domingo, 27 de março de 2016

Moisés: A fé que vence o medo (Heb.11:23-29) (Pr Sergio Dusilek)

 
Aquele que não possui qualquer tipo de medo que seja o primeiro a levantar a mão! Medo faz parte da vida. É com o medo que as seguradoras trabalham. Elas afirmam, “vai que…” “é melhor ter”. Qual é o seu medo? Diz a psicanálise que todo ser humano tem pelo menos uma fobia. Eu confesso: a minha chama-se acrofobia. E a sua?

Moisés nasceu num contexto dominado pelo medo. Se você pensa que nascer na miséria africana é um infortúnio, imagina o que foi vir ao mundo com a sentença de morte decretada. Assim como ocorreu com Jesus, Moisés sobreviveu a um infanticídio. Ele foi um exemplo vivo de que com a fé podemos vencer o medo, sair do estado de estagnação, partir para dentro de novos e maiores desafios.

1)A fé vence o medo da violência (v.23): a Palavra diz que Moisés era formoso (asteios), lindo, tinha algo diferente na sua cara. A fé que ele viveu foi a que aprendeu dos seus pais (Anrão e Joquebede). Fé que desafia as decisões de Faraó. E isso mostra o quanto uma família pode fazer por um filho… A fé que vence o medo transforma cemitérios em condutos de vida. Se no Nilo os infantes eram afogados, foi pelo rio que Moisés foi salvo. Ele calmamente flutuou pelas águas da morte. E aqui destaca-se a presença da racionalidade na fé. Um cesto foi feito. Foi por um cesto que Paulo foi salvo. Sempre haverá um cesto!!!

2) A fé vence o medo da desinstalação (v.24): já mudou de emprego, de endereço (cidade)? De igreja? Os hábitos da vida trazem um ar de segurança para nós. Por isso costumamos fazer tudo para não mudar. Moisés estava bem instalado: vivia na melhor corte e no maior palácio do seu tempo. Seu futuro, como filho adotado da filha de Faraó (Bítia/Termutis) era promissor. Mas ele se recusa a permanecer ali, antes optando por ser maltratado (synkakoucheistai). Moisés aqui novamente se assemelha a Jesus: enquanto ele renunciou a glória terrena por causa do povo, Cristo renunciou a glória do céu por causa da humanidade. Isso porquê:
2.1-um coração cheio de fé se torna ardente por justiça. Impérios são construídos sobre a injustiça. O Reino de Deus é sobre a JUSTIÇA. 2.2-o coração cheio de fé é tomado por um sentido de missão. Só diz não ao Egito quem sabe o porquê de estar aqui;  2.3-o coração cheio de fé coloca os valores espirituais acima dos materiais. Fé implica em valores altos, elevados (Is.55), que ocasiona escolhas elevadas rejeitando ora pecado, ora facilidades;

3) A fé vence o medo do desconhecido (v.27) – Moisés foi para o deserto de Midiã. Caminhar para o deserto é para quem diz que Deus tem o controle sobre sua vida. A fé que vence o desconhecido é a que nos leva para o desconhecido. E sabemos que o “desconhecido” é mais forte do que tudo que conhecemos (ira de Faraó-v.27)

4) A fé vence o medo da rejeição/solidão – já foi rejeitado? Solidão é passar pelo deserto sem Deus. E isso Moisés disse que não aceitava (Ex.33). Rejeição é o que ele achava que o esperava na volta para o Egito, 40 anos depois (Ex.4). A fé concede um discernimento tão grande da parceria com Deus, que isso se traduz em presença contínua e aceitação do Alto! Quando vencemos o medo? Quando olhamos somente para uma direção, a do Alto; quando o único olhar que cruza com o nosso é o dEle; quando nada mais rouba a nossa atenção; quando ficamos parados/”hipnotizados” contemplando a beleza do Senhor; aí venceremos o medo. Afinal, quem tem esse Pai, o que pode temer? (Rm.8:31-39)

[Pr.Sergio Dusilek]
Filed under: Estudos,Teologia — sdusilek @ 3:04 pm   11/12/2012

https://sergiodusilek.wordpress.com

sábado, 26 de março de 2016

CREIO EM DEUS





            Creio no guarda de Israel, que não dormita, testemunha celeste de minhas madrugadas. Creio no Deus consolador, que suaviza a dor e me consola a alma frente às amarguras e às contradições desta vida.

            Creio num Deus encorajador, que me acode nos dias sombrios, de desânimo e desapontamento. Ele levanta o caído, consola o desesperado, salva o perdido, regula o desvairado.

            Creio num Deus real, que se manifesta por seu Espírito, sua essência – sua identidade essencial –, Ele mesmo. Não havendo outro ser pleno e a ele correspondente exato, faz-se, Ele mesmo, “autocomunicação” no Filho e no Espírito. É essa evidência, sustentadora da fé, cognição e experiência – conhecimento por semelhança ou representação do objeto, e convivência, o que torna real, quase palpável, esse objeto. Não há não-crer, quando se capta e se vive a experiência da comunhão. Só mesmo uma graça especial torna aplicáveis os valores do divino à esfera do humano.

            À face de uma singular experiência que envolveu a perda de bens e filhos, às dissimulações de seus amigos e à incredulidade e insanidade da própria esposa, o resignado patriarca Jó declara: “Eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levanrará sobre a terra” (Jó 19.25). Às suas palavras faz altissonante eco o Apóstolo Paulo: “Eu sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia” (2Tm 1.12), depois de desfilar seus sofrimentos por causa do Evangelho. Esses textos conferem um refrescor extraordinário à alma sofrida em meio aos revezes existenciais.

            Ilustrado e apreciado pregador, o Pastor Paschoal Piragine declarou, em um de seus sermões: “Não dá para viver uma fé genuína sem que nalgum momento da vida a nossa fé seja provada”. Neste espírito e nesta consciência, Max Lucado escreveu: “Sábios são aqueles que estão acima de suas feridas”. Adusa-se, na mesma linha de raciocínio: àqueles que são abastecidos pela graça de Cristo, as feridas atingem-lhes o corpo sem desfigurar-lhes a alma. Nossas virtudes interiores, geradas na comunhão do Espírito Santo, não se deslustram por vicissitudes quaisquer da vida, mesmo as mais amargas e depreciadoras. Lembra-nos inspirada e inspiradora letra de um hino antigo, alusivo ao sacrifício de Cristo na cruz: “Feriram seu corpo, mas não seu amor”. Sua alma intristeceu-se, mas seu querer restaurador não se abalou. 

            Assim, mantenho-me firme, nesta fé e nesta relação “divino-humana”. Esta possibilidade é, já, produto consumado da Excelsa Graça. Minha âncora segura.
                                                                      
Válter Sales, em 18.11.2015