domingo, 24 de abril de 2016

SAIA DO LUGAR COMUM (Pr. Sergio Dusilek)



Que tipo de pessoa você é? Um observador externo pode pensar em você como alguém que vive uma normalidade, um padrão? Ou você e daqueles que se ligam em novidades? Em outras palavras além da sua digital, íris do olho e saber que Deus o criou de modo singular, há algo mais em você ou na sua ação que faz com que você seja notado? Não falo aqui em excentricidade. Falo em ousar sair do lugar comum.

Lugar comum pode ser uma simples acomodação. E quando Não mudamos uma realidade (ou mesmo de realidade) pelo simples fato de Não querer algum desgaste maior. Não queremos trabalho, chateação, tensões oriundas do “novo”… ficamos acomodados. Deixamos de explorar o mundo, de aproveitar oportunidades de viver novas experiências. A acomodação e uma espécie de trancafiamento da vida. Um deixar seguir um curso “normal”. Por isso se torna um lugar comum. Interessante que as grandes experiências da Bíblia (como bem destaca David Wong em Alem dos Limites) aconteceram fora da zona de conforto. Parece que a fé tem algo haver com mobilidade, abertura para o novo, certeza da companhia de Deus em meio a imprevisibilidade que os “caminhos invisíveis da fé” (como bem dizia Rubem Amorese) normalmente nos conduzem.

A ausência de reflexão também pode ser considerada como lugar comum. Fazer o que sempre se fez, ou o que sempre foi feito, sem pensar e no mínimo atestado de preguiça intelectual. Viver um conservadorismo sem nem saber o que e ser conservador e se condenar ao lugar comum. Pelo menos para adotar os valores dos outros que haja um mínimo de reflexão, para que seja seguida por uma escolha. Se vamos viver com a moralidade da maioria, como dizia Nietzsche, que seja por opção e Não por repetição. Ministerialmente falando, não faca uma coisa porque outros a fizeram. Não seja um pastor, um lider que repete o que viu, a não ser que seja fruto de deliberada escolha por sua parte. Lugar comum e não questionar a herança que recebeu.

Outro componente do lugar comum e a imitação. Se a falta de reflexão tende a perpetuar a herança recebida sem ao menos se saber “os porques” disso, os que desprezam a herança em nome da novidade reproduzem o que recebem. Ha tanta falta de reflexaão numa apropriação a critica conservadora como no mimetismo da novidade. Em ambos o “lugar comum” acaba sendo o porto ou o destino final. Só muda a perspectiva dependendo da linha. A fébre pelo novo conduz a um lugar comum: o do produto consumido. Não se trilha caminhos de fé, mas se move pelos corredores de um shopping. Querer ser o que Não se e; querer reproduzir o que Não foi fruto de reflexao conduz ao lugar comum.

Interessante, para os adeptos da novidade, o alerta feito pelo consultor Luis Marins em artigo para uma revista de companhia aérea. Ele dizia que os que buscam inovação fazem muito bem; porém os que procuram novidade pelo simples fato de ter o novo acabam infidelizando os clientes. Ao invés de ampliar, as coisas decrescem. Se você Não e fiel com o que oferece, dizia ele, como cobrar fidelidade dos outros? Não busque algo novo somente pela novidade. O novo pelo novo. Se tiver que inovar, inove. Contudo  faca isso debaixo da direção divina e Não da importação simplista e simploria de modelos.

Por mais paradoxal que pareça, nossa sociedade tecnológica que consome coisas novas e impensáveis ate algumas décadas atrás, perpetua o lugar comum. Isso porque lugar comum tem haver com a mente e não com os instrumentos que utilizamos no viver. Sair do lugar comum e mudar a percepção da vida, o foco das coisas, e ver de um jeito diferente, espiritual, refletido. Sair do lugar comum envolve mais do que reflexão, envolve abstração: e preciso se ver, se projetar de modo diferente. Novamente lembro: sair do lugar comum envolve atitude interior e não parafernália tecnológica exterior. Aliás não seriam as inovações predispostas a nos manterem no conforto e  por isso a tender para a acomodação e o lugar comum?

