“O Senhor, meu Deus, derrama luz
nas minhas
trevas” (Sl 18.28).
Então não há trevas, pois que a elas
se impõe a luz do Senhor. Mas a asseveração é de que há trevas, como há luz. As
trevas, entretanto, não se fazem sobrepujança à divina luz. Aquelas turvam a
vida; esta ilumina. Quem está na luz não anda em trevas e seus frutos podem ser
vistos. Na linguagem poética de Davi, “Das trevas fez (Deus) um manto em que se
ocultou; (...) escuridade de águas e espessas nuvens dos céus eram o seu
pavilhão” (Sl 18.11). São utilitárias – isso não as qualifica –, apenas mostra
que há algo maior: “Do resplendor que diante dele havia, as densas nuvens se
desfizeram em granizo e brasas chamejantes” (12).
Davi também declamou: “Fazes
resplandecer a minha lâmpada; o Senhor, meu Deus, derrama luz nas minhas
trevas” (28). Em circunstâncias tais e dessa monta, o que predomina mesmo é a
luz. Tudo aponta para a bondade do Senhor em relação aos seus filhos. Davi
descreve essa relação benfazeja e multíplice – “Para com o benigno, benigno de
mostras; com o íntegro, também íntegro. Com o puro, puro te mostras; com o
perverso, inflexível. Porque tu salvas o povo humilde, mas os olhos altivos, tu
os abates” (25-27). Graça e Justiça se mesclam. Coerência!
Dir-se-á que há entre o homem e o
seu Deus uma relação de dependência e cumplicidade. Longe, contudo, muito
longe!, de ser uma negociata, uma barganha. Um como “toma
lá, dá cá”não faz uma política apreciável, nem uma teologia digna de ser assim
chamada. A graça doadora de Deus é muito mais que donativos estanques ou
ocasionais. A graça de Deus transcende a esses expedientes e não se imiscui em
incoerentes convenções. Verdadeiramente, o que temos e o que somos constituem,
já, um débito para com Deus.
Mas, não ignoremos, numa palavra ou
raciocínio rápido, a realidade das trevas. Elas aí estão, com reconhecida
capacidade de opacificar a luz em nosso viver. Basta não olhar para a luz e as
trevas logo se instalam em nossa vida, sorrateiras, insinuantes, sedutoras. O
de que um filho de Deus precisa é andar na luz, de uma forma que equivalha a
viver na luz. Então, o perigo se diluirá, porque as travas não podem com a luz.
Luz nas trevas? Não. Apenas luz,
porque as trevas já não são. Quem anda na luz não se confunde, não tropeça. Ao
contrário daqueles que se põem num caminho em que nada veem ou o que veem não
entendem, por pura ingenuidade. Não convém que assim ocorra. Um simples tropeço
pode resultar numa queda fragorosa. Que fazer, afinal? Simplesmente andar na
luz.
Recife,
19.07.2013
Válter Sales