“O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito” (Jo 3.8)
Esta mui conhecida frase foi dita por Jesus a um sábio judeu, chamado Nicodemos. Mestre em Israel, membro do Sinédrio, representante do judaísmo aristocrático. Era um homem nobre, bem-intencionado, mas espiritualmente desinformado. Curioso, foi a Jesus, de noite (talvez não quisesse comprometer-se), e disse-lhe: “Rabi, sabemos que és mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fezes, se Deus não estiver com ele” (Jo 3.2).
De fato, só mesmo Jesus poderia fazer o que Ele fazia. Ninguém mais. Porém, embora reconhecesse verdade nas palavras de Nicodemos, Jesus não se deixou impressionar por seus panegíricos ou elogios. O muito falar e o falar muito não ditam o modo de ser e de agir do Filho de Deus. O princípio é o mesmo aplicável à oração, de Mateus 6.5-8 – discrição, verdade no falar, coerência entre oração e propósitos.
A acuidade do mestre judeu não foi suficiente para entender o sentido profundo e excepcional da mudança na vida que somente Deus realiza, por meio do seu Espírito. E a figura usada por Jesus foi pneuma (vento e espírito), coisa que Nicodemos não entendia. Nascer de novo, para ele, era por demais enigmático. Voltaria ao ventre materno? Não! Nasceria do Espírito, da mesma forma que Jesus, que dá a nova vida, foi gerado pelo Espírito.
Mas, se não sabemos de que lado vem o vento, ou para onde vai soprar; se não sabemos de que direção vem o Espírito ou para onde nos vai mandar, melhor mesmo é estar onde Ele possa estar e nos assinalar com sua graça histórica, reveladora, restauradora. Não se há de estranhar o que Deus faz, só porque não lhe aferimos o pensamento. Do lado que o Espírito soprar, será sopro de Deus. Ele estará sempre no lugar da comunhão. É o viver no Espírito e andar no Espírito, de Gálatas 5.25.
Eis aí o segredo da vida cristã mais autêntica: comunhão, que não chega a ser segredo, pois que é evidência, e das mais claras. Não há como se esconder do contato com Deus. Nem Adão, atrás das árvores (Gn 3), nem Nicodemos, de noite (Jo 3). Nem há razão para esconder-se. A comunhão é o canal, aberto a todos, por onde jorra a excelsa graça de Deus na direção do homem pecador, mas contrito. A este o Senhor não despreza.
Por que ocultar uma relação tão sublime? Quando o Espírito de Deus sopra sobre nossa vida, tudo se faz novo. É o novo nascimento, mensagem central do Evangelho.
Recife, 24.10.2011
Válter Sales
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