domingo, 13 de novembro de 2011

CONTRIÇÃO


                                                                  “Ao coração quebrantado e contrito
                                                                                  não desprezarás, ó Deus” (Sl 51.17)


            O Salmo 51 foi escrito por Davi numa hora de profunda dramaticidade frente ao hediondo pecado de que trata 2 Samuel, capítulos 11 e 12. É uma confissão marcada por arrependimento. É uma lição sobre a verdadeira adoração, em que o ritual dos sacrifícios, com suas “formalidades exteriores de observância religiosa”, de nada valeriam, se não expressassem, igualmente, o culto de um coração contrito, livre de obstinação por autossuficiência, encharcado de humildade diante do Todo-Poderoso.

            Contrição se define como “arrependimento sincero dos pecados” ou uma “prece que o expressa”. Foi o que Davi fez, depois da incisiva palavra do Profeta Natã, pondo-lhe o dedo em riste. A declaração do verso 17 retrata a profunda verdade de que Deus não desampara a quem o busca em sinceridade de coração. Podemos associar a ele Is 57.15 – “Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos”.

            Essa experiência foi o bastante para fazer do quebrantado salmista um  homem segundo o coração de Deus (At 13.22). É um milagre da contrição, agora testemunhado pelo Apóstolo Paulo. Tudo aconteceu depois que Davi desmoronou diante da verdade sobre sua precária condição moral e espiritual. Prostrou-se, humildemente, diante de Deus (2Sm 12.13; Sl 51.1-4). Livre desse fardo, o rei dispos-se a viver para Deus, e o fez pelo resto de sua vida. Deus não despreza um coração contrito.

            Quando sentimos, no mais íntimo de nós mesmos, necessidade de orar, sentimo-nos, também, pequenos demais para estar diante de Deus. Mas é exatamente aí que Deus usa de misericórdia para conosco, inclina-se desde seu Sublime Trono para escutar nossa súplica e nos enxugar o pranto dorido. É aí que seu poder se aperfeiçoa em nossa fraqueza (2Co 12.9).

            Algo novo e extraordinário pode acontecer na vida de uma pessoa em estado de completa contrição com e diante de Deus. A vida em Cristo reserva fatos extraordinários não especialmente a pessoas extraordinárias, mas a quem se investe no Deus Sobrenatural, para quem nada é impossível. Tudo é possível ao que crê em Deus, porque para Deus tudo é possível!


                                                                                  Recife 30.10.2011

                                                                                      Válter Sales

ESPERA SILENCIOSA


                                                                       “Espera pelo Senhor, tem bom ânimo,
                                                                       e fortifique-se o teu coração; espera,
                                                                       pois, pelo Senhor (Sl 27.14)


            Esperar é um exercício às vezes doloroso, desapontador. Mas é de extrema necessidade, pois que contribui para a nossa maturidade. É uma provação que tem o objetivo de nos aprovar. Vêm dos escritos de Tiago (1.2-4) informações acerca dos benefícios da provação da nossa fé, que produz perseverança e esta produz integridade e perfeição – “para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes”.

            Esbarramos em nossas limitações mentais e carência de sensibilidade espiritual. Excitamo-nos, ficamos nervosos quando nossas expectativas não se realizam como nós as queremos. Paremos um pouco e pensemos: nem tudo tem de ficar bastante claro no momento que quisermos. O tempo de Deus não é o nosso tempo. Ele é infinito, eterno. Nós temos pressa. Somos finitos.

            Coisas há que, de pronto, são captadas pela nossa percepção. Fatos há, entretanto, que só serão compreendidos ao longo da vida. Isto pode significar que Deus nos vai trabalhando enquanto se vai distendendo o tempo. Vai nos burilando enquanto vida houver. Nem sempre estamos preparados para receber tudo de uma vez. Então Deus aplica, paulatinamente, sua metodologia, em doses necessárias ao nosso crescimento. E ninguém cresce de um lance... Tudo é perfeitamente gerido por sua infinita sabedoria. Necessário será, por conseguinte, viver em sintonia com Deus para irmos nos apercebendo de sua operação. Na economia divina tudo se faz pelos métodos do Altíssimo.

