terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Você conhece alguém que precisa ir ao Deserto? (Ito Siqueira)


Normalmente quando ouvimos a palavra Deserto imediatamente nos remetemos a algo seco, sem vida, isolado de tudo e todos... um lugar de sofrimento.  Conforme está escrito em Lucas 4:1-2 “Jesus, pois, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e era levado pelo Espírito no deserto, durante quarenta dias, sendo tentado pelo Diabo. E naqueles dias não comeu coisa alguma e terminados eles, teve fome.”

Jesus, logo após ter sido batizado foi levado pelo Espírito ao Deserto. Às vezes pensamos no Deserto como um lugar onde temos que ir quando estamos com as “baterias descarregadas”, ou quando fazemos algo de errado e somos levados ao deserto como um castigo. Jesus foi conduzido ao Deserto pelo Espírito e a Palavra revela que ele estava cheio do Espírito.

O Deserto é um lugar onde buscamos ouvir os ensinamentos do Senhor, mesmo quando tudo vai bem. Muitas vezes pensamos que o Diabo vai nos tentar se não estivermos na Presença de Deus, se nos afastarmos dos Caminhos do Senhor. Na verdade quem está afastado do Senhor não faz parte das investidas do Diabo.

Quanto mais fortes e próximos da Santa Presença de Deus, maiores serão as tentativas do Diabo contra nossa vida. A maior prova disso foi a ação do Diabo em tentar induzir Jesus a cometer um pecado. O Diabo teve a petulância, a ousadia de provocar o próprio filho de Deus, porque não fará de tudo para nos afastar dos caminhos do Pai?

Quem de nós, tendo fome, e tendo poderes, não transformaria pedras em pães? Jesus resistiu. Mesmo quando estamos fortes no Senhor podemos apresentar fraquezas, e é justamente nessas fraquezas que o Diabo vai atacar. Quando nos fortalecemos espiritualmente pensamos que os ataques do inimigo virão nessa área, mas o Diabo é sutil e ataca em áreas que não estão relacionadas com a vida espiritual. 
Jesus teve fome, como todo ser humano, após 40 dias sem o alimento, o corpo solicitou reforço. Sentir fome é um estado que aproxima a pessoa de Jesus, a nós, meros mortais. Jesus veio ao mundo como homem, ser humano. A busca pelo fortalecimento no Deserto é a prova disso. Ele estava cheio do Espírito e foi fortalecer-se no Deserto, essa deve ser a nossa prática. Erramos por acharmos que estamos plenos, cheios do Espírito, que não precisamos entrar no Deserto.

O Deserto é um lugar de fortalecimento, saímos mais fortes do Deserto, mas podemos deixar brechas em áreas de nossas vidas e é nelas que o Diabo ataca. Pode ser uma doença na família, uma necessidade financeira, um sonho não realizado... qualquer coisa que desvie do foco da Vontade de Deus. Jesus estava se preparando no Deserto para iniciar seu ministério na terra, naquele momento as necessidades pessoais eram segundo plano. Apesar de Jesus ter saído com uma fraqueza do Deserto, Ele estava forte o suficiente para conviver com a fraqueza durante a sua tentação. O Deserto é um lugar de renovação das forças.

Para onde leva o Deserto? Encontro, esse deve ser o propósito do Deserto. No Deserto deve-se estar, sempre a sós, nunca sozinho. O objetivo no Deserto é estar na presença de Deus. Você conhece alguém que precisa ir ao Deserto? Espero que, nesse momento, você esteja de frente ao espelho e possa olhar nos seus próprios olhos e responda: EU!

Lembre-se de que, como afirma Paulo, “o poder se aperfeiçoa na fraqueza”, de tal forma que “quando sou fraco então é que sou forte (2Co 12:9 e10). Passe pelo Deserto e renove suas forças em Cristo.

Ito Siqueira

itosiqueira@hotmail.com

http://itonasmaosdedeus.blogspot.com.br/2015/11/voce-conhece-alguem-que-precisa-ir-ao.html 

domingo, 27 de dezembro de 2015

Áudio - Pr. Válter Sales: A vida passa


O QUE É BOM PARA O REINO (Pr. Sérgio Dusilek)


Tenho ficado surpreso com a miopia espiritual de “respeitados líderes”. Gente boa que prega a Palavra de Deus, mas que tem uma visão distorcida do que é Reino de Deus. Gente que mistura conceitos como instituição terrena e Reino. Gente que unifica coisas absolutamente distintas, que se tocam, mas que mantém sua singularidade. 

