Há alguns anos, em Salvador (BA), no período do meu pastorado de 27
anos na Igreja Batista da Graça, conheci uma pessoa muito especial. Não
era membro da igreja, mas passou a congregar ali e a ser atendida por
mim de uma forma também muito especial. Era tão extraordinária que a
atendia não no gabinete pastoral, mas em minha própria casa. Seu nome:
Lúcia Rocha. No nosso primeiro contato ela contou-me a história de sua
sofrida vida: havia perdido o esposo, Adamastor (proprietário da loja
mais refinada de roupas e artigos masculinos de Salvador, situada na Rua
Chile); depois perdera sua filha Ana Marcelina na adolescência, vítima
da leucemia; depois, num acidente com um elevador a outra filha, a atriz
Aneci Rocha. Fizemos uma amizade muito grande e aprendi muito com a
determinação e resistência de Lúcia, diante destas e doutras
adversidades que enfrentara como cristã evangélica.
Seu grande orgulho era o filho, Glauber Rocha, genial cineasta e
expressão maior do cinema novo, diretor de filmes instigantes como
Barravento, Deus e o Diabo na Terra do Sol, Terra em Transe, A Idade da
Terra e O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro. Era o ano de 1981 e
ele se encontrava em Portugal, adoentado e com viagem marcada de volta
ao Brasil.
Lúcia me dizia: quero que vocês se tornem amigos, vocês vão se dar
muito bem, tenho certeza. E fiquei alimentando a expectativa da chegada
de Glauber a fim de criarmos um vínculo de amizade. Para tristeza dela,
minha e de todos aqueles que amavam a qualidade da sétima arte nativa de
qualidade indiscutível, Glauber chegou morto. Era a quarta grande e
dolorosa perda de Lúcia e eu estava ali para ajudá-la a superar, com sua
fé em Deus, a morte ascendente que é sempre a morte de um filho. Ela
vivera essa dor por três vezes.
O grande gênio do cinema foi educado numa atmosfera evangélica. Por
isso, sempre que voltava a Salvador ia às origens, Vitória da Conquista,
e sempre visitava a Segunda Igreja Batista da cidade. Ao chegar ao
templo o velho pastor João Norberto já sabia que tinham de cantar o hino
preferido dele, Corajosos 469 do Cantor Cristão: Um pendão real vos
entregou o Rei a vós soldados seus. Corajosos, pois de tudo o defendei
marchando para o céu. Com valor sem temor, por Cristo prontos a sofrer.
Bem alto erguei o seu pendão, firme sempre até morrer.
Se a congregação cantava arrastado, ele reclamava e pedia que se cantasse o hino com o espírito marcial que lhe é próprio.
Glauber admirava a integridade proposta pela fé cristã, daí sua
preferência por esse hino. Não sei qual seria sua reação hoje diante do
produto da massificação evangélica onde a qualidade de vida deixa tanto a
desejar. Não sei como reagiria, por exemplo, vendo um rapaz vendendo
discos evangélicos piratas num carrinho onde, bem visível, estava
escrito: até aqui nos ajudou o Senhor. Além de cometer um crime o moço
fazia de Deus seu cúmplice. Há alguns anos não vejo Lúcia. Hoje, mesmo
com a idade avançada, 92 anos, ela preserva o acervo das obras do filho
Templo Glauber fazendo com que a memória do bom cinema brasileiro não
se perca na poeira do esquecimento. Em novembro estarei indo a Salvador,
tomara que me seja possível reencontrá-la para recordarmos os velhos
tempos e nos lamentarmos da expectativa que alimentamos e que não
conseguimos concretizar: minha amizade com Gláuber. Uma pena!
Sobre o autor:
Társis Wallace é pastor da Igreja Batista Betel, em Jaraguá
http://www.ojornalweb.com/2011/10/12/uma-expectativa-que-nao-se-concretizou-tarsis-wallace/
CorajososCantor Cristão
Um pendão real vos entregou o Rei,
A vós soldados seus!
Corajosos, pois de tudo o defendei,
Marchando para os céus!
Com valor, sem temor,
Por Cristo prontos a sofrer!
Bem alto erguei o seu pendão,
Firme sempre até morrer!
Eis formados já malignos batalhões,
Do grande usurpador!
Revelai-vos hoje bravos campeões;
Avante sem temor.
Com valor, sem temor,
Por Cristo prontos a sofrer.
Bem alto erguei o seu pendão,
Firme sempre até morrer.
Oh ! sejamos todos a Jesus leais,
E a seu real pendão
Os que na batalha sempre são fiéis
Com Ele reinarão.
Com valor, sem temor,
Por Cristo prontos a sofrer
Bem alto erguei o seu pendão,
Firme sempre até morrer
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