            É preciso esperar pelo Senhor. É a possibilidade que temos de manter o nosso ânimo em alta. Davi diz: “Espera e tem bom ânimo e fortifique-se o teu coração”. E diz mais: “Esperei confiantemente pelo Senhor; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro” (Sl 40.1). Expoentes da profecia como Isaias e Jeremias lançam mais luz à questão: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor” (Is 55.8). “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que desejais”, arremata Jeremias (29.11).

            Que nos resta, senão esperar pelo Senhor? Esperar e viver no compasso de Deus, cujas ações jamais falham. Seus atos são perfeitos como perfeito Ele é. “Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa; dele vem a minha salvação”
(Davi, Sl 62.1).


                                                                       Recife, 07.11.2011
                                                                            Válter Sales

ESPERANDO NO SENHOR


                                                                       “Espera pelo Senhor, tem bom ânimo,
                                                                       e fortifique-se o teu coração; espera,
                                                                       pois, pelo Senhor (Sl 27.14)


            Esperar é um exercício às vezes doloroso, desapontador. Mas é de extrema necessidade, pois que contribui para a nossa maturidade. É uma provação que tem o objetivo de nos aprovar. Vêm dos escritos de Tiago (1.2-4) informações acerca dos benefícios da provação da nossa fé, que produz perseverança e esta produz integridade e perfeição – “para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes”.

            Esbarramos em nossas limitações mentais e carência de sensibilidade espiritual. Excitamo-nos, ficamos nervosos quando nossas expectativas não se realizam como nós as queremos. Paremos um pouco e pensemos: nem tudo tem de ficar bastante claro no momento que quisermos. O tempo de Deus não é o nosso tempo. Ele é infinito, eterno. Nós temos pressa. Somos finitos.

            Coisas há que, de pronto, são captadas pela nossa percepção. Fatos há, entretanto, que só serão compreendidos ao longo da vida. Isto pode significar que Deus nos vai trabalhando enquanto se vai distendendo o tempo. Vai nos burilando enquanto vida houver. Nem sempre estamos preparados para receber tudo de uma vez. Então Deus aplica, paulatinamente, sua metodologia, em doses necessárias ao nosso crescimento. E ninguém cresce de um lance... Tudo é perfeitamente gerido por sua infinita sabedoria. Necessário será, por conseguinte, viver em sintonia com Deus para irmos nos apercebendo de sua operação. Na economia divina tudo se faz pelos métodos do Altíssimo.

            É preciso esperar pelo Senhor. É a possibilidade que temos de manter o nosso ânimo em alta. Davi diz: “Espera e tem bom ânimo e fortifique-se o teu coração”. E diz mais: “Esperei confiantemente pelo Senhor; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro” (Sl 40.1). Expoentes da profecia como Isaias e Jeremias lançam mais luz à questão: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor” (Is 55.8). “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que desejais”, arremata Jeremias (29.11).

            Que nos resta, senão esperar pelo Senhor? Esperar e viver no compasso de Deus, cujas ações jamais falham. Seus atos são perfeitos como perfeito Ele é. “Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa; dele vem a minha salvação”
(Davi, Sl 62.1).


                                                                       Recife, 07.11.2011
                                                                            Válter Sales

A PARÁBOLA DO OLEIRO


                                                                  “Não poderei eu fazer de vós como fez
                                                                                  este oleiro, ó casa de Israel?” (Jr 18.6)


            Cuido que parábolas na Bíblia não sejam uma especificidade do Novo Testamento. Não ouso transgredir gênero literário. Atenho-me, tão somente, ao seu conteúdo. O texto de Jr 18.1-6 dá-nos um registro realista de um oleiro com as mãos no barro e o barro em suas mãos. Enquanto moldava um vaso, este se quebrou em suas mãos. É o retrato de uma nação, de um povo, formado por barro inferior e vasos facilmente quebráveis. Somos nós, humanos, cuja soberba por vezes empana nossa realidade.

            O oleiro não desiste. “Ele estava entregue à sua obra” (3). O vaso se quebrou, estragou-se, mas do mesmo barro ele fez outro vaso, “segundo lhe pareceu bem” (4). Até aí temos a figura de um artista do barro, da cerâmica, arte hoje, como desde a Alta Antiguidade, decantada como expressão cultural. Não é, contudo, daquilo que um homem pode fazer, que Deus está falando ao Profeta Jeremias. Ele quer falar de Si mesmo, do que Ele faz com a sua graça – vidas quebradas, estragadas, são refeitas pelas mãos do Supremo Artífice.