Não fique no lugar do comum. Nem no caminho da herança acolhida de modo acrítico, nem tampouco no frisom da novidade. Saia do lugar comum, como um dia um paralítico saiu. Sua atenção, no tanque de betesda (João 5), volta-se para Jesus. Ele ousa, sem poder andar, dar  “passos de fé”. Porque saiu do lugar comum, foi salvo e sarado. Grandes experiências com Jesus estão reservadas aqueles que ousam sair do lugar comum. Seja esse lugar comum uma ideologia, um partido de situação, uma “igreja da moda”, uma panela de amigos que não sai do mesmo lugar e não muda a pauta, etc.

Saia do lugar comum! Você foi feito para viver acima da mediocridade.

Pr. Sérgio Dusilek

Filed under: Teologia — sdusilek @ 12:15 am   20/05/2012
 




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domingo, 27 de março de 2016

Moisés: A fé que vence o medo (Heb.11:23-29) (Pr Sergio Dusilek)

 
Aquele que não possui qualquer tipo de medo que seja o primeiro a levantar a mão! Medo faz parte da vida. É com o medo que as seguradoras trabalham. Elas afirmam, “vai que…” “é melhor ter”. Qual é o seu medo? Diz a psicanálise que todo ser humano tem pelo menos uma fobia. Eu confesso: a minha chama-se acrofobia. E a sua?

Moisés nasceu num contexto dominado pelo medo. Se você pensa que nascer na miséria africana é um infortúnio, imagina o que foi vir ao mundo com a sentença de morte decretada. Assim como ocorreu com Jesus, Moisés sobreviveu a um infanticídio. Ele foi um exemplo vivo de que com a fé podemos vencer o medo, sair do estado de estagnação, partir para dentro de novos e maiores desafios.

1)A fé vence o medo da violência (v.23): a Palavra diz que Moisés era formoso (asteios), lindo, tinha algo diferente na sua cara. A fé que ele viveu foi a que aprendeu dos seus pais (Anrão e Joquebede). Fé que desafia as decisões de Faraó. E isso mostra o quanto uma família pode fazer por um filho… A fé que vence o medo transforma cemitérios em condutos de vida. Se no Nilo os infantes eram afogados, foi pelo rio que Moisés foi salvo. Ele calmamente flutuou pelas águas da morte. E aqui destaca-se a presença da racionalidade na fé. Um cesto foi feito. Foi por um cesto que Paulo foi salvo. Sempre haverá um cesto!!!

2) A fé vence o medo da desinstalação (v.24): já mudou de emprego, de endereço (cidade)? De igreja? Os hábitos da vida trazem um ar de segurança para nós. Por isso costumamos fazer tudo para não mudar. Moisés estava bem instalado: vivia na melhor corte e no maior palácio do seu tempo. Seu futuro, como filho adotado da filha de Faraó (Bítia/Termutis) era promissor. Mas ele se recusa a permanecer ali, antes optando por ser maltratado (synkakoucheistai). Moisés aqui novamente se assemelha a Jesus: enquanto ele renunciou a glória terrena por causa do povo, Cristo renunciou a glória do céu por causa da humanidade. Isso porquê:
2.1-um coração cheio de fé se torna ardente por justiça. Impérios são construídos sobre a injustiça. O Reino de Deus é sobre a JUSTIÇA. 2.2-o coração cheio de fé é tomado por um sentido de missão. Só diz não ao Egito quem sabe o porquê de estar aqui;  2.3-o coração cheio de fé coloca os valores espirituais acima dos materiais. Fé implica em valores altos, elevados (Is.55), que ocasiona escolhas elevadas rejeitando ora pecado, ora facilidades;

3) A fé vence o medo do desconhecido (v.27) – Moisés foi para o deserto de Midiã. Caminhar para o deserto é para quem diz que Deus tem o controle sobre sua vida. A fé que vence o desconhecido é a que nos leva para o desconhecido. E sabemos que o “desconhecido” é mais forte do que tudo que conhecemos (ira de Faraó-v.27)

4) A fé vence o medo da rejeição/solidão – já foi rejeitado? Solidão é passar pelo deserto sem Deus. E isso Moisés disse que não aceitava (Ex.33). Rejeição é o que ele achava que o esperava na volta para o Egito, 40 anos depois (Ex.4). A fé concede um discernimento tão grande da parceria com Deus, que isso se traduz em presença contínua e aceitação do Alto! Quando vencemos o medo? Quando olhamos somente para uma direção, a do Alto; quando o único olhar que cruza com o nosso é o dEle; quando nada mais rouba a nossa atenção; quando ficamos parados/”hipnotizados” contemplando a beleza do Senhor; aí venceremos o medo. Afinal, quem tem esse Pai, o que pode temer? (Rm.8:31-39)

[Pr.Sergio Dusilek]
Filed under: Estudos,Teologia — sdusilek @ 3:04 pm   11/12/2012

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sábado, 26 de março de 2016

CREIO EM DEUS





            Creio no guarda de Israel, que não dormita, testemunha celeste de minhas madrugadas. Creio no Deus consolador, que suaviza a dor e me consola a alma frente às amarguras e às contradições desta vida.

