sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

ORAÇÃO E A DINÂMICA DA VIDA



            Oração não é uma prática circunstancial. Oração é devoção – sentimento religioso próprio de quem vive uma experiência de caráter permanente. O substantivo fomenta o verbo devotar, de que se inferem o oferecimento em voto, a dedicação, a consagração, o tributo. Essas acepções percorreram toda a Idade Média sem descurar de seu sentido estrito, rigoroso e exato. Transcendem épocas, nutrindo a adoração de sucessivas gerações. São hoje ainda pertinentes.
            Oração é, assim, o comportamento do cristão. Independe do momento. Está no espírito da comunhão divino-humana. Pode ocorrer a qualquer hora, em qualquer circunstância, pois que é prática do espírito. Se nessa prática nós desvanecemos, nalguma ocasião, o Espírito não apenas nos induz, como nos ensina a orar da forma como convém (Rm 8.26). Fá-lo com a força das próprias entranhas, é assim que Paulo expressa seu empenho e seu afã de nos tornar orantes naturais.
            A lógica nos leva a mais uma inferência: é aí que a alma se desnuda diante de Deus. Derrama-se. Desvencilha-se de quaisquer óbices. Faz-se oblação. Permite-se perscrutar até os limites últimos. “Como poderia eu ausentar-me do teu Espírito?” – indaga o salmista Davi (Sl 139). Aquele que sonda nossos corações e pesa nosso espírito, também conhece nossos recônditos... Ele vai aonde não vamos e penetra naquilo em que nem nós mesmos nos conhecemos.
            Que nos resta, senão prostrar-nos diante dele, em absoluta e desimpedida genuflexão, sem as amarras do tempo, sem as demandas neurotizantes da vida moderna, nos grandes centros? Ora bem quem ora sempre, aquele que tem em si essa vocação. É a oração no espírito, a verdadeira oração, na qual, por vezes, o Espírito fala mais que o homem. É nesse nível de comunhão com o Altíssimo que todas as posturas formais e toda preocupação estética se diluem.
            Em suma, oração é Deus presente em nossa postura adoradora. Ninguém é solitário enquanto ora. Assim, podemos afirmar que a prática da oração não é pontual, pois é comunhão com Deus. Lembra-nos a asseveração dos chamados psicólogos da religião, que um cristão amadurecido ora não para pedir alguma coisa, mas para comungar com Deus.
            Pois, oração não pode ser prática de gente apressada..., acossada pelas circunstâncias. Orar é estar com Deus. É descansar em Deus. É debruçar-se nos braços do Senhor e aí ficar. É senti-lo num aconchego de Pai. Oração faz-se com a dinâmica da vida. É sua demanda principal.

Recife, 26.09.2015
                 Válter Sales

Um comentário:

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