            Então vem o verso 6 – “Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro?”.
É certo que Deus faz! Ele restaura vidas que se destruíram na escravidão do  pecado. Ele redime o espírito machucado pelas muitas contradições da existência humana. Ele enxuga lágrimas de desespero que deslizam, trêmulas e incontidas, pela nossa face. Ele preenche o vazio existencial de vidas já sem rumo, que não veem senão o fundo do poço e um fim trágico. Ele põe esperança onde o desespero predomina e constrói caminhos a serem trilhados pela fé.

            Há dois ângulos de serviço na parábola do oleiro. Há a modelagem porque o oleiro cria, como Deus nos criou. Mas veio a queda (Gn 3), e o que era muito bom, tornou-se tragédia. Entretanto, o divino oleiro não fechou o seu ateliê. Continuou sua obra sobre as mesmas rodas. A olaria continuou aberta. Então vem a remodelagem. É Deus refazendo nossas vidas. É Deus resgatando-nos em Cristo Jesus. No Antigo Testamento Deus cria. No Novo Testamento Jesus recria – “Se alguém está em Cristo, nova criatura é (literalmente, nova criação), as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2Co 5.17).

            Há um propósito especial do Divino Oleiro em relação a nós: é restaurar a relação entre Deus e o homem. Há sempre algo novo que Deus pode fazer por nós e em nós. Todas as áreas da vida podem ser restauradas. Das relações, dos negócios, das emoções, da vocação, da família, do caráter cristão, enfim. Deus tem direito sobre esse barro, que somos nós (Rm 9.21). O objetivo último é a sua glória (1Cr 29.11). Chegar a esse patamar é glória também nossa.

            Está quebrada a sua vida? Não se desespere: tudo pode ser refeito quando nos quebramos nas mãos de Deus. Ele quer fazer de cada ser humano um vaso novo. É como expressar seu amor por nós.
                                                                                          Recife, 31.10.2011
                                                                                               Válter Sales

"SE CRERES VERÁS A GLÓRIA DE DEUS"


“Não  te  disse  eu  que  se  creres       
 verás a glória de Deus?” (Jo 11.40)


            A glória a ser mostrada é de Deus. Não é dos homens. Nem mesmo do homem Jesus, que, nesse contexto, tinha o propósito especial de revelar Deus.   É parte de seu ministério público, em que os milagres afirmavam a íntima relação do Filho Jesus com o Pai Deus. Quem fosse capaz de crer no que Jesus fazia, também seria capaz de ver a glória de Deus nele.
            Tudo ocorre em Betânia, aldeia onde residiam os amigos de Jesus: Maria, Marta e seu irmão, Lázaro, ressuscitado pelo Senhor, morto que era, havia quatro dias. Inimaginável, para a visão científica e humana. Não para Deus. Daí as palavras enfáticas de Jesus: “Não te disse eu que se creres verás a glória de Deus?”.
Contra qualquer expectativa: Lázaro estava morto. Morto de quatro dias. Já em estado de decomposição – “já cheira mal” –, disse Marta. Há um túmulo que pode ser visitado. Há, nele, um corpo sem vida. Que fazer? Apenas chorar. Jesus também chorou (35). Chorou, como o fez, vendo a Cidade Santa mergulhada em pecados, e sem olhos para ver (Lc 19.41ss). O coração de Deus se compunge quando nos afastamos dele.
Que fazer, a essa altura? Jesus ensina: Crer. Crer para ver a glória de Deus. Não crer, não traz glória a ninguém. A fé provoca o agir de Deus. A fé tanto leva o homem a Deus como traz Deus ao homem. A fé torna Deus real em nossa vida. Assim pensou o autor aos Hebreus (11.6) – “Sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam”.
A Marta, como a qualquer um de nós, está reservado crer em Deus de todo o coração. A verdadeira fé não frustra, não decepciona. É semente que não se perde, porque plantada no coração do Pai Eterno. Não crer é pedra que fecha a porta para a vida. “Tirai a pedra”, ordenou Jesus. Uma vez removida, Lázaro saiu do túmulo. A vida ressurge. A vida renasce em obediência à Soberana voz. Mas agora é preciso tirar as ataduras..., que são um obstáculo à vida. “Desatai-o, e deixai-o ir”, completou o Senhor (44).
E Lázaro se foi. Quem creu viu. Quem crer verá.