            Creio num Deus encorajador, que me acode nos dias sombrios, de desânimo e desapontamento. Ele levanta o caído, consola o desesperado, salva o perdido, regula o desvairado.

            Creio num Deus real, que se manifesta por seu Espírito, sua essência – sua identidade essencial –, Ele mesmo. Não havendo outro ser pleno e a ele correspondente exato, faz-se, Ele mesmo, “autocomunicação” no Filho e no Espírito. É essa evidência, sustentadora da fé, cognição e experiência – conhecimento por semelhança ou representação do objeto, e convivência, o que torna real, quase palpável, esse objeto. Não há não-crer, quando se capta e se vive a experiência da comunhão. Só mesmo uma graça especial torna aplicáveis os valores do divino à esfera do humano.

            À face de uma singular experiência que envolveu a perda de bens e filhos, às dissimulações de seus amigos e à incredulidade e insanidade da própria esposa, o resignado patriarca Jó declara: “Eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levanrará sobre a terra” (Jó 19.25). Às suas palavras faz altissonante eco o Apóstolo Paulo: “Eu sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia” (2Tm 1.12), depois de desfilar seus sofrimentos por causa do Evangelho. Esses textos conferem um refrescor extraordinário à alma sofrida em meio aos revezes existenciais.

            Ilustrado e apreciado pregador, o Pastor Paschoal Piragine declarou, em um de seus sermões: “Não dá para viver uma fé genuína sem que nalgum momento da vida a nossa fé seja provada”. Neste espírito e nesta consciência, Max Lucado escreveu: “Sábios são aqueles que estão acima de suas feridas”. Adusa-se, na mesma linha de raciocínio: àqueles que são abastecidos pela graça de Cristo, as feridas atingem-lhes o corpo sem desfigurar-lhes a alma. Nossas virtudes interiores, geradas na comunhão do Espírito Santo, não se deslustram por vicissitudes quaisquer da vida, mesmo as mais amargas e depreciadoras. Lembra-nos inspirada e inspiradora letra de um hino antigo, alusivo ao sacrifício de Cristo na cruz: “Feriram seu corpo, mas não seu amor”. Sua alma intristeceu-se, mas seu querer restaurador não se abalou. 

            Assim, mantenho-me firme, nesta fé e nesta relação “divino-humana”. Esta possibilidade é, já, produto consumado da Excelsa Graça. Minha âncora segura.
                                                                      
Válter Sales, em 18.11.2015

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Áudio - Pr Válter Sales: Disciplina espiritual


A FÉ DAQUELES QUE O MUNDO NÃO ERA DIGNO (HEB.11.38) (Pr. Sérgio Dusilek)

Ou ainda: Quando os Mortos Falam
 
É possível a um morto falar? Não estou falando nem entrando no mérito de encontros espíritas. A Bíblia é muito clara a esse respeito. Mas, por exemplo: já passou por alguma experiência de vida na qual você lembrou claramente do exemplo, da fala, do olhar de alguém que já foi para a eternidade?

Há pessoas que marcaram o mundo pela sua genialidade. Falamos até hoje de Sócrates, Platão, Aristóteles, Kant, Hegel. Há outros que marcaram gerações pelo engajamento. Como não recordar de Martin Luther King Jr., Gandhi, Mandela, Madre Tereza de Calcutá? Outros pela coerência de vida como Bonhoefer, John Huss.[1] O comum a todos estes: eles transcenderam a mesmice. Viveram suas vidas de modo abnegado. Serviram a ideais e aos seus semelhantes.

Mas falta a lista daqueles que marcaram pela fé. Que foram o ponto de tangência entre o Eterno, a realidade supra-sensível e este mundo terreal. De tantos possíveis exemplos, vamos ficar com o de Abel.

