                                                                                  Ele não está aqui...” (Mt 28.5, 6)

            Há uma pedra fechando a entrada do sepulcro de Jesus. Seria necessário removê-la para que Ele saísse? Sim e não. Há a percepção humana e o poder de Deus. Na verdade, Jesus não necessitava de uma ajudazinha do homem. Deus, a rigor, não necessita de nós. Uma teologia de um Deus carente é por demais claudicante. A presença de um anjo, com aspecto de relâmpago, fala-nos do Senhor da Natureza, isto é, as potências cósmicas sofrem o impacto da presença do Todo-Poderoso.
            Para quem, afinal, foi removida a pedra? “A pedra foi removida, não para Jesus, mas para as duas mulheres; (Maria, mãe de Tiago e José, e Maria Madalena) não para que Jesus pudesse sair, mas para que as mulheres pudessem olhar para dentro”, escreveu Max Lucado. Volta o sorriso aos seus semblantes. Antes, Maria Madalena chorava: “Levaram o meu Senhor e não sei onde o puseram” (Jo 20.13). Agora sabem que o seu Senhor não está morto e nem desapareceu. Volta a antiga paixão. Jesus está vivo. Podiam outra vez sonhar...
            Há pedras, por vezes pontiagudas, em nossa caminhada. E temos de enfrentá-las, até porque nem sempre podemos nós removê-las. Precisamos, portanto, da graça excelsa do Senhor. Pedras machucam, maltratam. Pedras produzem feridas e dor nas mãos, nos pés, no coração, na alma. Pedras são obstáculos, às vezes difíceis de transpor. Causam desânimo, desapontamentos, frustrações. Pedras desalentam, destroem esperanças, liberdades.
            Para o Filho de Deus, a pedra não é impedimento, mas é impedimento para nós, humanos, por vezes fragilizados, impotentes. Que fizeram as duas Marias? Solícitas e ansiosas foram, logo de manhã, ao sepulcro onde o corpo de Jesus fora posto. Que encontraram lá? Um anjo, com vestes brancas como a neve, assentado sobre a pedra que não mais fechava o túmulo. A Jesus, a quem buscavam, não encontraram. Pelo contrário, foram encontradas por Ele – “E, indo elas, eis que Jesus lhes sai ao encontro, dizendo: Eu vos saúdo (...) Não temais...” (Mt 28.9, 10).
            Pedras existem na vida para serem removidas. Ou são removidas ou comprometem o caminhar. Se não as podemos remover, porque falecem nossas forças ou não há poder em nós, nem por isso estaremos fadados ao fracasso último. Há alguém cujos poder e graça a tudo suplantam. A manhã da ressurreição de Jesus aponta para uma nova realidade, nova e luminosa, na vida dos filhos de Deus. Ouse buscar, não a um morto, mas a quem tem a vida e no-la oferece, plena e graciosa.
                                                                                  Recife, 29.11.2011 
     Válter Sales

ORAÇÃO - CANAL DA GRAÇA

ORAÇÃO – CANAL DA GRAÇA

     “Deus vem e fala   Sua  Palavra  nos
      surpreende no pecado,  nos  encontra
      no desespero, nos invade por meio da
      graça” (Eugene H. Peterson)


            Tem-se confundido oração com a prática de dizer coisas a Deus. Parece-nos haver certa intenção de Jesus em corrigir esse equívoco, em Mt 6.8 –          “...Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais”. Ora, se Deus sabe, e quem o afirma é Jesus Cristo, podemos descansar em seu conhecimento, sua boa vontade e sua provisão. Eugene Peterson, depois de afirmar que Deus nos surpreende por sua palavra, diz-nos também que “o essencial na oração não é o fato de aprendermos a nos expressar, mas de aprendermos a responder a Deus”.
            Temos aqui um revolucionário conceito de oração: responder a Deus. Responder, por que na oração Ele nos revela sua vontade. Oração é comunhão a esse nível. Como dizem os psicólogos da religião, “um cristão amadurecido ora não para pedir alguma coisa, mas para comungar com Deus”. Portanto, não seja a hora da oração uma experiência sofrida, mas alegre comunhão com o Deus de infinita bondade. É comprovar em nosso viver o que Ele realmente é. É deixar Deus revelar-se.
            Enquanto nutrimos nossa ansiedade, interferimos na ação divina, dentro do tempo e das condições por Deus estabelecidas. Deus não trabalha com medidas humanas, nem se confina ao espaço que criamos para as circunstâncias da vida. Quanto tempo queremos dar a Deus para que Ele resolva as nossas questões, por vezes as mais comezinhas? Exemplo: algo que nós mesmos deveríamos resolver, mas atribuímos a Deus, como se fôssemos gestores seus. Resultado: Deus não o faz porque é tarefa nossa, e nós não o fazemos porque abrimos mão de um dever nosso. Fere-se o princípio da fé genuína e coerente, e sucumbimos no desapontamento.
            Podemos pecar indicando caminhos a Deus. Na verdade, o que temos de fazer é seguir o Caminho, que é Jesus Cristo, o Emanuel – Deus conosco. Para conformar nossa vida com Deus é preciso passar por Jesus, seu Filho Eterno. Paulo afirma que Jesus é o único mediador entre Deus e os homens (1Tm 2.5).   E o próprio Jesus declara: “Eu sou o caminho..., ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6).
            A fé que se nutre na oração vai repercutir no dia a dia, na vida prática, nos afazeres ordinários. Quando nos firmamos em genuína fé, “Deus vem e fala – Sua Palavra nos surpreende no pecado, nos encontra no desespero, nos invade por meio da graça”.