                                                          


Recife, 30.09.2011  

    Válter Sales

           

DEUS NO CENTRO DA VIDA


                                                                                  “Todos os caminhos do homem são
puros aos seus olhos, mas o Senhor
pesa o espírito” (Pv 16.2)


            Por espírito aqui, entenda-se “caráter ou disposição moral”. Quando Salomão diz que “o Senhor pesa o espírito”, simplesmente sequencia a ideia esposada no verso anterior (Pv 16.1), pela qual aprendemos que a resposta certa não é sempre a que atende aos planos do coração humano, por vezes enganoso e corrupto (Jr 17.9), mas a que se coaduna com os pensamentos e planos sábios da mente divina. A justiça própria pode satisfazer ao homem, mas Deus é o juiz final de todas as coisas.

            Todos os caminhos que o ser humano traça para si mesmo, “são puros aos seus olhos”, mas as intenções do seu coração são avaliadas por Deus. E nada se lhe escapa!. Por conseguinte, todos deveriam ser entregues ao Soberano Senhor, literalmente, “rolados sobre” Ele. Podemos buscar apoio na Escritura: Sl 37.5 – “Entrega o teu caminho ao Senhor...”; “Descansa no Senhor e espera nele” (7).  Pv 3.5 – confiar em Deus de todo o coração e não confiar em si mesmo. Paulo ensina que quem nos julga é o Senhor (1Co 4.4).

            Nós traçamos nossos caminhos e fazemos declarações de perfil categórico, mas o destino de nossas vidas, o sentido de nossas ações, a última palavra mesmo é de Deus, que “declara”, literalmente “declara” sobre nós, do alto de sua infinita sabedoria e seu inescrutável ser. Aqui associamos Tg 4.13 – “Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos o ano, e negociaremos, e teremos lucro”. Que se nos recomenda? “Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo” (15).

            Quando inclinamos nossa mente diante do Altíssimo, Ele nos edifica, constrói uma nova vida, uma nova realidade, um novo sentido existencial. É aí que começamos a entender que com Deus no centro de nossas decisões, tudo faz sentido, tudo dará certo. Nossa entrega a Ele comporá a certeza de que em nós “Ele faz tudo bem” (Mc 7.37).

            Não são os nossos argumentos, menos ainda a nossa ansiedade, que vão determinar o modo de Deus agir. Ele agirá pelo que é, por sua natureza e caráter. Assim, no final de tudo, a solução será de Deus, o mérito será seu, a glória será sua, não nossos. Não há homens poderosos na oração. Há orações feitas por pessoas vulneráveis, ao Deus Todo-Poderoso, para que a glória e o poder sejam de Deus e não nossos.


                                                                                  Recife, 27.10.2011
                                                                                      Válter Sales

"ELE FAZ TUDO BEM"


                                                                                  “Tudo ele tem feito esplendidamente bem:
                                                                                  não somente faz ouvir os surdos, como               
falar os mudos” (Mc 7.37)


            Este verso foi inspirado num contexto de milagres. Marcos é especialista nessas narrativas. É, por isto, um evangelho rápido e sucinto, direto e objetivo. Não se perde em argumentos. Para esse evangelista, Jesus é o que é; faz o que faz, e pronto. Não há necessidade de desdobrar-se em argumentos para provar que Jesus é Deus. Ele é Deus, embora muitos não creiam nesta verdade.

            Há um Efatá solene, ungido e decisivo – Abre-te! e, logo, se abriram os ouvidos e se lhe soltou o empecilho da língua, e o surdo-mudo, ou gago, nalgumas versões, falava desembaraçadamente (Mc 7.35). O texto bíblico não deixa dúvida: o ato de Jesus foi instantâneo e perfeito. Deixou a todos maravilhados – “Tudo ele tem feito esplendidamente bem...”. O episódio nos remete a Gn 1.31 e Jo 5.17, e nos revela um Deus que não descansa, mas permanece trabalhando e fazendo tudo bem.