1)    QUEM ERA ABEL (Gen.4:1-15; I João 3:12; Mt.23:35; Heb.12:24)
Abel é apresentado como o segundo filho entre Adão e Eva. Interessante no entanto é que ao longo das páginas sagradas há mais citações de Abel do que onde ele primeiramente aparece (Gen.4). Sua vida foi resumida a um culto. Mas esse ato de adoração disse tanto a respeito dele e de Deus que até hoje falamos nele, mesmo sendo ele de uma época em que não havia papel, nem arquivo (diferente de Sócrates). Abel se tornou uma vida que fala depois de morta.

Ele era pastor de ovelhas. Suas obras eram boas, não por conta do tipo de sacrifício que ele fez, mas pelo coração com que ofertou. Não foi o preço em si, mas o valor que ele deu aquele ato de culto. Esse valor fica patente quando percebemos que Abel não só traz uma “excelente oferta”, mas também quando percebemos seu cuidado e preparo para esse momento mostrado no fato de separar “as primícias”.

Era um cara de paz. O irmão com semblante transtornado o chama. Ele vendo isso vai encontrá-lo. E ouso dizer que não ofereceu reação. Foi como ovelha para o matadouro, assim como aconteceu com o Cordeiro que ele sacrificara.

2)    VIDAS DAS QUAIS O MUNDO NÃO É DIGNO SÃO AQUELAS QUE A MORTE NÃO AS CONSEGUE CALAR. (Heb.11:38,4; Gen.4:10)
São vidas que por mais ou menos tempo que vivam deixam um lastro e um rastro.

O rastro que Abel deixou, as pegadas que formaram um caminho estão ligadas a sua compreensão da natureza humana e a sua percepção sobre Deus. Certamente que Abel (Deus sim, Abel não) não tinha ciência ali que o cordeiro seria a figura bíblica para apontar e simbolizar o sacrifício perfeito (Heb.10) de Jesus. Aquele que anularia a necessidade de QUALQUER outro.

Mas fato é que Abel teve a compreensão da seriedade do pecado, de sua interposição na relação com Deus e que uma vida inocente teria de fazer a expiação. Algo tem que ficar entre nós e Deus. Precisamos de uma mediação, papel esse que Cristo irá personificar de uma vez por todas (I Tm.2:5; Heb.12:24). Nesse sentido, antes de qualquer fala explícita sobre a Graça, Abel aponta para ela, assumindo-se naquele altar como pecador e contando com o perdão de Deus.

Essa adoração se tornou um paradigma, um modelo. Sem música. Sem som. Contudo reverberando até a presente data. Quando adoramos com consciência de que é pela Graça, Deus nos percebe e “vem em nossa direção”. O autor de Hebreus no final do capítulo doze vai falar (devido a sua compreensão judaica de Deus) de irmos até o “monte santo”. Mas Abel é uma prova de que o Senhor vem ao nosso encontro. Isso porque fé é o entendimento de que Deus está perto e não longe.

Enquanto Caim vai pelas suas más obras (I Jo.3:12; Mt.23:35), confiando em seu esforço, Abel reconhece sua precariedade e sua falência espiritual e moral. Quem não crê na necessidade do sangue, acaba derramando de alguém. Abel foi por isso, justificado. E esse foi seu lastro, sua herança: a possibilidade da justificação.

3)    VIDAS DAS QUAIS O MUNDO NÃO É DIGNO SÃO VIDAS QUE SÃO MAIORES DO QUE A MORTE.
Vidas que são maiores do que a morte são vidas do tamanho da VIDA. Viver não é pouca coisa. É algo tão bom que até Jesus agonizou pela vida (Mt.26). Todos os grandes e bons personagens da História da Humanidade tiveram em comum um apego a vida. São vidas que valeram a pena serem vividas. Eram significantes e por isso seu significado ficou impresso na memória da Humanidade. Foram vidas que parece que faltou o “aviso” de que acabou. Elas “insistem em continuar”, através da sua obra, do seu testemunho. Penso aqui agora por exemplo (e buscando uma proximidade maior) em gente como meu falecido pai, Pr.Mauro Israel, Pr.Xavier, entre outros.