Pois é justamente na hora do flagrante, da exposição midiática  que essa miopia se manifesta. Segundo esses lideres bom para o Reino é que não aconteça nenhuma divulgação na imprensa das vísceras de comportamentos chocantes até mesmo para a sociedade secular. Bom para esse tipo de liderança é manter as coisas contidas do lado de dentro, como se alguém que fosse legitimamente do Reino pudesse aguentar conviver com algo tão mau cheiroso. É por isso que algumas igrejas (falo aqui como instituições) se tornaram “arcas de Noé” : as pessoas só ficam com o mau cheiro de dentro por causa do medo da morte que há do lado de fora. Ora, o que choca o mundo pervertido não deveria também causar espécie no ambiente sacro-santo da igreja? Por que então acobertar ou fingir que o problema não existe?

Bom para o Reino é o que está ligado a Verdade, Luz e Justiça. O que é injusto, que fica velado por medo de “escândalo”, acaba segundo os critérios do próprio Reino, se tornando mais escandoloso ainda. Péssimo para o Reino é quando uma mentira passa a ser tolerada ou até mesmo veiculada para que haja  acobertamento do erro. O Novo Testamento mesmo assevera por diversas vezes (Mt.12, I Cor.4) que as coisas encobertas serão reveladas. No entendimento dos Inspirados autores, a Luz provoca manifestação e não ocultação. Significa dizer que a LUZ do Senhor não deve ficar escondida, sob as trevas (Mt.5:12; I Joao 1:5; Joao 9), até mesmo porque onde há trevas  não brilha a Luz do Senhor. A Luz do Senhor não pode ser contida.

Outro erro que se comete, em nome do que é bom para o Reino relaciona-se a uma confusão conceitual.  O escândalo não é a exposição. Ele ocorre, isso sim, antes da mostra pública. Escândalo  é algo triste, mas inevitável segundo o próprio Jesus (Mt.18.7). Por isso é que a falta de exposição de um escândalo não faz com que ele deixe de existir. Pelo contrário! Pode ser que ele persista e que o motivo do erro ganhe novos contornos e alcance novas vítimas. É duro dizer e constatar, mas alguns problemas só são resolvidos quando as vísceras ficam à mostra. Algumas mentes perniciosas, alguns indivíduos perversos só param uma vez descobertos e expostos. Só buscam ajuda, tratamento e correção uma vez que são indiscutivelmente pegos. Nesse sentido a exposição faz bem ao Reino de Deus pois joga LUZ sobre o pecado.

Postulo aqui, portanto, que não é a ausência de mídia numa situação que traz benefício. A grande mídia do  mundo antigo, a Palavra de Deus, sempre expôs os erros dos grandes heróis da fé. Verdade é que temos de lutar para viver de modo correto, sem provocar escândalo, conquanto saibamos que eles virão. E quando vierem, se tiverem de ser expostos, que sejam. Se esse é o tratamento de Deus para uma situação, que receba toda a dose do céu. O medo que temos de ter não é da imprensa; nosso pavor deve ser do pecado, do erro. Alias John Wesley já dizia que se dessem a ele 100 pessoas que não temessem nada mais que o pecado e que não amassem nada mais a Palavra de Deus, que ele mudaria o mundo. 

Bom para o Reino, enfim, é tudo aquilo que tem a ver com o caráter de Deus. Esconder, ocultar o pecado (pessoal ou alheio – Sl.51; I Cor.5) nada tem a ver com Jesus. Ele tratou de pecadores. Ele os curou e salvou. Leia os evangelhos e veja como a Graça de Deus se manifestou na vida das pessoas. Mas aos hipócritas (gente que camuflava os seus erros) nada pôde fazer. Por isso, não tenha medo de imprensa meu caro líder. Deixe rolar, se tiver que aparecer. Tenha, isso sim, pavor de deixar viver a Verdade, a Justiça e a Luz do Reino. Bom para o Reino é viver o caráter de Cristo.

Abração,

Pr.Sergio Dusilek


Filed under: Liderança,Teologia — sdusilek @ 11:46 am  19/10/2010

https://sergiodusilek.wordpress.com

sábado, 19 de dezembro de 2015

Marchem!




                                                                       Por que clamas a mim? Ordena aos filhos
                                                                       de Israel que marchem. (Êx 14.15).

           
Uma súplica num momento grave, seguida de uma resposta precisa – o afã  divino para a nossa vida –, numa circunstância difícil, dessas para as quais só Deus tem a solução. A exortação é seguida de uma promessa do Divino: “O Senhor guerreará por vós. Por isso, acalmai-vos” (14). Interessante a versão bíblica King James, de 1611, tradução atualizada em 2002, que grafa: “Por que clamas por mim? Dize aos filhos de Israel que marchem avante!”. Lembra-me minha mãe, D. Maria Siqueira, uma senhora simples e de porte grave, do alto de seus 92 anos, que costumava dizer: “Meu filho, pra frente é que se anda!”.  Na BKJ, o verso 14 traz um significativo acréscimo: “... acalmai-vos e ficai calados!”. Em nossa relação com o Absoluto, parece claro que o silêncio é melhor indicador de boa postura que uma falação desenfreada, por vezes inconsequente. Da sabedoria de Salomão inferimos que “há tempo de ficar calado e tempo de falar” (Ec 3.7). Enquanto Deus peleja por nós, é tempo de ficar calado. Tempo de ouvir. A voz do Senhor é poderosa, cheia de majestade, diz o belo Salmo 29, verso 4, da lavra do mavioso cantor Davi. Ouvi-la sempre é o que devemos fazer, sob sua égide e em plena sintonia com Ele, para que a comunicação se faça de todo e em tudo.