            O fato ocorrido nas regiões de Decápolis dá-nos mais uma lição, ligada à  pressão de nossas necessidades. A escritora Sandra Querin afirma: “Nós nos confundimos, às vezes, achando que só porque nós temos uma necessidade, Deus deve nos responder ao nosso modo e no nosso tempo. Isso significa deixar a necessidade nos governar e não o Senhor. Independentemente do que você está passando agora, a sua necessidade pode até ser a sua resposta!”.

Uma coisa é certa: Deus é infinitamente maior que a nossa necessidade. Não permitamos, pois, que ela bloqueie nossa comunhão com o Todo-Poderoso e comprometa nossa paz. A          quilo que Ele revela à nossa mente e coração é a única  revelação que nos traz a paz. Sandra Querin arremata: “A paz de Deus é apenas um indicador da revelação e da verdade de Deus. Se você está inquieto e inseguro, escolha o caminho que traz paz ao seu coração, pois com certeza Deus reside nesse caminho”. Ouça Paulo, em Cl 3.15.

Efatá! Cuido que esta Palavra do Senhor tem a ver com nós outros, hoje, e sempre. Quem escolhe o caminho que leva a Deus, Jesus, certamente vai encontrar-se com ela.


                                                           Recife, 25.10.2011

                                                                Válter Sales

"O VENTO SOPRA ONDE QUER"


“O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito” (Jo 3.8)


            Esta mui conhecida frase foi dita por Jesus a um sábio judeu, chamado Nicodemos. Mestre em Israel, membro do Sinédrio, representante do judaísmo aristocrático. Era um homem nobre, bem-intencionado, mas espiritualmente desinformado. Curioso, foi a Jesus, de noite (talvez não quisesse comprometer-se), e disse-lhe: “Rabi, sabemos que és mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fezes, se Deus não estiver com ele     (Jo 3.2).

            De fato, só mesmo Jesus poderia fazer o que Ele fazia. Ninguém mais. Porém, embora reconhecesse verdade nas palavras de Nicodemos, Jesus não se deixou impressionar por seus panegíricos ou elogios. O muito falar e o falar muito não ditam o modo de ser e de agir do Filho de Deus. O princípio é o mesmo aplicável à oração, de Mateus 6.5-8 – discrição, verdade no falar, coerência entre oração e propósitos.

            A acuidade do mestre judeu não foi suficiente para entender o sentido profundo e excepcional da mudança na vida que somente Deus realiza, por meio do seu Espírito. E a figura usada por Jesus foi pneuma (vento e espírito), coisa que Nicodemos não entendia. Nascer de novo, para ele, era por demais enigmático. Voltaria ao ventre materno? Não! Nasceria do Espírito, da mesma forma que Jesus, que dá a nova vida, foi gerado pelo Espírito.

            Mas, se não sabemos de que lado vem o vento, ou para onde vai soprar; se não sabemos de que direção vem o Espírito ou para onde nos vai mandar, melhor mesmo é estar onde Ele possa estar e nos assinalar com sua graça histórica, reveladora, restauradora. Não se há de estranhar o que Deus faz, só porque não lhe aferimos o pensamento. Do lado que o Espírito soprar, será sopro de Deus. Ele estará sempre no lugar da comunhão. É o viver no Espírito e andar no Espírito, de Gálatas 5.25.

            Eis aí o segredo da vida cristã mais autêntica: comunhão, que não chega a ser segredo, pois que é evidência, e das mais claras. Não há como se esconder do contato com Deus. Nem Adão, atrás das árvores (Gn 3), nem Nicodemos, de noite (Jo 3). Nem há razão para esconder-se. A comunhão é o canal, aberto a todos, por onde jorra a excelsa graça de Deus na direção do homem pecador, mas contrito. A este o Senhor não despreza.

            Por que ocultar uma relação tão sublime? Quando o Espírito de Deus sopra sobre nossa vida, tudo se faz novo. É o novo nascimento, mensagem central do Evangelho.

Recife, 24.10.2011
     Válter Sales