Vidas que são maiores do que a morte são vidas que pela fé e por causa da fé, morreram para um modelo ensimesmado de viver (Mt.16:25). São vidas que se perderam e foram achadas. Erasmo de Roterdã (Elogio da Loucura) falava da cruz como símbolo maior desse desapego ao mundo. A cruz é o atestado da indignidade, na perspectiva humana. Já na divina, a cruz de Jesus foi o atestado da Sua dignidade. Ele só foi para Cruz porque era DIGNO. Abel foi um sangue inocente derramado sobre a Terra pelo seu irmão. Jesus foi o JUSTO de Deus que, sendo inocente, foi morto pelos “seus irmãos judeus”[2]. O que não dizer do testemunho apostólico e primitivo sobre Dorcas (At.10:38-42)? Há uma interessante ligação entre aproveitar a vida e ir para o ralo da História e ser aproveitado pela vida e partir para os anais da mesma.

Vidas que são maiores que a morte são vidas que apontam para a existência de uma realidade ulterior. Como explicar racionalmente que exista gente que excedeu seu tempo, sua geração, há não ser reafirmando pela fé que a vida não se resume a materialidade? Vidas maiores que a morte mostram que a existência não pode ser só matéria (circunscrita a ela). E aí chegamos no primado da fé: a dignidade daqueles que esperam, almejam, visualizam o céu de Deus (Heb.11:13-16). Há uma dignidade na ressurreição!

Vidas maiores que a morte são vidas que por causa da fé, ainda VIVEM! Mas agora na eternidade com Jesus Cristo!

O que esperar da vida? Doe-se. Faça valer a pena. E saiba que seu rastro se transforma a cada dia em lastro para minha alma.

IGREJA BATISTA MARAPENDI

Pr. Sérgio Dusilek
 
Filed under: Estudos,Teologia — sdusilek @ 8:44 pm  12/12/2012

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Áudio Pr. Válter Sales: É necessário orar


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

ORAÇÃO NO SILÊNCIO DA ALMA



         A oração de Ana, mãe do Profeta Samuel (1Sm 1.9-17), é um dos quadros bíblicos mais sugestivos e mais inspiradores. Há, nele, a razão inexcusável de que Deus, o Senhor de todas as causas da nossa vida, sobrepõe-se aos fatos de nossa realidade humana, sonhadora e frágil – o Deus da Bíblia não é um deus deslembrado da vida de seus filhos. Ele não se situa como o deus dos deístas, criador, é verdade, mas distanciado de suas criaturas, desinteressado e esquecido. Vê-se uma mulher, em seu sonho natural da concepção, sentindo-se impotente para realizá-lo. O que faz? Recorre a quem criou a vida. Literalmente derrama-se diante do Senhor. Suas palavras em ardente súplica confundem-se com a angústia de sua alma – “Levantou-se Ana, e, com amargura de alma, orou ao Senhor, e chorou abundantemente” (10). E – grandeza maior de quem ora com maturidade! –, o que desejava seria, em última análise, para o Senhor – “E fez um voto, dizendo: Senhor dos Exércitos, se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e lhe deres um filho varão, ao Senhor o darei por todos os dias da sua vida...” (11). Há, por fim, a surpreendente percepção de um sacerdote – Eli. Faltou-lhe acuidade, algo análogo à educação dos próprios filhos, o que resultou no desfecho doloroso narrado em 1Sm 4.5-11, e sua própria morte (12-22).  Aos noventa e oito anos, cego, teria visto a deslustração da glória de Deus, com a tomada da arca pelos filisteus? É certo, sim, que de ambos os fatos tomou conhecimento (17, 22).
         
               Um quadro sugestivo? Sim. Por um exemplo de oração diferente do que se convencionou entre nós. O nosso modelo de oração incorpora a forma, a estética, a audibilidade. Oramos para que os outros vejam e ouçam. Quer-se, nesses casos, a participação da comunidade. Nada a obstar, desde que não se tenha essa forma de orar como sucedânea da oração secreta, no silêncio da alma. Há, ainda, quem ora como se Deus padecesse de alguma deficiência auditiva... 

         A força da oração de Ana emanava do mais profundo do seu ser – “Ana só no coração falava; seus lábios se moviam, porém não se lhe ouvia voz nenhuma” (13). Ana apenas olhava para o Senhor. O que vem a ser esse “olhar para o Senhor”? Assevera Richard Foster que “olhar para o Senhor diz respeito a um fitar interno do coração fixado em Deus, o Centro divino”. Acresce que, numa experiência dessa magnitude, nós “desfrutamos o calor da presença de Deus. Ficamos embebidos no amor e no cuidado divino. A alma, introduzida no Lugar Santo, fica imobilizada com o que vê” (FOSTER, Richard J. Santuário da Alma. São Paulo: Vida, 2011, p. 67. 142 pgs.)  

