Creio no guarda de Israel, que não dormita, testemunha
celeste de minhas madrugadas. Creio no Deus consolador, que suaviza a dor e me
consola a alma frente às amarguras e às contradições desta vida.
Creio num Deus encorajador, que me acode nos dias
sombrios, de desânimo e desapontamento. Ele levanta o caído, consola o
desesperado, salva o perdido, regula o desvairado.
Creio num Deus real, que se manifesta por seu Espírito,
sua essência – sua identidade essencial –, Ele mesmo. Não havendo outro ser
pleno e a ele correspondente exato, faz-se, Ele mesmo, “autocomunicação” no
Filho e no Espírito. É essa evidência, sustentadora da fé, cognição e experiência –
conhecimento por semelhança ou representação do objeto, e convivência, o que
torna real, quase palpável, esse objeto. Não há não-crer, quando se capta e se vive a experiência da comunhão. Só
mesmo uma graça especial torna aplicáveis os valores do divino à esfera do
humano.
À face de uma singular experiência que envolveu a perda
de bens e filhos, às dissimulações de seus amigos e à incredulidade e
insanidade da própria esposa, o resignado patriarca Jó declara: “Eu sei que o
meu Redentor vive, e que por fim se levanrará sobre a terra” (Jó 19.25). Às suas
palavras faz altissonante eco o Apóstolo Paulo: “Eu sei em quem tenho crido e
estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia”
(2Tm 1.12), depois de desfilar seus sofrimentos por causa do Evangelho. Esses
textos conferem um refrescor extraordinário à alma sofrida em meio aos revezes
existenciais.
Ilustrado e apreciado pregador, o Pastor Paschoal
Piragine declarou, em um de seus sermões: “Não dá para viver uma fé genuína sem
que nalgum momento da vida a nossa fé seja provada”. Neste espírito e nesta
consciência, Max Lucado escreveu: “Sábios são aqueles que estão acima de suas
feridas”. Adusa-se, na mesma linha de raciocínio: àqueles que são abastecidos
pela graça de Cristo, as feridas atingem-lhes o corpo sem desfigurar-lhes a
alma. Nossas virtudes interiores, geradas na comunhão do Espírito Santo, não se
deslustram por vicissitudes quaisquer da vida, mesmo as mais amargas e
depreciadoras. Lembra-nos inspirada e inspiradora letra de um hino antigo, alusivo
ao sacrifício de Cristo na cruz: “Feriram seu corpo, mas não seu amor”. Sua
alma intristeceu-se, mas seu querer restaurador não se abalou.
Assim, mantenho-me firme, nesta fé e nesta relação “divino-humana”.
Esta possibilidade é, já, produto consumado da Excelsa Graça. Minha âncora
segura.
Válter Sales, em 18.11.2015
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