                                                                                  Recife, 07.12.2011
    Válter Sales

VAI E NÃO PEQUES MAIS

“VAI E NÃO PEQUES MAIS”

                                                                           “Ficou só Jesus e a mulher no
                                                                                               meio onde estava” (J0 8.9)


            Um dos textos bíblicos mais expressivos da graça redentora de Jesus  Cristo é este de João, capítulo 8, versos de 1 a 11. Não nos importa a observação de que não consta nos manuscritos mais aceitos. Restaurar vidas miseravelmente destroçadas é o que Jesus Cristo faz todos os dias. No caso aqui, trata-se de uma mulher, infeliz, explorada por homens indignos, no corpo e na alma...
            Atrevidamente, em sua sanha hipócrita, eles citaram a lei de Moisés (5). Citaram-na de modo incompleto. Em Lv 20.10 lê-se: “Se um homem adulterar com a mulher do seu próximo, será morto o adúltero e a adúltera”. É a quebra de um princípio – o da pureza da vida, das atitudes nas relações interpessoais, haja ou não haja um enlace oficial. É o ultraje da dignidade de um ser humano do sexo feminino. Jesus não titubeou: “Aquele que estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire uma pedra” (7).
            O relato prossegue com uma subtileza fenomenal – “Ficou só Jesus, e a mulher ali em pé” (9). O libelo acusatório já não há. A sentença de morte diluiu-se na ausência de moral dos acusadores. Foram saindo, um após outro, sob o impacto da Palavra do Cristo. Primeiro os mais velhos, talvez com a consciência mais carregada de pecados que os mais novos. Todos se foram. Ficaram, frente a frente, o pecado e a graça, a pecadora e o Redentor.
            Esse é o grande momento na vida daquela espoliada criatura humana.      O encontro de um pecador com Jesus é a hora de Deus! É o Filho de Deus quem fala: “Mulher, onde estão os teus acusadores? Ninguém de condenou?” (10). “Ninguém, Senhor”, ela respondeu. “Nem eu também te condeno...” (11). Cumprem-se, nesse episódio, alguns textos da Sagrada Escritura, como Jo 3.17 – o Filho de Deus não veio para julgar, mas para salvar. Cf. Jo 12.47 e Rm 8.1 – “Agora, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”.
            Só Jesus ficou com a mulher. Foi o suficiente. Ficou a graça, que é maior que os nossos pecados. Ficou o amor, que cobre uma multidão de pecados. Restou a maravilhosa restauração de um ser humano que se lança aos pés do Senhor. Agora, depois do encontro com Jesus, é nova vida, não há mais o horror da humilhação, o escárnio em público, a exposição da vergonha praticada às sombras, porque não resiste à luz. A vida é restaurada. Há um novo dia, dia de esperança, dia de redenção, de novo sentido existencial – “Vai e não peques mais”. Ficou Jesus, e Jesus é Salvação.


                                                                                  Recife, 08.12.2011
                                                                                       Válter Sales

PARA QUEM IREMOS NÓS?

“Senhor, para quem iremos nós?
Tu tens as palavras da vida eterna”
(Jo 6.68)


            A circunstância em que esse texto se produziu assinala uma hora de definição séria, destas que mudam completamente o sentido da vida. Foi um teste de veracidade para os apóstolos, tanto quanto para os discípulos que bateram em retirada. Jesus falava de sua identidade e das implicações em que desembocaria a disposição humana de segui-lo. Uns após outros, seus seguidores, ouvintes, começaram a abandoná-lo.

            Ficaram os doze, decerto magnetizados pelo ensino do Mestre. Para os que fugiram, o discurso era duro, tal que ninguém poderia suportar. Para os que ficaram, o ensejo de uma identificação maior com o Filho de Deus. Parece ter causado espécie, mesmo àquele que é onisciente – “Quereis vós também retirar-vos?” (67). Pedro toma a palavra e profere uma frase que se tornou a base da genuína fé – “Para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna” (68).

            O que estaria embutido nestas palavras do apóstolo? Entenda-se: não há outro para quem devamos ir. Esta afirmação da unicidade de Deus vem do Pentateuco, em Dt 6.4 – “Ouve, ó Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor”. Os apóstolos conheciam muito bem o Antigo Testamento. Não há outro Deus, como não há outro Cristo. Decerto Pedro raciocinava: se não pudéssemos seguir a ti, a quem haveríamos de seguir?

            Há uma frase sequencial desse pensamento do Apóstolo: “Nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus” (69). Idêntica confissão aparece em      Mt 16.16 – “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Esta, sim, é a chave de nossa inserção numa convivência muito mais profunda, verdadeira e transcendente com o nosso Deus. É como mergulhar na realidade do ser divino, como escreveu o Apóstolo Paulo, na carta aos Gálatas, 2.20 – “Não mais eu vivo, mas Cristo vive em mim”.

            Pedro e seus companheiros optaram por ficar na companhia de Jesus. Fizeram a melhor escolha. Tomaram a decisão certa. No cumprimento de sua missão, todos eles necessitariam da presença encorajadora do Cristo. Aqui se desenha a mais grandiosa experiência da vida: quando se esvaírem os tempos e vier sua consumação, vendo a vida triunfal dos remidos, alguém indagará: “Quem são estes e de onde vieram?” a resposta vem de um anjo: “Estes alvejaram suas vestes no sangue do Cordeiro e são por ele apascentados” (Ap 7.13). “Tu tens as palavras da vida eterna”.

                                                                                  Recife, 17.11.2011
                                                                                       Válter Sales