         Temos aí um exemplo de oração profunda, de um filho de Deus, amadurecido, que ora não apenas para pedir alguma coisa, mas,  sobretudo, para comungar com Deus. Nesse nível de consciência, a oração evolui de usufruto para doação – “o que me deres será teu”. É uma oração-dádiva, doação, daquele modelo que deve expressar o comportamento orante de todo cristão.

         A contemplar os lábios trêmulos de uma mulher sofrida, postava-se um sacerdote um tanto quanto inconsequente. Teve-a por embriagada (13, 14). Sacerdote é homem. Só Deus conhece nossas entranhas – o mais recôndito do nosso ser. Nós, humanos, julgamos pela aparência. Deus vê nossa interioridade. Alguns textos bíblicos reforçam essa forma de entender as relações divino-humanas, como estes:  Pv 21.2 – “...o Senhor sonda os corações”; Sl 7.9 – “...sondas a mente e o coração, ó justo Deus”; Sl 26.2 – “...sonda-me o coração e os pensamentos”; Sl 139.23 – é uma súplica do rei Davi: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos”; Hb 4.13 – “...todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas” e Ap 2.23 – “...eu sou aquele que sonda mentes e corações...”.    

         O quadro é inspirador ao apresentar um nível de relação divino- humana acima do convencional... É o que chamaríamos de oração no Espírito (ou orar com o espírito?). Esse é um tipo de oração-relação que corresponde ao modelo aspirado pelo Senhor, em João capítulo 4, verso 24. Paulo reconhecia a relevância de se orar com a mente e com o espírito (1Co 14.15). Quer-se o todo do ser investido na oração. A inspiração provém do fato de que Deus está conosco na oração para além da mera verbalização. Longe da ostentação farisaica, denunciada com veemência pelo Senhor, a verdadeira oração nos imerge no âmago de Deus. Tais antropomorfismos nos fazem entender que, além de uma relação direta, oração é, também, transcendência. É um contato direto com a Realeza Divina. Toda oração-adoração principia pelo reconhecimento dessa Realeza. Tal não ocorre senão pela graça de Deus. Ao pensar nessa abertura de Deus ao ser humano, incomoda perceber a que distância estamos do padrão bíblico de oração.

         Com a mãe de Samuel, aprendemos que a oração convive com a singeleza de coração, convive com o sofrimento, com a dor da alma. O simples fato de podermos entrar em contato direto com Deus não nos afasta das marcas ordinárias de nossa humanidade. Oração é, sobre todas as ideias que cercam o tema, uma experiência de comunhão com o Altíssimo. Não é um anestésico para as nossas mazelas nem um exercício psicológico para nos relaxar. A oração de Ana transcendia, a partir do silêncio. Não há necessidade de altissonância para a audição do espírito. Basta a sintonia. Essa experiência há de ser natural ao homem-com-Deus. Isto é orar.

         Com o sacerdote Eli, descobrimos que nem todo sacerdócio é intermediação... Como a graça de Deus só pode ser compartilhada por um homem a outro homem, é necessário que aquele que a compartilha seja, de antemão, por ela possuído. Não há como ser um canal fora dessa competência. Eli é uma sugestão a todos que aspiram à excelente obra do episcopado, a que permanentemente revisem posturas e condição, a integridade de seu múnus sacerdotal.

         Sobretudo, o texto que encima este artigo mostra-nos como Deus, o amorável Deus, se compadece de seus filhos. A oração do silencio da alma de Ana não ficou sem resposta. O filho que lhe saiu das entranhas, aquelas mesmas entranhas que agonizaram em oração, tornou-se uma referência profética e sacerdotal para o povo de Israel. De Norte a Sul da Terra Prometida – “Crescia Samuel, e o Senhor era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em terra. Todo o Israel, desde Dã até Berseba, conheceu que Samuel estava confirmado como profeta do Senhor” (1Sm 3.19, 20). Afinal, Eli acertou. Orientou o moço: “Fala, Senhor, porque o teu servo ouve”.