A passagem pelo Mar Vermelho é a travessia da condição de uma escravidão quadricentenária para uma nova condição, não só de liberdade, mas de uma existência nova, com implicações e exigências bem peculiares a um filho de Deus, que deve saber onde deverá pôr o pé. Não é natural pensar-se numa relação especial com Deus sem uma travessia radical na vida. Israel migrou de uma civilização bem sólida e antiga para uma experiência no deserto. Deserto de tudo, menos da liderança de Moisés e da presença de Deus. Tudo é novo! Há um ineditismo por vezes chocante e desafiador. Não há habitação, nem pão, nem água e, para alguns, nem mesmo sepulturas que acomodassem sua perspectiva de morte iminente.

Para Deus, entretanto, e que se tornou real na peregrinação israelita, o inédito não é desprovido do novo; nem na perspectiva do Eterno há novo e velho: tudo se faz um presente eterno. O tudo é o sempre. O pão vem do céu. A água brota de uma rocha.  O deserto é pleno de tudo. Dele brota e nele se nutre a esperança. O deserto traduz a presença de Deus. O deserto é a voz providencial do Todo-Poderoso.

Prefigurações indesconfiáveis! O pão, mais que o maná que perecia ao final do dia, é eterno – “Eu sou o pão da vida; quem vem a mim jamais terá fome...”      (Jo 6.35). Há notável alcance nas palavras do Cristo. Ao tempo em que fala de pão, fala igualmente de água – “... e quem crê em mim jamais terá sede”. Há um todo embutido na pessoa de Jesus e em suas palavras – pão e água se complementam, pois que são a mesma vida. Bem asseverou o Apóstolo Paulo, em Cl 3.11, ressalvando-se os desvios interpretativos, que “Cristo é tudo em todos”. Em Cristo todas as barreiras são vencidas. As águas de Meribá, em Refidim, conquanto jorrassem de forma abundante e sempre, seriam nada mais que matéria líquida; mas seriam, também, eloquente figura daquele que disse: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é o que te diz: Dá-me um pouco de água, tu lhe pedirias e ele te daria água viva (...) Quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede (...) ela se tornará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna” (Jo 4.10, 14).

E a rocha? Esta é Cristo mesmo, simbolicamente Cristo, mais que aquele bloco sólido do deserto, sujeito a mutações naturais e ao peso irrefragável do tempo a impor-lhe alterações e, até, a extinção. Feri-la, como o fez o indignado Moisés, equivale a ferir a face do Cristo de Deus, como (e quão grave é isso!), no deserto, as tábuas da Lei, arremessadas sobre o bezerro de ouro, podem indicar que a Lei fora, antes, quebrada no coração do povo. O Cordeiro de Deus seria demolido na ignominiosa cruz, aos olhos de seus algozes. Mas só a essa percepção. Não como projeto eterno do Senhor e aos olhos da genuína fé. Cristo, a Rocha, é eterno.

As tempestades do deserto são avassaladoras, no deserto; não em nossa vida, que, por vezes, assume perfis desérticos. No deserto, Deus estava com o povo. Na vida, Deus está conosco. O deserto não é desesperador quando sabemos que Deus está conosco. Nem ainda as turbulências da saída do Egito, as idas e vindas faraônicas, a confrontação tenebrosa com o mar e as incertezas do porvir. Deus fende o mar e abre caminho por um deserto desconhecido. Marchar é a ordem – “Por que clamas a mim? Ordena aos israelitas que marchem”. Vão em frente!     Eu estou no comando. Isso basta! Não há de haver temor num espaço de todo ocupado pela fé.

O deserto é confiável. A caminhada é segura. O destino está traçado. Que o povo vá, que a vida vá, que a fé se imponha, como “garantia do que se espera e prova do que não se vê” (Hb 11.1), mas garantia e prova!

Portanto, “aquietai-vos e sabei que eu sou Deus” (Sl 46.10). Ou no marcante testemunho do patriarca Jó, ao pedir perdão a Deus por sua tibiezas (Jó 42.2 BKJ) – “Sei que podes realizar tudo quanto desejares; absolutamente nenhuma das tuas ideias e vontades serão frustradas!”.

“Aquietai-vos...” – marchar pelo deserto é ocupar-se da vida.


                                   Recife, 19 de Dezembro de 2015
Pastor Válter Sales

Texto dedicado ao meu genro, Ito. Natal de 2015.