quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Além de cometer um crime o moço fazia de Deus seu cúmplice (Társis Wallace)



Há alguns anos, em Salvador (BA), no período do meu pastorado de 27 anos na Igreja Batista da Graça, conheci uma pessoa muito especial. Não era membro da igreja, mas passou a congregar ali e a ser atendida por mim de uma forma também muito especial. Era tão extraordinária que a atendia não no gabinete pastoral, mas em minha própria casa. Seu nome: Lúcia Rocha. No nosso primeiro contato ela contou-me a história de sua sofrida vida: havia perdido o esposo, Adamastor (proprietário da loja mais refinada de roupas e artigos masculinos de Salvador, situada na Rua Chile); depois perdera sua filha Ana Marcelina na adolescência, vítima da leucemia; depois, num acidente com um elevador a outra filha, a atriz Aneci Rocha. Fizemos uma amizade muito grande e aprendi muito com a determinação e resistência de Lúcia, diante destas e doutras adversidades que enfrentara como cristã evangélica.

Seu grande orgulho era o filho, Glauber Rocha, genial cineasta e expressão maior do cinema novo, diretor de filmes instigantes como Barravento, Deus e o Diabo na Terra do Sol, Terra em Transe, A Idade da Terra e O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro. Era o ano de 1981 e ele se encontrava em Portugal, adoentado e com viagem marcada de volta ao Brasil.

Lúcia me dizia: quero que vocês se tornem amigos, vocês vão se dar muito bem, tenho certeza. E fiquei alimentando a expectativa da chegada de Glauber a fim de criarmos um vínculo de amizade. Para tristeza dela, minha e de todos aqueles que amavam a qualidade da sétima arte nativa de qualidade indiscutível, Glauber chegou morto. Era a quarta grande e dolorosa perda de Lúcia e eu estava ali para ajudá-la a superar, com sua fé em Deus, a morte ascendente que é sempre a morte de um filho. Ela vivera essa dor por três vezes.

O grande gênio do cinema foi educado numa atmosfera evangélica. Por isso, sempre que voltava a Salvador ia às origens, Vitória da Conquista, e sempre visitava a Segunda Igreja Batista da cidade. Ao chegar ao templo o velho pastor João Norberto já sabia que tinham de cantar o hino preferido dele, Corajosos 469 do Cantor Cristão: Um pendão real vos entregou o Rei a vós soldados seus. Corajosos, pois de tudo o defendei marchando para o céu. Com valor sem temor, por Cristo prontos a sofrer. 

Bem alto erguei o seu pendão, firme sempre até morrer.

Se a congregação cantava arrastado, ele reclamava e pedia que se cantasse o hino com o espírito marcial que lhe é próprio.

Glauber admirava a integridade proposta pela fé cristã, daí sua preferência por esse hino. Não sei qual seria sua reação hoje diante do produto da massificação evangélica onde a qualidade de vida deixa tanto a desejar. Não sei como reagiria, por exemplo, vendo um rapaz vendendo discos evangélicos piratas num carrinho onde, bem visível, estava escrito: até aqui nos ajudou o Senhor. Além de cometer um crime o moço fazia de Deus seu cúmplice. Há alguns anos não vejo Lúcia. Hoje, mesmo com a idade avançada, 92 anos, ela preserva o acervo das obras do filho Templo Glauber fazendo com que a memória do bom cinema brasileiro não se perca na poeira do esquecimento. Em novembro estarei indo a Salvador, tomara que me seja possível reencontrá-la para recordarmos os velhos tempos e nos lamentarmos da expectativa que alimentamos e que não conseguimos concretizar: minha amizade com Gláuber. Uma pena!

Sobre o autor:
Társis Wallace é pastor da Igreja Batista Betel, em Jaraguá
http://www.ojornalweb.com/2011/10/12/uma-expectativa-que-nao-se-concretizou-tarsis-wallace/

CorajososCantor Cristão

Um pendão real vos entregou o Rei,
A vós soldados seus!
Corajosos, pois de tudo o defendei,
Marchando para os céus!

Com valor, sem temor,
Por Cristo prontos a sofrer!
Bem alto erguei o seu pendão,
Firme sempre até morrer!

Eis formados já malignos batalhões,
Do grande usurpador!
Revelai-vos hoje bravos campeões;
Avante sem temor.

Com valor, sem temor,
Por Cristo prontos a sofrer.
Bem alto erguei o seu pendão,
Firme sempre até morrer.

Oh ! sejamos todos a Jesus leais,
E a seu real pendão
Os que na batalha sempre são fiéis
Com Ele reinarão.

Com valor, sem temor,
Por Cristo prontos a sofrer
Bem alto erguei o seu pendão,
Firme sempre até morrer

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