                                               Recife, 23 de Fevereiro de 2016


                                                          Pastor Válter Sales

domingo, 31 de janeiro de 2016

O QUE CABE A NÓS! (Pr. Sérgio Dusilek)

 
Dos muitos testemunhos sobre o saudoso Pr.José dos Reis Pereira destaca-se o registro de sua visão de plantação de igrejas. Para quem não sabe, Pr.Reis foi o homem que Deus usou ainda no início da década de 70 para comprar os dois lotes naquilo que seria a futura primeira sede da PIB do Recreio. Quando aquela igreja começou, já tinha propriedade. A história registra que esse mesmo homem evitou a tentação de se fazer uma mega-igreja. Ao contrário, a cada crescimento, desafiava os irmãos de sua membresia a plantarem igrejas em bairros sem o trabalho batista. Várias igrejas nasceram no campo carioca a partir dessa visão. Os mais pessimistas estimam pelo menos 10. Fato é que conquanto a então Igreja Batista do Rocha tenha crescido, ela não se tornou MEGA, por conta de uma saudável visão.

Sem nenhum resquício de uma possível fixação pastoral por esse tema, quero chamar sua atenção para a questão do crescimento da igreja. E para tanto queria apresentar algumas verdades para sua reflexão (I Cor.3:1-15):

1-A Igreja pode não querer ser grande, mas deverá crescer.
Perceba: não cabe a nós limitar ou crescimento de uma igreja. Crescimento cabe a Deus. É Ele quem o dá. Não somos nós quem o determinamos. Podemos atrapalhar, mas não há como ajudar se tal ação está contida na esfera divina. Portanto cabe a nós definirmos que projeto de igreja queremos ser: MEGA? De Médio porte (como temos falado desde o início)? Porque se não queremos ser grandes, nosso crescimento traduzir-se-á num transbordamento que ocasionará a plantação de novas Igrejas Batistas.

2-O ritmo do crescimento é de Deus (como bem diz o Pr.Eberson), mas a profundidade é nossa.
Não adianta, como já dizia o José Geraldo Carvalho (membro da CBRIO) ser uma igreja grande formada de crentes pequenos. Uma vez que o ritmo do crescimento é dado por Deus cabe a nós buscarmos profundidade. Paulo fala que teve que dar aos Coríntios “leite espiritual”. Eles eram rasos. Tem que haver em nós desejo por profundidade. Querer conhecer, estudar e meditar na Palavra.
Paulo fala também de carnalidade (v.2-3). Isso é imaturidade espiritual e relacional. Não cabe a nós nos fecharmos em grupo e guetos. Cabe o desejo de nos aprofundarmos, de sermos AMIGOS de todos que se apresentarem para construir conosco sólidos relacionamentos. Se o ritmo é de Deus, lembre-se, cabe a nós buscarmos a profundidade bíblica e relacional.

3-Nenhuma Igreja cresce se não estiver preparada para crescer (como dizia em sala de aula o Pr.Falcão Sobrinho).
O crescimento, que no texto de Coríntios se assemelha a noção da chuva que irriga a terra para a colheita, cabe a Deus como destacamos anteriormente. Mas o plantio, o trabalho (v.8), cabem a nós. Isso implica dizer que por vezes nossa igreja não cresce o que poderia crescer (embora mesmo assim esteja crescendo) por ausência de maior envolvimento nosso. Cabe a nós o trabalho, o envolver-se, a preparação para a “chuva”. Só para que você reflita: você já faz parte de algum ministério? Você tem se empenhado em falar de Jesus para aqueles que não O conhecem? Você já se envolveu em algum grupo de comunhão?

No momento em que meditava e orava sobre esse “Maná da 2ª”, nossa Igreja obteve um retorno esperado e pelo qual estávamos orando: foi-nos disponibilizado o espaço do Centro de Convenções do O2 para que tenhamos TAMBÉM o culto pela manhã. Ao passo que damos Glória e Honra a Jesus por essa vitória, cabe a nós o envolvimento e preparação para essa nova fase da vida da nossa igreja. Precisaremos de mais gente na recepção, de gente no ministério infantil, de irmãos ajudando na tesouraria (contagem), na música, no datashow, entre tantas outras áreas. Portanto, ore! Se envolva! E deixe o Senhor lhe usar no nosso meio!

Que Deus abençoe sua semana!!!

Com Carinho,

Pr.Sergio Dusilek

Filed under: Liderança — sdusilek @ 1:20 am  16/08/2012
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